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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Projeto da Fiocruz de vacina contra a esquistossomose é selecionado pela OMS

O projeto da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) para o desenvolvimento da vacina contra a esquistossomose é um dos sete selecionados para ser incluído pela Organização Mundial da Saúde no grupo de projetos prioritários para ser apresentado à Assembleia Mundial da Saúde, que ocorrerá em maio.
 
Uma conquista da Fiocruz no campo de inovação em saúde, o projeto de desenvolvimento da vacina é baseado na molécula Sm14 – obtida a partir do Schistosoma mansoni, agente causador da enfermidade -, e foi isolado pela Fiocruz na década de 1990.
 
Na avaliação da pesquisadora da Fiocruz, Miriam Tendler, do Laboratório de Equistossomose Experimental do instituto e líder da pesquisa, o fato do projeto ter sido escolhido pela OMS decorreu do reconhecimento da importância da descoberta da vacina no combate às doenças endêmicas nos países pobres e em desenvolvimento e na melhoria da qualidade de vida das populações desses países.   
 
“Não trata-se de apenas mais uma simples descoberta. Se fosse apenas isso - uma coisa acadêmica e científica – ele [o projeto] não estaria no programa da OMS. O mérito do projeto é garantir aos países que precisam acessibilidade à viabilidade e à qualidade de uma vacina humanitária. Não adianta você gastar uma fortuna, ter uma tecnologia e os países que precisam não ter acesso à ela”.
 
Em entrevista à Agência Brasil, a pesquisadora ressaltou o fato de que o Brasil foi, até agora, o único país incluído com este tipo de experiência neste projeto. “Ter reconhecido e selecionado um produto do Brasil para um programa que não é regular, ter reconhecido a sua importância para as populações pobres do Brasil e da África é de grande importância para o país. É a primeira vez que isto ocorre dentro da OMS - não é uma rotina”.
 
O anúncio da indicação do projeto da Fiocruz como um dos sete selecionados pela OMS e que serão apresentados na próxima Assembleia Mundial da Saúde foi feito no final de janeiro pelo Conselho Executivo da organização. Concorriam 22 projetos, dos quais sete foram selecionados.
 
Os projetos demonstrativos submetidos à OMS deveriam ter como objetivo o desenvolvimento de tecnologias em saúde (medicamentos, diagnósticos, vacinas, entre outros) voltadas a doenças que afetam de forma desproporcional países em desenvolvimento, onde as lacunas no campo de pesquisa e desenvolvimento permanecem sem solução devido a falhas do mercado. As propostas, enviadas pelas seis regiões da OMS, deveriam demonstrar alternativas no uso da pesquisa e desenvolvimento que levem a resultados concretos de inovação.
 
“Foram aprovados sete projetos nos quais o Sm14 se destaca muito. Porque os outros projetos são mais de organização, de metodologia e logística,  de levantamento de dados e de rastreamento. Tem um para leishmaniose, diagnóstico de estados febris, rastreamento de todos os genomas de parasitas - são projetos mais amplos e menos direcionados como o nosso”, disse.
 
Em sua avaliação, “o Brasil está diante de uma oportunidade inédita para exercer um papel fundamental de gerar e atender a demandas tecnológicas que beneficiem diretamente os países endêmicos das doenças parasitárias, que não estão inseridas no cenário dos mercados comerciais explorados pelas indústrias”.
 
Miriam Tendler salientou que o país tem um parque científico bastante grande, com reconhecimento internacional, mas com baixíssima produção tecnológica. “Temos no país um parque científico bastante grande, com reconhecimento internacional, mas com baixíssima produção tecnológica. Temos tido  um avanço muito grande na ciência, mas há ainda dificuldade em transformar essa ciência de boa qualidade em produto”, admitiu.
 
A vacina para esquistossomose, desenvolvida e patenteada pelo IOC/Fiocruz, é o primeiro imunizante para a doença no mundo. O projeto finalizou, no ano passado, a etapa de testes clínicos de fase 1, em seres humanos, que mostraram segurança e eficácia de proteção contra a doença. Para sua produção, os pesquisadores utilizaram a proteína Sm14 – obtida do Schistosoma mansoni, agente causador da enfermidade –, isolada no instituto ainda na década de 1990.
 
Segundo a Fiocruz, o imunizante também se mostrou eficaz para a fasciolose (verminose que afeta o gado), além de abrir espaço para o desenvolvimento de vacinas voltadas a outras doenças humanas provocadas por helmintos.
 
O modelo de pesquisa da Sm14 é também inédito na Fundação, pois é fruto da primeira parceria público-privada desenvolvida pela instituição, firmada com a empresa Ourofino Agronegócios. O anúncio da eficácia e segurança da vacina foi feito em junho do ano passado. O estudo foi apoiado financeiramente pelo IOC e pelos mecanismos de financiamento de pesquisas científicas como Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), entre outros.
 
Agência Brasil

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