O projeto da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) para o desenvolvimento
da vacina contra a esquistossomose é um dos sete selecionados para ser incluído
pela Organização Mundial da Saúde no grupo de projetos prioritários para ser
apresentado à Assembleia Mundial da Saúde, que ocorrerá em maio.
Uma conquista da Fiocruz no campo de inovação em saúde, o projeto de
desenvolvimento da vacina é baseado na molécula Sm14 – obtida a partir do
Schistosoma mansoni, agente causador da enfermidade -, e foi isolado pela
Fiocruz na década de 1990.
Na avaliação da pesquisadora da Fiocruz, Miriam Tendler, do Laboratório de
Equistossomose Experimental do instituto e líder da pesquisa, o fato do projeto
ter sido escolhido pela OMS decorreu do reconhecimento da importância da
descoberta da vacina no combate às doenças endêmicas nos países pobres e em
desenvolvimento e na melhoria da qualidade de vida das populações desses
países.
“Não trata-se de apenas mais uma simples descoberta. Se fosse apenas isso -
uma coisa acadêmica e científica – ele [o projeto] não estaria no programa da
OMS. O mérito do projeto é garantir aos países que precisam acessibilidade à
viabilidade e à qualidade de uma vacina humanitária. Não adianta você gastar uma
fortuna, ter uma tecnologia e os países que precisam não ter acesso à ela”.
Em entrevista à Agência Brasil, a pesquisadora ressaltou o
fato de que o Brasil foi, até agora, o único país incluído com este tipo de
experiência neste projeto. “Ter reconhecido e selecionado um produto do Brasil
para um programa que não é regular, ter reconhecido a sua importância para as
populações pobres do Brasil e da África é de grande importância para o país. É a
primeira vez que isto ocorre dentro da OMS - não é uma rotina”.
O anúncio da indicação do projeto da Fiocruz como um dos sete selecionados
pela OMS e que serão apresentados na próxima Assembleia Mundial da Saúde foi
feito no final de janeiro pelo Conselho Executivo da organização. Concorriam 22
projetos, dos quais sete foram selecionados.
Os projetos demonstrativos submetidos à OMS deveriam ter como objetivo o
desenvolvimento de tecnologias em saúde (medicamentos, diagnósticos, vacinas,
entre outros) voltadas a doenças que afetam de forma desproporcional países em
desenvolvimento, onde as lacunas no campo de pesquisa e desenvolvimento
permanecem sem solução devido a falhas do mercado. As propostas, enviadas pelas
seis regiões da OMS, deveriam demonstrar alternativas no uso da pesquisa e
desenvolvimento que levem a resultados concretos de inovação.
“Foram aprovados sete projetos nos quais o Sm14 se destaca muito. Porque os
outros projetos são mais de organização, de metodologia e logística, de
levantamento de dados e de rastreamento. Tem um para leishmaniose, diagnóstico
de estados febris, rastreamento de todos os genomas de parasitas - são projetos
mais amplos e menos direcionados como o nosso”, disse.
Em sua avaliação, “o Brasil está diante de uma oportunidade inédita para
exercer um papel fundamental de gerar e atender a demandas tecnológicas que
beneficiem diretamente os países endêmicos das doenças parasitárias, que não
estão inseridas no cenário dos mercados comerciais explorados pelas
indústrias”.
Miriam Tendler salientou que o país tem um parque científico bastante grande,
com reconhecimento internacional, mas com baixíssima produção tecnológica.
“Temos no país um parque científico bastante grande, com reconhecimento
internacional, mas com baixíssima produção tecnológica. Temos tido um avanço
muito grande na ciência, mas há ainda dificuldade em transformar essa ciência de
boa qualidade em produto”, admitiu.
A vacina para esquistossomose, desenvolvida e patenteada pelo IOC/Fiocruz, é
o primeiro imunizante para a doença no mundo. O projeto finalizou, no ano
passado, a etapa de testes clínicos de fase 1, em seres humanos, que mostraram
segurança e eficácia de proteção contra a doença. Para sua produção, os
pesquisadores utilizaram a proteína Sm14 – obtida do Schistosoma mansoni, agente
causador da enfermidade –, isolada no instituto ainda na década de 1990.
Segundo a Fiocruz, o imunizante também se mostrou eficaz para a fasciolose
(verminose que afeta o gado), além de abrir espaço para o desenvolvimento de
vacinas voltadas a outras doenças humanas provocadas por helmintos.
O modelo de pesquisa da Sm14 é também inédito na Fundação, pois é fruto da
primeira parceria público-privada desenvolvida pela instituição, firmada com a
empresa Ourofino Agronegócios. O anúncio da eficácia e segurança da vacina foi
feito em junho do ano passado. O estudo foi apoiado financeiramente pelo IOC e
pelos mecanismos de financiamento de pesquisas científicas como Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep), entre outros.
Agência Brasil
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