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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Dieta das crianças e adolescentes para emagrecer é menos restritiva do que a dos adultos

Foto: Reprodução
As mudanças de hábitos alimentares devem ser adotadas por toda a família e não apenas pelo jovem
 
Por Amanda Epifânio Pereira
 
A crescente epidemia de obesidade no mundo atinge de forma bastante grave a infância e adolescência. No Brasil o excesso de peso infantil triplicou nos últimos 20 anos, hoje estima-se que 30% das crianças e adolescentes brasileiros estejam acima do peso. Junto com esses números, acompanhamos em paralelo o aumento de doenças de adultos cada vez mais presente em nossas crianças como o diabetes tipo 2, pressão alta e até mesmo gordura no fígado. 
 
Esses dados alarmantes mudaram completamente a forma de tratar esse grupo e ainda representam um grande desafio para os profissionais de saúde envolvidos em seu tratamento. Até muito pouco tempo atrás, não se propunha perda de peso para crianças ou adolescentes que ainda não tinham entrado no estirão de crescimento. Acreditava-se que a restrição calórica pudesse influenciar negativamente o desenvolvimento adequado desse grupo. 
 
Atualmente, sabemos que o excesso de peso sim pode influenciar negativamente o desenvolvimento adequado das crianças e pode, inclusive, antecipar a puberdade. Todo esse conhecimento trouxe a confiança de recomendar dietas com privação calórica. Mas esse é um processo que exige cautela. A restrição de energia deve ser adequadamente calculada para que as crianças recebam energia suficiente para garantir seu crescimento. Essa é uma fase em que dietas da moda ou sem orientação médica e nutricional podem comprometer a saúde de forma irreversível, influenciando o desempenho cognitivo e estatura final. 
 
O desafio maior esta em conseguir alimentar adequadamente crianças e adolescentes. Essa é uma fase da vida onde os hábitos alimentares ainda não estão completamente formados e, o pior, é muito provável que eles tenham sido alimentados desde pequenos com alimentos altamente calóricos, ricos em açúcar ou sal e com muita gordura. Um paladar construído a partir de sinalizações tão intensas não consegue mudar rapidamente. Esse já é um processo difícil para adultos que tem a compreensão real dos riscos, para crianças que não entendem esse conceito de saúde, e ainda, para adolescentes naturalmente rebeldes, é praticamente impossível recriar novos hábitos. O que torna o processo de emagrecimento muito mais difícil para crianças e adolescentes do que para adultos. 
 
Nessa fase da vida as negociações são mais importantes. Não se proíbe fast food, se negocia quantas vezes na semana é possível consumir tais alimentos. Assim como, não se obriga o consumo de frutas e verduras, mas cria-se um vinculo capaz de fazer com que pelo menos uma vez por semana esses alimentos façam parte da dieta regular. Como essa é uma fase de crescimento estatural, que contribui muito para o alcance do peso ideal, pode-ser ter muito mais concessões alimentares, facilitando o seguimento do tratamento. 
 
Não são tarefas simples, é preciso habilidade para lidar com esse publico e a adesão familiar é fundamental para que, aos poucos, o jovem possa mudar seu comportamento alimentar. Quando há uma criança em tratamento em casa, mesmo que haja outras com peso normal, a regra alimentar deve sempre ser baseada na dieta privativa. Todos, inclusive os pais, devem passar pelas mesmas privações. Isso significa que toda a família esta em tratamento, não apenas a criança. Esse talvez represente o maior desafio dos profissionais de saúde, convencer os familiares que eles também precisam mudar seus hábitos.  
 
No que diz respeito especificamente à nutrição dos jovens, alguns alimentos são essências e precisam entrar na alimentação cotidiana. Um dos mais importantes é o leite, fonte principal de cálcio, fundamental para crescimento. Não há nenhum risco em oferecer leite desnatado, esse preserva os nutrientes importantes e só não contem grande quantidade de gordura. Receitas atrativas como leite batido com frutas, que lembre um milkshake, podem ajudar no processo de reintrodução do leite ao hábito cotidiano. Esse é um alimento cada vez mais escasso na alimentação de crianças e adolescentes, sendo fartamente substituído por sucos de fruta ou soja artificiais, que além de não oferecerem ao organismo em formação nutrientes essenciais, essas bebidas são ricas em açúcar e estão no topo dos alimentos responsáveis pela epidemia de ganho de peso. 
 
Carnes de forma geral, (bovinas, suínas, frango e peixe) também são importantes para o crescimento e desenvolvimento. Mas muitas crianças tem preguiça de mastigá-las e apresentam certa repulsa ao consumo. 
 
A tendência dos pais nesses casos é substituir por carnes processadas como hambúrgueres e nuggets, esses rapidamente aceitos pelos pequenos, normalmente macias e muito saborosas. Infelizmente, também é comum encontrar em cardápios escolares essa substituição. Pelo menos uma vez por semana é servido salsicha ou nuggets. Esses produtos, além de altamente calóricos, não são fontes de nutrientes importantes como ferro e zinco. 
 
Não tem sido raro encontrar crianças acima do peso com anemia, o que influencia seu desempenho escolar e desenvolvimento. No processo de emagrecimento de crianças e adolescentes é preciso descobrir qual mecanismo mais aceito para que as carnes possam ser introduzidas nas refeições desse grupo. Lanches preparados com hambúrguer caseiro pode ser uma alternativa. 
 
As vitaminas e minerais também são importantes e muitos produtos infantis são suplementados com todos eles. Essa não é forma mais adequada de oferecer todos esses nutrientes aos nossos jovens, mas é de grande valia até que os hábitos alimentares mudem. 
 
Cuidar de criança e adolescente é realmente um processo muito desafiador, mas essa é uma briga necessária e os frutos colhidos representam a formação de uma geração saudável capaz de evitar obesidade em seus filhos. 
 
Minha Vida

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