Nelson Batista
Relatos de adolescentes grávidas revelam violência psicológica
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Relatos de 36 adolescentes grávidas atendidas ao longo de três meses no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP) revelam a rotina de vítimas de violência psicológica. O trabalho faz parte da pesquisa “Compreendendo e Analisando as Adolescentes Grávidas Vítimas de Violência Intrafamiliar em São Paulo”, conduzida pela professora Dora Barrientos, do curso de Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP).
"Ela (mãe) chorou, me xingou, só não me deu na cara. Mas foi horrível. Ela (mãe) me expulsou tem uns dois meses. Por causa da criança... Simplesmente ela pegou a minha roupa que 'tava' no quarto andar e jogou da janela. Simplesmente", afirmou a adolescente R, em seu relato.
Entre as 61 jovens entrevistadas para a pesquisa, 36 foram vítimas de violência. A maioria - 29 - sofreu violência psicológica, doze sofreram violência institucional, cinco violência física, quatro foram vítimas de violência moral e três, de violência sexual. No caso da violência psicológica, a mãe, o pai e o companheiro foram os principais agressores.
"Ele (tio) sempre foi agressivo, mas depois da minha gravidez ele piorou… ele me agride com palavras, fala que bem feito que engravidei, vou ser mãe solteira e ‘mateus que pariu que o balance’. Fica mandando minha mãe me expulsar de casa, essas coisas assim", disse outra entrevistada para a pesquisa.
“A violência psicológica, mesmo não deixando marcas visíveis, afeta significativamente aquele que vivenciou este tipo de violência. As mulheres por estarem grávidas se encontram em um estado ainda mais suscetível e vulnerável, momento em que precisam de maior cuidado e dedicação por parte da família e do companheiro”, diz a pesquisadora. Segundo ela, as adolescentes têm dificuldade em se reconhecer como vítimas de violência psicológica.
De acordo com o estudo, o apoio que a jovem recebe da família e do pai biológico da criança está intimamente ligado ao significado que ela dá à maternidade. “O medo da reação dos pais, a falta de apoio familiar e o abandono do parceiro podem gerar uma insatisfação da adolescente frente à gestação, manifestando-se por desprazer, insegurança, medo e angústia”, afirma Barrientos.
"Isso, ela (mãe) falou pra mim ir embora de casa. Que quando minhas irmãs engravidaram, todas elas eram de menor e ela mandou embora, aí ela tem que continuar a tradição, como diz ela", revelou outra menina.
As jovens entrevistadas eram paulistas, tinham idade média de 17 anos e renda média per capita de R$ 474,95. Quase a totalidade (95%) era branca ou parda, 90%, solteira, 54,1% com nível médio de escolaridade e 62,5% residiam em moradias próprias, com acesso a serviços básicos como água, luz, esgoto e coleta de lixo.
iG
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