A cena é familiar para você? |
Estava no cinema esperando pelo início do filme, divertindo-me com a minha pipoca, observando as pessoas que entravam na sala, quando, logo à minha frente, atentei-me a um casal.
Meus olhos foram capturados pela tela do celular dele que, muito atentamente, desviava seus personagens dos obstáculos à sua frente em um joguinho bastante hipnotizante.
Ao lado dele estava sua mulher, o que presumi ao reparar a aliança.
Eram jovens, sentados um ao lado do outro, esperando pelo filme em uma sala escura de cinema. Ele ao celular, e ela também, ao que me pareceu milhas e milhas distantes um da atenção do outro.
Pensei: o que havia acontecido com o romantismo e a sensualidade de uma sala escura de cinema?
As luzes diminuíram ainda mais, anunciando o início do filme. O casal desligou seus respectivos celulares, mas as distâncias se mantiveram. Ela com os braços encolhidos de frio, e ele com os seus cruzados.
Muitos pontos me deixaram curiosa naquela cena. O que havia acontecido com aquele casal para que eles não aproveitassem a cumplicidade e a sensualidade que as salas escuras de cinema despertam em muitos amantes? E porque o celular ganhava destaque aos olhos daquele homem e não os beijos e amassos de sua mulher?
Pesquisando sobre o assunto, me assustei: um recente estudo apontou que um em cada dez americanos não desgruda de seu precioso celular mesmo na hora do sexo.
Em números, 9% dos entrevistados admitem usar o celular enquanto transam; 12%, durante o banho; 19%, na igreja; 33%, em um jantar romântico; e 35%, dentro do cinema.
Outro dado importante é que 72% dos pesquisados disseram não conseguir ficar a mais de um metro do smartphone durante muito tempo, e que preferem um final de semana sem sexo a não ter seu fiel escudeiro ao lado.
Pensei então a seguinte cena: um casal aos beijos na cama quando o celular toca. Será o dela? Ou o dele? Quem estará ligando àquela hora? O mais carnal (ou talvez normal?) a pensar, hombres, é que o viciante toque daquele aparelho seria esquecido em meio às calientes carícias.
Mas não!
Até mesmo criou-se um nome para isso: apresento-lhes a NOMOFOBIA (“no mobile phone phobia”).
A nomofobia é um medo irracional de ficar sem o celular, de que se acabe o crédito ou que não haja cobertura. Medo de ficar sem bateria e, inclusive, de sair de casa sem o aparelho.
O que marca o comportamento daqueles que sofrem com esse problema é justamente a necessidade de ter o aparelho sempre perto, ao alcance da mão. Muitas vezes, a proximidade vale mais que realmente estar manipulando o aparato o tempo todo. Seria um elemento transmissor de segurança.
Há que se ponderar sobre a diferença entre o comportamento de alguém que não desgruda de seu celular, daquele que realmente sofre com este quadro fóbico.
Quando se pensa no impacto psicológico desse tipo de dependência, seja na juventude ou vida adulta, é preciso considerar o enfrentamento de um quadro complexo, já que a nomofobia quase nunca aparece sozinha.
O indivíduo normalmente já vem de uma situação de ansiedade, estresse ou transtornos de humor/personalidade. Há especialistas que atrelam o aparecimento desta fobia justamente ao caráter das novas gerações, cada vez mais imediatistas e ansiosas.
Porém, retornando ao meu casal do cinema, e após refletir sobre a informação de que o celular pode agir como um transmissor de segurança, questiono: do que eles se protegiam? Um da presença do outro? De seus problemas como casal? Da falta de intimidade que há entre eles?
As tecnologias tinham o propósito de aproximar as distâncias físicas entre as pessoas de todo o mundo, aumentar a comunicação entre elas e a circulação de informações.
Mas o que nota-se é uma maior interação com tecnologias em detrimento das relações humanas. Um conselho hombres? Ao invés de alucinadamente tentar passar para o próximo mundo do Candy Crush, esqueçam mais seus celulares, olhem para a bela mulher que está ao seu lado e beijem-na.
El Hombre
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