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terça-feira, 22 de julho de 2014

Número de infecções por HIV cai em todo o planeta

Pesquisas, no entanto, ainda não conseguem tratar o vírus, que sobrevive em reservatórios do organismo 

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Foto: REUTERS - Ativista participa de homenagem aos especialistas mortos em um voo da Malaysia Airlines, que voavam para participar da Conferência sobre a Aids

Rio - Um passo para frente, um para trás. O combate ao HIV foi tema ontem de boas e más notícias. O número de infecções diminuiu, mas uma linha de tratamento considerada promissora pela comunidade científica naufragou. 

Os aplausos vieram de um censo inédito, conduzido em 188 países pela Universidade de Washington (EUA). Entre 1997 e 2013, o número de novas infecções por HIV registrado a cada ano diminuiu em cerca de 33%. Hoje, ao redor de 30 milhões de pessoas estão contaminadas no planeta. Programas que fornecem terapia antirretroviral e a prevenção da transmissão de mãe para filho são descritos como os grandes responsáveis por aumentar a vida dos portadores do vírus. E o investimento para isso é modesto. Em 2011, foram US$ 7,7 bilhões para prevenir e tratar.

— É impressionante, porque este é um custo relativamente baixo em comparação ao dedicado a terapias contra outras doenças — destaca Bernardo Hernández Prado, professor do Instituto de Métrica e Avaliação para a Saúde da Universidade de Washington.
O número de mortes entre os contaminados caiu aceleradamente a partir de 2000, quando foram estabelecidos os Objetivos do Milênio da ONU. Entre eles está acabar com a disseminação da infecção pelo vírus até 2015.

— O HIV é, cada vez mais, uma condição com que a pessoa vive, e não a causa da morte — acrescenta Prado.

O vírus, no entanto, ainda encontra terra fértil em algumas regiões, principalmente a África Subsaariana. Em Botswana e Lesoto, o índice de contaminação é de abismantes 12% da população. No Sudeste Asiático, as maiores taxas estão na Tailândia e em Papua Nova Guiné. 

A incidência do HIV também é relativamente alta em alguns países europeus, como Portugal, Espanha e Ucrânia, além de parte da América Latina. Panamá, Honduras e Suriname estão entre as nações que levaram a comunidade científica a acender o sinal vermelho.

O Brasil continua a ser considerado exemplar no combate ao HIV. O número de mortes pelo vírus caiu de 17 mil, em 1996, para 10 mil no ano passado. Entre 2000 e 2013, o índice de óbitos caiu 2,3%, mais do que a média global, de 1,5%.

Coautor do relatório e professor do Instituto de Medicina da USP, Paulo Lotufo acredita que um dos maiores triunfos do país foi o pioneirismo na distribuição de coquetéis antirretrovirais. O pesquisador, no entanto, defende mais atenção ao estudo da doença.

— É um trabalho cotidiano e detalhista que, se não for tomado, pode tirar o Brasil da condição de modelo internacional — alerta. 

— Devemos evitar o fenômeno da acomodação. Quando existe um remédio, a população acredita que a situação está sob controle e não se protege contra uma contaminação.

A preocupação de Lotufo é reflexo de um relatório divulgado na semana passada pelo Programa Conjunto das Nações Unidas HIV/Aids (Unaids) que indicou um aumento de 11% na quantidade de novas infecções entre 2005 e 2013. No mesmo período, o número de casos diminuiu 28% em todo o planeta.

O levantamento global foi anunciado durante a Conferência Internacional sobre a Aids, na Austrália. O evento começou com uma homenagem a seis especialistas que morreram no voo MH17, da Malaysia Airlines.

A volta do vírus na criança curada
A decepção da semana veio na revista “Nature”. Segundo um estudo publicado por pesquisadores da Universidade de Harvard, nos EUA, o tratamento contra o vírus HIV desde os primeiros dias de vida pode não curar o paciente da doença, como sustentavam muitos cientistas.

De acordo com a pesquisa, mesmo que antirretrovirais sejam aplicados em bebês durante os anos iniciais da vida, o vírus pode ser detectado depois, quando a medicação é interrompida. Especialistas descreveram o resultado como “preocupante”.

Isso aconteceria por causa dos reservatórios do HIV no intestino e em tecidos do cérebro, que demonstraram uma capacidade precoce de formação e ficam intactos. Acreditava-se que os remédios poderiam impedir a formação desses reservatórios.

— Os coquetéis já existentes são cada vez mais eficientes contra a replicação do vírus. O grande problema é se livrar das “sementes” que o vírus deixa quando se instala no sistema fisiológico, onde ele fica em estado latente — alerta Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, que não participa do estudo. — O HIV consegue se esconder em tecidos aonde a medicina ainda não tem acesso.

Para chegar ao estudo de latência, o vírus precisa de um certo tempo, ainda não conhecido. Por isso, o desafio dos cientistas é atacá-lo antes que ele consiga se acomodar. 

Nos EUA, um bebê contaminado começou a receber medicamentos antirretrovirais apenas 30 horas depois de nascer. A criança foi tratada durante os primeiros 18 dias de vida. Em seguida, o coquetel foi retirado. Chegou-se à conclusão de que a menina estava “funcionalmente curada”. Na semana passada, no entanto, foi anunciado que ela, agora com 4 anos de idade, apresentou novamente a doença.

— Esta notícia infeliz da recuperação do vírus enfatiza a necessidade de compreendermos os reservatórios virais precoces, que se estabelecem muito rapidamente após a infecção — ressalta Dan Barouch, professor da Escola de Medicina de Harvard.

Uma outra frente de combate ao HIV, proposta esta semana pela Universidade Temple (EUA), é a criação em laboratório de células resistentes. Ao ser injetadas no organismo, elas teriam maior capacidade de sobrevivência do que as infectadas. O estudo, publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”, descreve uma operação realizada em laboratório. Uma enzima codificada pelo DNA é levada ao núcleo da célula contaminada. Desta forma, o gene que produz o receptor do HIV — a sua “porta de entrada” — é destruído. A partir daí, a célula se torna resistente ao vírus. A cultura celular, então, pode ser levada ao organismo.

Mutações continuam a desafiar cientistas
A técnica, no entanto, ainda esbarra em desafios significativos. Os cientistas precisam elaborar um método para administrar o agente terapêutico para cada célula infectada. Além disso, o HIV pode fazer mutações. Com isso, o tratamento deve ser individualizado, já que cada pessoa tem suas sequências virais.

— Não é um tratamento de larga escala — analisa Tanuri. — E o paciente também teria que passar por alguns procedimentos, como uma quimioterapia.

O uso prolongado de medicamentos antirretrovirais pode provocar fortes efeitos colaterais como osteoropose, doenças renais e maior propensão a doenças cardíacas. No entanto, os especialistas são otimistas. Tanuri acredita que as intervenções nos reservatórios do HIV podem levar à sua eliminação em até dez anos. E Lotufo, que se formou em Medicina em 1980, um ano antes da descoberta do HIV, lembra alguns dos pontos principais no combate ao vírus. 

— Avançamos muito na identificação do agente, nas análises do tratamento e na prevenção — conta. — A qualidade de vida melhorou bastante.

O Globo

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