BBC - Depósitos do vírus HIV foram encontrados nos tecidos no cérebro e intestinos |
Uma pesquisa da Escola de Medicina de Harvard, nos Estados
Unidos, indica que tomar medicamentos contra o HIV logo que o vírus é
detectado não cura a infecção nem evita o ressurgimento da doença.
O
estudo publicado na revista Nature, realizado com macacos, sugere que
"reservatórios virais" que se formam no organismo após a infecção surgem
antes mesmo de o HIV ser detectado no sangue.
Esses depósitos de
HIV nos tecidos do cérebro e no abdômem são considerados grandes
obstáculos para se encontrar uma cura para a doença.
O uso de medicamentos antirretrovirais
permite aos infectados manter o avanço do HIV sob controle, levando-os a
ter uma expectativa de vida quase normal. Mas, se o tratamento com este medicamento é suspenso, o vírus acaba ressurgindo a partir destes depósitos.
As
pesquisas internacionais agora estão se concentrando em eliminar o
vírus destes reservatórios. Até agora, havia a esperança de que um
tratamento precoce pudesse evitar a formação desses locais – mas a
pesquisa de Harvard provou que essa suposição estava errada.
Dias e semanas
No
estudo, macacos rhesus foram infectados com o equivalente do HIV para
macacos, o SIV, ou vírus da imunodeficiência entre símios. Os animais
então passaram a receber medicamentos antirretrovirais três dias ou até
duas semanas depois da infecção.
O tratamento foi suspenso em
todos os casos depois de seis meses. No entanto, o vírus ressurgiu
independentemente da data em que a terapia antirretroviral começou. Com
isso, os cientistas demonstraram que os reservatórios virais se formaram
muito cedo.
"Nossos dados mostram que, neste modelo com animais, o
reservatório viral foi criado substancialmente cedo depois da infecção,
(mais do que) era reconhecido anteriormente", afirmou Dan Barouch,
professor de medicina na Escola de Medicina de Harvard.
"Descobrimos
que o reservatório se estabeleceu nos tecidos nos primeiros dias de
infecção, antes até de o vírus ser detectado no sangue", acrescentou.
Decepção
Recentemente uma
bebê que nasceu nos Estados Unidos com o HIV e que todos acreditavam
ter sido curada com um tratamento iniciado horas depois do nascimento, passou por exames que confirmaram o ressurgimento do vírus.
A
bebê recebeu os medicamentos nos primeiros 18 meses de vida e depois, o
tratamento foi suspenso. Inicialmente o vírus não retornou e havia
esperança de que, neste caso, ela tivesse sido curada.
Mas, na semana passada, foi anunciado o ressurgimento do vírus na menina, que atualmente tem quatro anos.
"A
notícia triste do ressurgimento do vírus nesta criança ressalta ainda
mais a necessidade de compreender o reservatório precoce (...) de vírus
que se estabelece rapidamente depois da infecção por HIV nos humanos",
disse Dan Barouch.
"Estes dados indicam que o reservatório viral
pode ser criado substancialmente mais cedo do que se pensava, uma
descoberta grave que coloca mais obstáculos aos esforços de erradicação
do HIV", afirmaram Kai Deng e Robert Siciliano, da Escola de Medicina da
Universidade Johns Hopkins, na cidade de Baltimore.
"Apesar de o
tratamento precoce não evitar a formação do reservatório, ele mostrou,
de forma consistente, ser capaz de reduzir o tamanho deste depósito",
acrescentaram.
BBC Brasil / iG
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