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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Estudo liga diabetes e obesidade ao número de fast foods na vizinhança

Fast-food é rico em gorduras totais, ácidos gordos trans e sódio
Pesquisa da Universidade de Leicester reuniu dados de 10 mil pessoas no Reino Unido
 
Rio - As taxas de diabetes e obesidade em cidades do interior podem estar relacionadas com o número de estabelecimentos de fast-food perto de moradias, revelou um estudo publicado na revista “Public Health Nutrition”.
 
Os cientistas basearam sua conclusão em um estudo de 10 mil pessoas no Reino Unido. Eles descobriram que havia o dobro de pontos de venda de fast-food num raio de 500 metros de casas em bairros de moradores socialmente desfavorecidos.
 
- Os resultados são bastante alarmantes e têm grandes implicações para intervenções de saúde pública no sentido de limitar o número de pontos de venda de fast-food em áreas mais carentes - disse o pesquisador-chefe, Kamlesh Khunti da Universidade de Leicester.
 
 
- Em uma região multi-étnica do Reino Unido, os indivíduos tinham, em média, duas lojas de fast-food num raio de 500 metros de sua casa - Khunti disse. - Este número difere substancialmente por demografia, incluindo a etnia; pessoas de etnia não-branca tinham mais do que o dobro do número de pontos de venda de fast food no seu bairro em comparação com os brancos europeus. Descobrimos que o número de estabelecimentos de fast food no bairro de uma pessoa foi associado com um risco aumentado de diabetes detectada tela tipo 2 e obesidade.
 
Também da equipe de Leicester, o co-autor Patrice Carter afirmou que a associação observada entre o número de pontos de venda de fast-food com obesidade e diabetes tipo 2 não vem como uma surpresa. Ele explica que o fast-food é rico em gorduras totais, ácidos gordos trans e sódio, o tamanho das porções têm aumentado de duas a cinco vezes ao longo dos últimos 50 anos e uma única refeição de fast food fornece cerca de 1.400 calorias. Acrescenta, ainda, que lojas de fast-food muitas vezes fornecem bebidas ricas em açúcar.
 
A pesquisa foi publicada três dias antes do Dia Mundial de Combate ao Diabetes, comemorado nesta sexta-feira. A data foi instituída pela International Diabetes Federation (IDF) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
 
Conscientização carioca
Além do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE) estar com sua fachada toda iluminada de azul para alertar sobre a necessidade da prevenção e dos cuidados necessários para quem tem a doença, o hotel Royal Tulip, em São Conrado, recebe o 1º Congresso Regional de Diabetes do Rio de Janeiro.
 
Especialistas das Universidades de Harvard e do Texas, entre outros médicos de renome no Brasil, estarão reunidos no evento, que teve início nesta quinta-feira e vai até este sábado. Promovido pela Sociedade Brasileira de Diabetes do Rio de Janeiro, o encontro visa ampliar o conhecimento sobre os avanços e as últimas novidades relacionadas à doença, entre elas uma insulina de longa duração e hipoglicemiantes orais recém-chegados no mercado brasileiro.
 
Entre as conferências mais aguardadas do congresso, estão as do Enrique Caballero, professor da Universidade de Harvard, em Boston, e pesquisador clínico na Joslin Diabetes Center. O especialista é um dos maiores estudiosos de diabetes tipo 2. Caballero falará sobre os riscos do pré-diabetes e as novas abordagens no tratamento da doença para atingir o alvo glicêmico.
 
Outro convidado internacional é Jaime Davidson, professor da Universidade do Texas Southwestern Medical School, em Dallas, membro fundador da Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos (AACE), que colaborou para a elaboração do último consenso de diabetes. O médico dará palestra sobre terapias combinadas e falará também sobre as diferenças entre as recomendações dadas pela Associação Americana de Diabetes (ADA) e Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos (AACE).
 
Entre as apresentações nacionais, Mario Saad, professor e pesquisador da Unicamp (SP) é um dos destaques. Ele acaba de desenvolver um creme à base de insulina para ajudar na cicatrização de feridas em diabéticos, e falará sobre resistência à insulina.
 
Ainda com o objetivo de conscientizar a população sobre a doença, acontece no dia 16 de novembro, neste domingo, às 8h30, em volta da Lagoa Rodrigo de Freitas, o 2º Desafio SBD – RJ – Correndo pelo Diabetes.

Dúvidas frequentes
A presidente regional da Comissão Científica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Vivian Ellinger, respondeu, à pedido do jornal O GLOBO, a algumas perguntas frequentes sobre a doença.

Como o ritmo acelerado da sociedade atual pode favorecer o surgimento da diabetes?
A vida moderna e, consequentemente, a falta de tempo faz com que as pessoas usem mais alimentos industrializados, o que significa aumentar a ingestão de gorduras. Paralelamente, os indivíduos que diminuem a quantidade de legumes, verduras e frutas, o que acarreta uma alimentação pobre em fibras.
 
Atualmente, qual o melhor tratamento disponível?
Depende do tipo de diabetes, do tempo de doença, idade do paciente, e se o paciente tem algum outro problema de saúde, ou seja, depende do caso. Atualmente existem novas insulinas e canetas para aplicação que melhoraram muito a qualidade de vida dos diabéticos. Além disso, existem os análogos de GLP-1, que também são drogas injetáveis, indicadas para o portador de Diabetes Mellitus tipo 2. Quanto às drogas orais, também existem novos medicamentos, como os que eliminam a glicose pela urina. Em suma, existem muitas drogas novas que permitem um tratamento adequado com maior conforto e segurança com menos efeitos colaterais.
 
Quais são os possíveis riscos da doença?
Segundo o Ministerio da Saude, 70% das cirurgias para retirada de membros, ou seja cirurgia de amputação, são por causa do diabetes.O diabetes mal controlado, também pode levar à impotencia, cegueira e insuficiência renal. E principalmente, o que muitas pessoas desconhecem, é causa de doença cardiovascular, como por exemplo infarto agudo do miocardio.O grande problema é que uma doença silenciosa, com poucos sinais e sintomas.
 
Quais são os sintomas?
Em geral são muito poucos. Os principais sintomas do diabetes são visão embaçada, urinar muito e sentir muita sede. As mulheres podem ter candidíase, o que ocasiona prurido vulvar. Mas, muita atenção, pois no adulto os sintomas se instalam lentamente, e muitas vezes a pessoa não tem sintomas e só descobre quando tem uma complicação. Quando o diabetes se instala na infância, o quadro clínico é mais evidente, por exemplo a criança voltar a urinar de noite na cama. Além da sede exagerada, sente muita fome e começa a emagrecer.
 
Como é possível evitar a enfermidade?
O diabetes tipo 2 pode ser evitado com um estilo de vida saudável, o que significa fazer atividade física, pelo menos 150 minutos por semana, ter alimentação rica em legumes, verduras e frutas e com pouca gordura. Evitar ganhar peso, e principalmente ficar de olho na circunferência abdominal que deve ser menor do que 88 nas mulheres e de 102 centímetros no homem.
 
Como é realizado o diagnóstico?
O diagnóstico é feito através de exame de sangue: pode ser a simples glicemia, ou seja, o exame de açúcar no sangue, pode ser com a hemoglobina glicada, que também é feito no sangue, mas não necessita de jejum, ou pode ser necessária a realização do teste oral de tolerância a glicose. Na grande maioria das vezes, é necessário repetir o exame. O endocrinologista poderá orientar quanto ao melhor exame.

O Globo

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