Além de reduzir o colesterol, exercícios melhoram o condicionamento, reduzem a glicose e têm efeito positivo sobre a cognição
Poucos medicamentos tiveram tanta repercussão nos últimos anos quanto as estatinas, classe de drogas para reduzir os nível de colesterol. Conheço muita gente que toma para prevenir doenças cardiovasculares. Na verdade, é bem fácil encontrar um homem de meia idade — nós mulheres, pelo menos até a menopausa, costumamos ter taxas menores — que faça uso de alguma estatina para chegar aos níveis de colesterol considerados adequados pelos médicos. E por que falo de remédios para colesterol numa coluna sobre corrida? Porque um estudo de peso veio a reforçar o conceito de que não existe remédio melhor que exercício — e corrida é um dos melhores — para baixar o colesterol. Segundo os autores do estudo, uma parceria entre as universidades de Stanford (EUA) e UFRJ, exercício é tudo o que basta para muita gente.
E com vantagens. Muitas. Primeiro, porque estatina é remédio. E não existe remédio no mundo sem efeitos colaterais, por mais seguras que essas drogas sejam. Um deles é aumentar os níveis de glicose no sangue e, com isso, o risco de diabetes. Outro, apresentado por entre 5% a 10% dos usuários de estatinas, é o surgimento de dores musculares. Já os exercícios são só vantagens, diz o especialista em medicina do esporte Cláudio Gil de Araújo, professor da UFRJ e diretor médico da Clinimex, um dos autores do estudo. Além de reduzir o colesterol, melhoram o condicionamento, reduzem a mesma glicose, têm efeito positivo sobre a cognição. Em suma, são tudo de bom.
— Nos preocupa o fato de que muitos médicos receitam primeiro medicamentos e depois os exercícios. Quase nunca o contrário. E exercício deveria ser a primeira prescrição. É quase impossível encontrar alguém que não possa praticar algum tipo de atividade — afirma Claudio Gil, que tem entre seus pacientes pessoas com cardiopatias graves e que nem por isso deixam de se exercitar, muitos deles corredores.
A pesquisa foi realizada por Claudio Gil em parceria com Jonathan Myers, da Universidade de Stanford (Palo Alto, Califórnia); e Peter Kokkinos, do Centro Médico de Veteranos (Washington).
Para chegar a essas conclusões, eles realizaram uma análise de mais de 30 estudos, num total superior a dados de 100 mil pessoas investigados. O estudo pode ser lido na íntegra (em inglês) no botão à esquerda.
— Estatinas são paa um grupo específico de pacientes que realmente precisam por terem condições de saúde delicadas. A maioria não está nesse caso — afirma Cláudio Gil.
Para os corredores, a notícia é ótima. Quem consegue dar uma volta na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, (7,6 quilômetros) em ritmo bem leve, de trote, já está no grupo dos que se beneficiam apenas com exercício.
— Nossa recomendação é simples. Quem já toma medicamento, deveria perguntar ao médico se é mesmo o caso de continuar ou se não seria uma opção optar por atividade física, o que, inclusive, sai bem mais barato — salienta ele.
O link para a íntegra do artigo científico (em inglês) é: http://departamentos.cardiol.br/sbc-derc/revista/2014/20-4/pdf/04-opiniao-coronary.pdf
O Globo
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