Foto: Reprodução/Pixabay - Mais horas de trabalho aumentou em 11% a probabilidade de maior uso de álcool |
Rio - Os funcionários que trabalham mais de 48 horas por semana têm mais chances beber um volume de bebidas alcoólicas considerado arriscado do que aqueles que não ficam tantas horas na labuta, como encontrou um novo estudo publicado nesta terça-feira no “The British Medical Journal”.
Mais de 14 doses por semana para as mulheres e mais de 21 doses por semana para os homens é considerado um consumo alcoólico de risco. Acredita-se que isso aumenta o risco de problemas de saúde adversos, incluindo doenças do fígado, câncer, acidente vascular cerebral, doença arterial coronariana e transtornos mentais.
Para a psicóloga Angela Teixeira, indivíduos tendem a buscar mais a bebida alcoólica em meio a uma rotina pesada de trabalho por um sistema de compensação.
— Para ficar mais leve, ou não sentir falta de outros tipos de satisfação, substitui-se — explica. — O álcool tende a causar euforia e assim não permite que o indivíduo entre em contato com algumas perdas, substituições de desejos do que se quer realizar e não consegue.
A fim de proteger a saúde e segurança dos trabalhadores, a Diretiva de Tempo de Trabalho da União Europeia (EUWT, na sigla em inglês) garante que os trabalhadores dos países da UE têm o direito de trabalhar não mais do que 48 horas por semana, incluindo horas extras. Ainda assim, muitas pessoas, como gestores, trabalham muito mais horas para conseguir promoções mais rápidas, aumentos de salários, e mais controle sobre o trabalho e o emprego.
Pesquisas anteriores já haviam encontrado uma ligação entre trabalhar mais horas e consumo alcoólico de risco, mas este processo envolveu apenas pequenos e preliminares estudos. Enquanto o álcool pode ajudar a aliviar o estresse de trabalhar longos períodos, o consumo arriscado também está associado a dificuldades no local de trabalho, incluindo o aumento da licença por doença, o mau desempenho, a tomada de decisões prejudicada e acidentes de trabalho.
Em uma análise transversal de 333.693 pessoas em 14 países, a equipe de pesquisadores descobriu que mais horas de trabalho aumentou em 11% a probabilidade de maior uso de álcool. A análise prospectiva encontrou um aumento semelhante no risco de 12% para o início do uso arriscado de álcool em 100.602 pessoas de 9 países.
Dados individuais por participantes de 18 estudos prospectivos mostraram que aqueles que trabalharam 49-54 horas e 55 horas por semana ou mais demonstraram que tinham um risco aumentado de 13% e 12%, respectivamente, do consumo arriscado de álcool em comparação com aqueles que trabalharam 35-40 horas por semana.
Os autores apontam que não foram observadas diferenças entre homens e mulheres ou por idade, condição socioeconômica ou região.
Embora, em termos absolutos, a diferença entre os grupos tenha sido relativamente pequena, os autores argumentam que qualquer exposição com aumentos evitáveis na doença ou comportamento prejudicial a saúde, ou ambos, valem exame cuidadoso.
Os resultados também fornecem apoio para as recomendadas 48 horas por semana como imposto pela EUWT.
“O local de trabalho é um cenário importante para a prevenção do abuso do álcool, porque mais da metade da população adulta são empregados”, escreveu a equipe de pesquisadores. “Mais pesquisas são necessárias para avaliar se as intervenções de prevenção ao uso de risco de álcool poderiam se beneficiar de informações sobre as horas de trabalho.”
No entanto, Teixeira sugere que a quantidade de horas adequadas muda de um indivíduo para o outro.
— É relativo. É como dormir. Cada individuo tem um suporte de trabalho. Tem pessoas que trabalham pouco e se cansam muito, como outras que trabalham muito e descansam pouco — afirma.
— Acredito, sim, que terá a ver com o aspecto de lidar e trabalhar com o que se gosta e se tem afinidade. Como tudo nesta vida.
O Globo
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