Produzidas em laboratório, principalmente da Índia e China, estão sendo vendidas ilegalmente pela internet. Tratamento e desconhecimento de efeitos no organismo são desafios
Elas têm efeito até 100 vezes mais potente que as drogas originais, são perigosas, pouco conhecidas e estão cruzando as fronteiras do Brasil. As drogas sintéticas, produzidas em laboratório, principalmente da Índia e China, estão sendo vendidas ilegalmente pela internet. No Brasil, têm sido cada vez mais frequentes nas baladas. Alguns desses alucinógenos foram reconhecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Além do efeito extremamente nocivo sobre o organismo, que pode levar a sérios problemas de saúde e até mesmo à morte já no primeiro uso, chama a atenção o desconhecimento dos efeitos por quem usa.
Segundo a psiquiatra Fernanda de Paula Ramos, os produtos sintéticos potencializam o efeito de drogas já conhecidas e estão divididos em três grandes grupos. São os canabinoides sintéticos (semelhante à molécula do tetrahidrocanabinol –THC, da maconha); as catinonas sintéticas, que derivam do grupo dos anfetamínicos ecstzy e cocaína e as fenetilaminas, conhecidas como NBOMe, que compartilham características com o ácido lisérgico (LSD). Ela explica que as reações podem variar de transtornos cerebrais à depressão. Os efeitos podem desencadear reações físicas graves. Passam por arritmia cardíaca, infarto, insuficiência renal e morte (veja ao lado). “Há relatos de pessoas fugindo de furacões, lutando contra monstros imaginários”, afirma a diretora do Centro de Tratamento de Dependência Química de Álcool e Drogas Villa Janus, no Rio Grande do Sul.
Na Europa e nos Estados Unidos, onde o consumo já se tornou alarmante, as drogas produzidas em laboratório são vistas como problema de saúde pública. Nas primeiras semanas de abril, foi decretado estado de alerta de saúde em Nova York por causa dos canabinoides sintéticos. Na ocasião, foram registradas mais de 160 internações pelo uso dessas substâncias. Segundo o psiquiatria e membro do Departamento de Dependência da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Leonardo Ludwing Paim, estudos mostram que é crescente a entrada dos sintéticos no Brasil e em outros países da América Latina. “Mas ainda são poucos os estudos sobre tais substâncias e a grande preocupação é que não há na rede pública de saúde nenhum programa específico para tratamento dos transtornos gerados pelo consumo”, destaca o especialista, que enxerga o problema como novo desafio para os profissionais da área.
Vítimas
Em janeiro deste ano, o catarinense Dealberto Jorge da Silva Júnior, de 35 anos, morreu após surto de perseguição depois de consumir droga sintéticas. Ele, o irmão e amigos passavam férias no balneário de Cancún, no litoral mexicano. Hospedados em um hotel na Playa del Carmen, Dealberto despencou do alto do prédio, durante a madrugada, depois de ter feito uso de álcool e ecstazy.
Em janeiro deste ano, o catarinense Dealberto Jorge da Silva Júnior, de 35 anos, morreu após surto de perseguição depois de consumir droga sintéticas. Ele, o irmão e amigos passavam férias no balneário de Cancún, no litoral mexicano. Hospedados em um hotel na Playa del Carmen, Dealberto despencou do alto do prédio, durante a madrugada, depois de ter feito uso de álcool e ecstazy.
Após controvérsias sobre a morte de Victor Hugo Santos, de 20, laudo do Instituto Médico-Legal (IML) de São Paulo apontou que o estudante morreu também vítima de droga sintética. A 25B-NBOMe, semelhante ao LSD, foi a substância encontrada no sangue do estudante. Victor foi encontrado morto em setembro na raia olímpica da USP, depois de uma festa.
Leonardo Paim alerta sobre as medidas necessárias para lidar com o avanço das drogas sintéticas no Brasil. “A conscientização dos profissionais de saúde e das autoridades brasileiras é o primeiro passo para que o país possa se preparar, caso ocorra uma piora desse problema aqui”, diz. Ele chama atenção ainda para os desafios que o Sistema Único de Saúde (SUS) já enfrenta. “Existe uma dificuldade enorme de controlar o uso de álcool e drogas. As substâncias sintéticas ampliam esse problema, principalmente por exigirem tratamento a longo prazo”, afirma Paim.
Mais consumidas
Somente em 2014, foram apreendidas na Europa 101 novas drogas sintéticas. Levantamento do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) indica que entre 2008 e 2013, foram identificadas pelo menos 348 novas drogas. No último ano da pesquisa, foram 97, enquanto em 2012 foram apenas 8. Entre as novas substâncias psicoativas em consumo no mundo, 28% são canabinoides sintéticos, 25% catinonas sintéticas e 17%, fenetilaminas. Os três grupos somam a maioria entre as drogas sintéticas usadas. Na América Latina, foi apontado que 26% usam fenetilaminas, 17% canabinoides sintéticos e 7%, catinonas sintéticas.
Somente em 2014, foram apreendidas na Europa 101 novas drogas sintéticas. Levantamento do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) indica que entre 2008 e 2013, foram identificadas pelo menos 348 novas drogas. No último ano da pesquisa, foram 97, enquanto em 2012 foram apenas 8. Entre as novas substâncias psicoativas em consumo no mundo, 28% são canabinoides sintéticos, 25% catinonas sintéticas e 17%, fenetilaminas. Os três grupos somam a maioria entre as drogas sintéticas usadas. Na América Latina, foi apontado que 26% usam fenetilaminas, 17% canabinoides sintéticos e 7%, catinonas sintéticas.
Despistes para vender
A facilidade de burlar o caráter ilícito da droga também chama atenção. Além da venda desmedida e sem fiscalização pela internet, os produtos sintéticos vêm sendo comercializados em lojas de conveniência de postos de gasolina ou no mercado ilegal. No caso dos canabinoides sintéticos, por exemplo, a molécula da maconha é colocada numa erva e vendida como odorizador de ambientes ou fertilizantes. “Em muitos, há a informação de que não é para consumo humano, mas as pessoas usam como droga de abuso”, alerta a psiquiatra Fernanda de Paula Ramos. Somente dessta droga já foram identificados 134 tipos.
A facilidade de burlar o caráter ilícito da droga também chama atenção. Além da venda desmedida e sem fiscalização pela internet, os produtos sintéticos vêm sendo comercializados em lojas de conveniência de postos de gasolina ou no mercado ilegal. No caso dos canabinoides sintéticos, por exemplo, a molécula da maconha é colocada numa erva e vendida como odorizador de ambientes ou fertilizantes. “Em muitos, há a informação de que não é para consumo humano, mas as pessoas usam como droga de abuso”, alerta a psiquiatra Fernanda de Paula Ramos. Somente dessta droga já foram identificados 134 tipos.
As catinonas sintéticas, na forma de sais de banho, usam o rótulo de agrotóxico e repelente para burlar a lei. Já as fenetilaminas, conhecidas por NBOMe, geram alucinações sérias que podem levar à morte. Tais substâncias compartilham características com o LSD (ácido lisérgico). O consumo pode levar a alterações de percepção e intoxicações graves, comportamentos agressivos e visões paranoicas.
O termo “novas drogas” para referir-se às substâncias sintéticas não está necessariamente relacionado a novas invenções, mas a substâncias que têm sido produzidas em laboratório – semelhantes às já existentes – e que recentemente se tornaram disponíveis. “É algo relativamente novo, que vem sendo identificado nos últimos cinco anos”, explica Fernanda.
Alarmante
A preocupação com o consumo de drogas sintéticas vai além do aumento considerado alarmante por especialistas. “Além de mais danosas que as drogas não sintéticas, há dificuldades legais para conter o avanço e pouca informação sobre os efeitos a longo prazo do consumo”, afirma o psiquiatra Leonardo Ludwing Paim. O assunto foi debatido durante o Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções, realizado no início deste mês, em Porto Alegre.
A preocupação com o consumo de drogas sintéticas vai além do aumento considerado alarmante por especialistas. “Além de mais danosas que as drogas não sintéticas, há dificuldades legais para conter o avanço e pouca informação sobre os efeitos a longo prazo do consumo”, afirma o psiquiatra Leonardo Ludwing Paim. O assunto foi debatido durante o Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções, realizado no início deste mês, em Porto Alegre.
Saúde Plena
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