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terça-feira, 26 de maio de 2015

Pesquisadores suecos criam dispositivo implantável que combate dor crônica

Após implantado no corpo, o equipamento libera substância analgésica diretamente nos nervos onde o problema surge
 
A dor neuropática é um forte desconforto sentido em uma ou mais partes do corpo e que afeta pessoas com problemas (doenças ou lesões) no sistema nervoso central, na medula espinhal ou no cérebro. Em breve, o combate a esse incômodo que causa grande prejuízo à qualidade de vida dos pacientes pode ganhar um aliado tecnológico.
 
Pesquisadores suecos apresentam na edição desta semana da revista Science Advances um dispositivo bioeletrônico que, após ser implantado no corpo, libera substância analgésica diretamente nos nervos onde o problema surge. Por enquanto, o equipamento foi testado com sucesso em ratos, mas os responsáveis pelo trabalho acreditam que podem adaptá-lo para seres humanos.
 
O estudo surgiu quando o principal autor, Daniel Simon, tomou conhecimento dos esforços de colegas que buscavam uma maneira de tratar dores crônicas como a neuropática. “Eles trabalhavam com terapias de dor na coluna vertebral e pensei que nosso dispositivo poderia entregar GABA de maneira ‘local’, ajudando os pacientes sem efeitos colaterais”, diz ao Correio Simon, pesquisador do Laboratório de Eletrônica Orgânica da Universidade Linköping.
 
GABA é o nome de um neurotransmissor produzido naturalmente no organismo e regulador da dor. O dispositivo testado libera doses terapêuticas da substância no corpo para aliviar o desconforto. Feito de plástico, ele tem duas estruturas. A primeira é um reservatório para o medicamento, e a outra, uma porta de saída. Um fio fica para fora do corpo para receber uma corrente elétrica, que leva energia para polímeros dentro do dispositivo acionando a liberação do neurotransmissor.
 
Nos testes, o implante foi feito em ratos que tinham lesões no nervo ciático, o que provocava dores nas patas. “O GABA foi eletricamente bombeado diretamente nos locais em que o nervo estava lesionado. Desse modo, nós entregamos a substância de forma terapêutica, em doses muito pequenas, apenas quando ocorria o sinal de dor do sistema nervoso central”, explica o autor. Os animais que usaram o aparelho apresentaram comportamento que indicavam redução de dor nas patas e mais disposição física.
 
Vantagens
O criador do aparelho destaca diversas vantagens do dispositivo em comparação a outras técnicas usadas hoje para tratar a dor crônica. “Existem muitas ferramentas que interferem nos sinais de dor e da coluna vertebral. Drogas ou injeções podem trabalhar, mas ambas fazem efeito em todo o corpo ou na totalidade da medula espinal. Isso gera efeitos colaterais, como cansaço e perda geral de controle muscular”, afirma Simon. “A estimulação elétrica também pode ser usada, tanto para a dor quanto para restaurar a função da coluna vertebral, mas, dessa forma, todos os neurônios próximos aos eletrodos são ativados, independentemente de seus papéis e funções neurais específicas”, completa Simon.
 
Para Tiago Freitas, neurologista do Hospital Santa Lúcia, o dispositivo sueco realmente se destaca de outras técnicas por atingir diretamente o ponto da dor. “É uma linha diferente da que usamos atualmente. Esse aparelho consegue liberar o GABA exatamente no ponto da dor, o que o torna bastante eficaz”, avalia o médico, que não participou do estudo.
 
O próximo passo dos pesquisadores é mudar o protótipo, projetado especialmente para a anatomia dos ratos, e adaptá-lo a animais maiores e, posteriormente, em pessoas. “O dispositivo pode muito facilmente ser modificado para a anatomia humana e, provavelmente, funcionar tão bem quanto nos roedores. No entanto, precisamos de anos de testes em animais antes de tal experimento ser eticamente aprovado. Mas, felizmente, isso está em nosso futuro”, destaca Simon.
 
Como o dispositivo ainda é um protótipo, o custo ainda não foi estimado. No entanto, o autor acredita que ele não deve ser caro. “Agora, temos uma ferramenta de pesquisa. Mas os componentes individuais do dispositivo são muito baratos e podemos até mudar a fabricação para materiais de menor valor”, diz.
 
Na opinião de Valtencir Zucolotto, coordenador do Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), o trabalho dos suecos tem potencial para estimular projetos interessantes, voltados para o tratamento de humanos. “Esse é o caminho normal das inovações científicas. Depois do laboratório e das cobaias, o passo seguinte são testes em animais maiores e humanos”, observa.
 
Ao tomar conhecimento do estudo publicado na Science Advances, Zucolotto também estimou que o dispositivo não deve ser muito caro. “Acredito que os produtos utilizados em sua composição são baratos e podem ser ainda mais econômicos futuramente. A fonte de energia, por exemplo, pode ser adaptada da mesma forma usada no marca-passo”, acredita. “O grande potencial desse aparelho é liberar o medicamento diretamente no nervo em que a dor surge, e isso poderá ser mantido (em novos modelos), conclui.
 
Correio Braziliense

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