Por Alberto Ogata
De acordo com o Instituto de Estudos em Saúde Suplementar (IESS), no período de setembro de 2014 a setembro de 2015 houve redução de 0,3% no número de beneficiários de planos de saúde, ou seja, 164.400 vínculos a menos. Este fenômeno está fortemente relacionado ao aumento da taxa de desemprego em nosso país. Segundo o IBGE esta taxa atingiu 8,6% no último trimestre, totalizando 8,6 milhões de pessoas.
De acordo com pesquisa recente do IBOPE, a principal razão das pessoas deixarem de usar a saúde suplementar é a perda do emprego. Nestas situações, muitas vezes, as pessoas perdem o contato com profissionais e serviços de saúde com os quais mantinham vínculo. Além disso, as pessoas se sentem menos empoderadas para cuidar da sua saúde.
O sistema público, já sobrecarregado, recebe uma demanda extra. De acordo com matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, o aumento da demanda já está sendo sentida e todos os principais indicadores de ocupação e uso da estrutura estadual paulista de atenção à saúde aumentaram: as internações cresceram de 809 mil, em 2013, para 841 mil, em 2014.
A projeção da Secretaria de Estado da Saúde é que em 2015 o dado pule para 855 mil, incremento de 5,5% em relação ao ano retrasado. As cirurgias realizadas em hospitais do Estado também devem fechar 2015 com aumento de 5,5% em relação a 2013 e de 0,3% em relação a 2014.
O renomado epidemiologista britânico, Michael Marmot, presidente da Associação Médica Mundial, acaba de publicar o livro “The Health Gap” onde aborda questões relevantes associadas aos determinantes de saúde. Uma das questões destacadas é o desemprego. Estudos realizados em vários países demonstram maior mortalidade em pessoas desempregadas.
Este achado estava associado a vários fatores como maior predisposição ao uso abusivo do álcool e tabagismo e condições relacionadas à saúde mental, como depressão, ansiedade e risco de suicídio. Ele sugere que um trabalho ruim pode ser prejudicial para a saúde, mas o desemprego pode ser ainda pior.
Neste contexto, o enfrentamento de condições que podem ser prejudiciais à saúde (estilo de vida não saudável, problemas mentais e emocionais) associadas ao desemprego vai muito além da abordagem e limites do setor saúde. É fundamental reconhecer a importância do trabalho para a saúde das pessoas e o impacto potencial da deterioração das condições econômicas e de emprego.
Sem dúvida, o cenário econômico e social exigirá dos gestores de saúde uma visão mais ampla dos determinantes sociais e seus respectivos impactos, o que irá muito além dos consultórios, hospitais e laboratórios.
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