Segundo Marcelo Nunes, beneficiários receberam desconto de 25% sobre preços 80% maiores que suas mensalidades
O diretor-presidente da Unimed Paulistana, Marcelo Nunes, classificou nesta quinta-feira (10) como fantasia a ideia de que outras operadoras do sistema de cooperativas conseguiriam assumir tranquilamente os pacientes da companhia, que quebrou e teve de se desfazer de seus cerca de 740 mil beneficiários.
"Essa fantasia que foi criada de que os usuários da Unimed Paulistana estariam tranquilos porque a Unimed Paulistana desaparecendo alguém tomaria conta do intercâmbio e dos pacientes aqui em São Paulo, isso foi uma fantasia. Nós não acreditamos desde o começo, mas alguém acreditou", afirmou o executivo, citando relatos de dificuldades enfrentadas pelos clientes das cooperativas que receberam os clientes da Paulistana.
A migração foi acertada em acordo de 25 de setembro entre sistema Unimed, Ministério Público de São Paulo (MP-SP), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Procon-SP.
O objetivo era contornar a dificuldade em reacomodar os clientes de planos individuais e coletivos por adesão da Paulistana, que a agência reguladora, após um acompanhamento presencial de cerca de 6 anos, declarou financeiramente inviável no início daquele mês.
O acordo trazia uma tabela com quatro planos de saúde e os respectivos preços por faixa etária e, sobre eles, as Unimeds de destino deveriam aplicar um desconto de 25%.
Segundo Nunes, entretanto, o abatimento de 25% ocorreu sobre preçoes 80% maiores aos que os clientes da Paulistana pagavam.
"A gente acompanhou esse TAC [Termo de Ajustamento de Conduta]. Na verdade, foi feita a propaganda de que houve 25% de desconto mas os 25% de desconto correram em cima dos 80% que foi feito de aumento de preço [em relação ao que era praticado pela Paulistana]", afirmou Nunes, em depoimento à CPI dos planos de saúde da Câmara Municipal de São Paulo. "Se não fosse o Procon [que também participou do acordo], nem os 25% teriam ocorrido."
Nunes afirmou ainda que muitos clientes não conseguiram fazer a migração e ficaram no SUS enquanto outros ainda estão na Paulistana – que, quebrada, não tem como garantir o atendimento. Segundo o iG apurou, há pelo menos 20 mil pessoas nessa situação.
A ANS não confirma o número.
"A ANS não cumpriu o seu papel [de proteger o usuário]", afirmou o executivo.
Em nota, a ANS afirmou que o acompanhamento da Paulistana foi feito com transparência e que seguiu a legislação do setor. O acordo, diz, "criou obrigações para operadoras do sistema Unimed e teve o objetivo de dar segurança e celeridade ao processo de transferência dos beneficiários."
A Unimed do Brasil negou as declarações de Nunes e diz que o TAC tem o objetivo de proteger os direitos dos consumidores.
"Os valores e redes credenciadas que compõem os planos de assistência médica oferecidos pelas operadoras brasileiras são de conhecimento da ANS, agência responsável por regular o setor de saúde suplementar no País."
O Ministério Público de São Paulo informou que não poderia se pronunciar antes da publicação desta reportagem.
Foto: Vitor Sorano/iG São Paulo - 10.12.15
iG
iG
Nenhum comentário:
Postar um comentário