No Hospital A. C. Camargo, em São Paulo, especializado em câncer, dentre todos os pacientes que procuram a instituição para fazer o tratamento, 15% deles chegam com o diagnóstico errado. Além disso, 3% dos casos são de falsos positivos, quando os médicos descobrem que o paciente não está com câncer.
De acordo com o patologista Fernando Augusto Soares, diretor de Anatomia Patológica do hospital, setor que faz o laudo dos exames, diariamente há um grande número de casos em que há mudança de diagnóstico.
- Em 15% das análises há mudanças, o que altera também o tratamento, como trocar a medicação.
Nos 3% dos casos onde há diagnósticos falsos, há mudanças radicais nas análises. Isto é, pacientes inicialmente diagnosticados com câncer descobrem que, na verdade, não estão com a doença. São os chamados falsos positivos.
- Tem um caso desses pelo menos uma vez por semana. No começo, os pacientes ficam felizes, porque descobrem que não estão com câncer. Mas depois eles se preocupam porque começam a pensar no risco que correram, nas cirurgias que fizeram sem precisar.
Segundo Soares, existem vários tipos de erros, como de amostragem, interpretação, ou porque o caso é realmente difícil. E a maioria deles ocorre, diz, por falta de experiência dos laboratórios que fazem os exames.
- Os hospitais especializados lidam com esses casos todos os dias. Já nos laboratórios, o volume de biópsias é menor, por isso eles têm menos experiência, o que pode levar a enganos.
O R7 entrou em contato com os principais hospitais de câncer de São Paulo para levantar mais número sobre erros em diagnóstico.
No Hospital Sírio Libanês, também em São Paulo, os exames são feitos fora da instituição, por laboratórios parceiros. No Icesp (Instituto do Câncer de São Paulo), os exames também não são feitos no hospital - os pacientes já vêm diagnosticados do Hospital das Clínicas, segundo a assessoria da instituição.
No Hospital São José, que é vinculado à Beneficência Portuguesa, entre os casos de tumor no pulmão descoberto após um exame de PET (tomografia por emissão de pósitrons, um teste de imagem nuclear), a biópsia revela que 25% dos casos têm o diagnóstico errado. A informação é do médico Riad Younes, chefe de Cirurgia Oncológica da unidade.
- E esse é um número comum. O médico precisa saber que o PET vai errar um quarto das vezes.
De acordo com Younes, o falso positivo não é um problema incomum. Esse erro pode ocorrer em qualquer exame e é ainda mais comum em casos de câncer.
- Depende de quem interpreta o exame. Por exemplo, se você acha um nódulo no pulmão, depende da descrição do radiologista.
Os erros ocorrem principalmente, segundo Younes, quando os médicos baseiam suas decisões apenas nos laudos dos exames sem antes verem as imagens.
- Às vezes o nódulo não tem nada a ver com a doença. Existem casos muito difíceis. Mas, se uma pessoa experiente olhar [o exame], você consegue reduzir as chances de errar.
Já o Hospital Israelita Albert Einstein e o Hospital Pérola Byington (instituição estadual paulista especializada em câncer feminino) não informaram os números até a publicação desta reportagem.
Até o fim
Younes, do Hospital São José, explica, no entanto, que em alguns casos a intervenção cirúrgica é inevitável, mesmo que seja para descobrir que o paciente não tem nada.
- Em um fumante crônico, por exemplo, você faz chapa e acha um nódulo. Faz um PET e acha um nódulo. Então você faz a cirurgia e tira o nódulo. Esse é o procedimento correto, mesmo sendo um falso positivo.
Não existe um procedimento padrão diante dos casos suspeitos. A ação do médico vai depender de cada paciente, segundo o médico do São José.
- A gente vai atrás até provar, para ter certeza. Mas, dependendo do caso, a gente fica só olhando, esperando a evolução.
Falta de capacitação leva ao falso positivo
Para Younes, um dos problemas que podem acarretar nos falsos diagnósticos é a falta de mais capacitação dos profissionais que lidam com o câncer.
- O falso positivo é perigoso, pode fazer mal, por isso é preciso treinar os médicos para eles poderem identificar os casos e agir cautelosamente, levando em consideração o resultado de cada exame.
Já Soares, do A.C. Camargo, afirma ainda que, em casos de dúvidas de um diagnóstico, os médicos devem procurar outros profissionais mais experientes. E os pacientes também devem participar desse processo.
- Da mesma maneira que o paciente sabe quem é o seu médico, saiba também quem é o seu patologista. Uma segunda opinião num diagnóstico como esse nunca é demais. Nós mesmos, dentro do nosso laboratório, temos várias opiniões: primeiro o residente olha [o exame], depois um patologista, em seguida um segundo patologista. Todos os dias nós fazemos uma reunião no fim da tarde com os casos mais difíceis.
Fonte R7
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