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domingo, 31 de julho de 2011

Medicinas da dor, do sono, tropical e paliativa se tornam especialidades

Conselho Federal de Medicina publica amanhã no 'Diário Oficial' uma resolução em que reconhece as quatro novas áreas como especialidades; para ter o título, médicos terão de cursar um ano extra; dos 350 mil profissionais do País, 48% são especialistas

Na ala destinada aos doentes terminais no Hospital de Apoio de Brasília, os quartos têm nomes de pássaros e flores. Não há placas para indicar que os pacientes ali têm doenças incuráveis. Tampouco há tristeza aparente nos cuidados do que se convencionou chamar de medicina paliativa, que será reconhecida como uma nova especialidade médica.
Andre Dusek/AE
Andre Dusek/AE
Alívio. Voluntária faz aplicação de reiki em paciente internado na unidade de assistência com cuidados paliativos do Hospital de Apoio do DF, em Brasília
"Há muito a ser feito pelos pacientes nessas condições, acompanhar o doente no final da vida é algo bastante complexo", argumenta a médica Maria Goretti Sales Maciel, primeira presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, uma das defensoras da nova área de atuação reconhecida oficialmente.
Amanhã, o Diário Oficial da União (DOU) publicará resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) com as novas áreas de atuação: medicina paliativa, medicina da dor, medicina do sono e medicina tropical. Serão como subespecialidades, abertas a médicos especialistas em outras áreas mediante um ano extra de formação.
Acréscimo. Atualmente, o conselho reconhece um total de 53 especialidades e outras 53 áreas de atuação. "A gente entende que médico precisa ser médico antes de ser especialista, as especialidades são um acréscimo", responde o cirurgião plástico e diretor do CFM Antonio Pinheiro, integrante da comissão que analisa os pedidos de novas especialidades.
O País tem cerca de 350 mil médicos e quase metade deles (48%) é especialista em alguma coisa, diz Pinheiro. "A nossa graduação é frágil e algumas especialidades requerem três, cinco anos extras de estudos", explica o diretor do Conselho Federal de Medicina.
As novas subespecialidades serão reconhecidas ao mesmo tempo pelo conselho, pela Associação Médica Brasileira e pela Comissão Nacional de Residência Médica. Por determinação do convênio entre as três entidades, cada médico só poderá se apresentar como especialista em duas áreas de atuação. Cada uma delas exige, como pré-requisito, outro tipo de especialidade.
O reconhecimento da medicina paliativa acontece menos de um ano depois de a Justiça reconhecer a prática da ortotanásia, a suspensão do tratamento para prolongar a vida de pacientes em fase terminal de doenças incuráveis, desde que autorizada pelo próprio paciente ou seu responsável. Mas o pedido de reconhecimento da área de atuação é mais antigo, de acordo com Maria Goretti Sales Maciel. A cada ano, estima-se que 650 mil pessoas no País precisam recorrer a cuidados paliativos.
Estudo da Dor. A clientela potencial da área de atuação da medicina da dor seria muito maior, segundo cálculo do médico Nilton Barros, ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor: "Cerca de 60 milhões de brasileiros sofrem de dores crônicas", calcula o especialista.
A área foi ampliada e está aberta como superqualificação a especialistas em acupuntura, anestesiologia, neurocirurgia, neurologia, ortopedia e reumatologia.
Dor crônica é aquela que ultrapassa o período de três meses. "A dor é ainda pouco valorizada entre os profissionais da saúde, mas deveria ser considerada como o quinto sinal vital, ao lado do pulso, pressão, respiração e temperatura", avalia Barros.
Especialistas em medicina do sono terão como pré-requisito a especialização em neurologia, otorrinolaringologia, pneumologia e psiquiatria.
A medicina tropical, outra nova área de atuação, exigirá especialidade em infectologia. O estudo de doenças dos trópicos já teve grande destaque entre os médicos no passado, mas acabou absorvida pela infectologia.
"A intenção é proporcionar um ano extra de formação em doenças como malárias, hanseníase, febre amarela e a dengue, que precisam de um olhar especial", defende Juvêncio Duailib, chefe do Setor de Infectologia do Hospital de Heliópolis (SP) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
"Serão tropicalistas, mesmo sem terem sido baianos ou tocado violão", disse o médico, sobre a denominação para os especialistas em medicina tropical. Ele lembra que antes do movimento tropicalista, que movimentou a cultura do País no final dos anos 60, o termo "tropicalista" já era usado pelos médicos.

Fonte Estadão

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