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domingo, 31 de julho de 2011

Por medo, pacientes fazem exames demais e descobrem falsas doenças

Médicos alertam para os riscos da prevenção em excesso e de diagnósticos errados

Exame de sangue, urina, teste ergométrico, mamografia, PSA (para câncer de próstata), biópsias. Para cuidar da saúde hoje, a medicina possui uma série de recursos à disposição. Mas a preocupação com a saúde, aliada à tecnologia, está criando outro problema: a prevenção em excesso.

Médicos consultados pelo R7 alertam que, por medo de terem alguma doença ou por incentivo dos profissionais de saúde, pacientes fazem exames demais e acabam descobrindo doenças e problemas que não possuem. Mas até chegarem ao diagnóstico certo, essas pessoas já passaram por cirurgias e até tratamentos desnecessários.

De acordo com o médico Gustavo Gusso, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Sociedade, os pacientes precisam saber que os exames não são 100% precisos, mas foram criados para detectar problemas. Por isso são mais eficazes quando usados na população certa, ou seja, quando existe uma suspeita.

- Se você faz o exame em uma população sem problema, o exame é ineficaz. Não que o exame seja ruim, mas ele dá errado quando é usado da maneira incorreta.

O risco de se fazer um exame desnecessário são as consequências que o resultado desse teste vai trazer, afirma Gusso.

- Pode ter falso positivo, pode dar o resultado não esperado, e isso não é raro acontecer. Daí a pessoa faz a biópsia e descobre que não era nada. Ela fica aliviada, num primeiro momento, mas depois percebe que passou por estresse, preocupação desnecessária e enfrentou o estigma de estar com uma doença. Só que, em geral, pecar por excesso é mais perigoso do que não fazer nada.

Um dos erros mais comuns dos testes são os chamados falsos positivos: quando a pessoa não possui a doença, mas o exame indica que sim. Nesse caso, um resultado errado leva a uma série de outros testes.

Segundo o patologista Fernando Augusto Soares, diretor de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo, especializado em câncer, não é incomum encontrar casos de falsos positivos. Soares afirma que toda semana há pelo menos um caso de paciente diagnosticado com câncer, mas que, na verdade, não tem a doença. Isso ocorre quando o hospital recebe um novo paciente já diagnosticado, mas decide rever o diagnóstico antes de iniciar o tratamento.

No Brasil, não existe um levantamento sobre quantas pessoas morreram ou se prejudicaram por causa de ações dos médicos. Mas, para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, um estudo realizado pela médica Barbara Starfield, da Faculdade Johns Hopkins de Higiene e Saúde Pública, e publicado na revista científica Journal of The American Medical Association, mostrou que a atividade médica é a terceira causa de morte no país. Isso inclui erros médicos, cirurgias desnecessárias, reações a medicamentos, entre outras razões. A atividade médica fica atrás apenas de doenças cardíacas e infarto.

Culpa dos médicos x paranoia
Para o clínico médico Claudio Miguel Ruffino, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o principal culpado desse exagero de exames é a própria classe médica, “que se esqueceu da relação entre o médico e paciente”.

Ruffino afirma que a principal forma de se fazer um diagnóstico não é por meio de exames, mas a partir da anamnese – a entrevista que o médico faz com o paciente. É nesse teste que se descobrem o estilo de vida de cada pessoa e os sinais e sintomas de uma provável doença.

- Todo mundo tem que fazer teste ergométrico, por exemplo? Não necessariamente. A prevenção é algo mais individualizado, não em massa. Precisa de uma queixa, uma suspeita, para indicar um exame.

Ruffino aponta outro problema: ao não lidarem de uma forma mais individual com cada paciente, os médicos acabam dependendo exclusivamente dos exames para fazer o diagnóstico.

- O exame é para confirmar um diagnóstico já feito, é para confirmar o exame clínico. Ele não é esclarecedor de tudo. Quando bem solicitado, ele dá muitos parâmetros, ele soma a outros dados clínicos. Mas em excesso, como é feito hoje, prejudica muitas pessoas.

Para Gusso, esse exagero “faz parte da paranoia da vida eterna que a saúde e a medicina compraram”.

- Fala-se muito em prevenção, check-ups, e as pessoas passaram a acreditar que fazer uma série de exames pode ajudar. Mas a prevenção está se tornando uma indústria no país.

Segundo o médico, a população precisa aprender que a melhor forma de prevenção não são os exames, mas, sim, “fazer exercícios, comer bem, não fumar e não beber”. Além disso, ele diz que detectar uma doença e tratá-la nem sempre é o caminho mais indicado a seguir.

- Se você ficar fissurado com próstata ou mama, você acaba morrendo de infarto. E se chegar aos 80 anos e descobrir um câncer de mama, ótimo. Tem que comemorar porque chegou aos 80. As pessoas precisam aceitar que vão morrer de alguma coisa.

Fonte R7

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