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domingo, 24 de julho de 2011

Portugal: 30% sofrem com ouvido tapado

A disfunção crónica da trompa de Eustáquio, que se caracteriza pela sensação de ouvido tapado, atinge 30% da população, a maioria crianças. Quando a obstrução se torna persistente, podem-se desenvolver complicações, como otites, perda de audição e, no caso mais grave, meningites. Actualmente é possível tratar a causa do problema através de uma cirurgia. A técnica, inovadora na Península Ibérica, é realizada no Hospital de Braga.

A trompa de Eustáquio é um pequeno "tubo" que faz comunicação entre o nariz com o ouvido, tem a função de ventilação e drenagem do ouvido médio, permitindo equilibrar as pressões entre os dois compartimentos. Quando está obstruída, o ar não passa, provocando sintomas como autofonia, sensação de ouvido tapado e zumbido. Numa fase posterior, pode levar a inflamações e infecções crónicas do ouvido (otites). Em casos mais avançados, agrava a perda de audição e pode provocar meningites.

A disfunção é mais frequente em crianças, onde está associada à hipertrofia de adenóides com acumulação de líquido no ouvido médio, nos mergulhadores e nos profissionais de aviação, porque lidam com mudanças de pressão.

Esta nova cirurgia consiste em desobstruir a trompa de Eustáquio com um balão de pressão, introduzido no nariz por um cateter até ao ouvido médio. A maioria dos pacientes recupera totalmente ao fim de dois meses. Os primeiros doentes começaram a ser operados na semana passada. Nesta fase inicial, a técnica é apenas aplicada em adultos, por questões de segurança. "É uma cirurgia minimamente invasiva, com material e técnicas delicadas, que vai permitir um pós-operatório mais rápido, em regime de ambulatório, e com menos complicações", explicou o director do serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Braga, Rui Pratas, responsável pela adopção em Portugal desta cirurgia. Utentes dos distritos de Braga e Viana do Castelo (área de influência do Hospital de Braga) podem recorrer à cirurgia através do SNS.

SINTOMAS SURGEM MAIS TARDE

Quando o paciente começa a ter os primeiros sintomas, é sinal de que a obstrução já existia há algum tempo. "Surge mais nas crianças, mas as complicações aparecem na segunda e na terceira décadas de vida", explica Rui Pratas.

As crianças ficam com líquido no ouvido, que, se não for tratado, infecta. "Encontramos muitos doentes nesta fase de otite média crónica cujo único tratamento é a cirurgia. O melhor é recorrer precocemente ao centro de saúde e não deixar evoluir", acrescenta o especialista. Nos casos mais graves, quando a infecção não é tratada, pode evoluir para meningite.

DISCURSO DIRECTO

"TRATAMOS A CAUSA": Rui Pratas, Director Otorrinolaringologia Hosp. Braga

Correio da Manhã – O que é que esta cirurgia tem de novo?

Rui Pratas – Passa-se do tratamento das complicações para a causa do problema.

– Como evolui a disfunção?

– Tudo começa com uma inflamação, depois pode evoluir para infecção crónica. Se não for tratada atempadamente, pode levar a consequências mais graves, como meningite, que é potencialmente fatal.

– Qual a razão por que atinge tanta gente?

– É consequência de falta de cuidados primários de saúde. O ouvido só apresenta sintomas numa fase avançada da doença.

O MEU CASO: PAULO SILVA

"POSSO FAZER A MINHA VIDA NORMAL"

Paulo Silva, de 28 anos, natural de Barcelos, tem problemas auditivos desde muito novo. "Tive uma perfuração no tímpano esquerdo", explica. A perfuração foi consequência da obstrução da trompa de Eustáquio. Em criança, era frequente ter otites. "Não tinha otites a doer. Derramava pus e incomodava-me o mau cheiro. O médico dava-me antibióticos porque não era possível ser operado em criança", conta.

As otites crónicas evoluíram ao ponto de começar a sentir dificuldade de audição do lado esquerdo. E, apesar de actualmente trabalhar como encadernador, rodeado de máquinas, Paulo admite que só "muito barulho" o irritava. No entanto, estes problemas levaram a que, há três anos, fosse aconselhado pelo médico a recorrer à cirurgia. "No final dos exames, viram-me o nariz e disseram que não podia ser logo operado, porque tinha o septo torto. Então fui operado ao septo e esperei pela nova cirurgia", diz Paulo.

Em Junho deste ano, foi submetido a uma timpanoplastia no Hospital de Braga e, passado pouco tempo, foi chamado novamente. "Falaram-me numa cirurgia inovadora e disseram-me que o meu quadro clínico se enquadrava nela. Na outra cirurgia, acordei tonto e com falta de equilíbrio. Esta não interfere em nada, posso fazer a minha vida normal."

PERFIL

Paulo Silva Trabalha em artes gráficas, rodeado de máquinas que até fazem pouco barulho. Só otites crónicas, dificuldade de audição e pouca tolerância ao ruído é que o levaram a ser operado ao tímpano. Agora, foi operado à trompa de Eustáquio.

Fonte Correio da Manhã

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