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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Homens não são de ferro: receio de ir ao médico compromete a saúde masculina

De acordo com o IBGE, os homens vivem sete anos a menos do que as mulheres


A sociedade formou os homens para não chorar. Fortes, invulneráveis e invencíveis, julgam ser de ferro, afastando-se o máximo possível do consultório médico. Quando vão, é depois de muita insistência — feminina, é claro. Mas acredite: a típica resistência masculina em prevenir doenças não parte só do lado de lá. Eles foram praticamente excluídos dos sistemas de saúde desde a sua criação.

— Serviços de saúde foram criados e organizados pensando na mulher grávida, nos cuidados com recém-nascidos, para garantir que as crianças nascessem saudáveis. E a saúde do homem acabava ficando em segundo plano em função da jornada de trabalho — explica a antropóloga Daniela Riva Knauth, professora do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Na infância, sinais de fraqueza não fazem parte da educação dos meninos. Quando os sintomas de debilidade  parecem, seja sob a forma de doença ou indício de qualquer tipo de incapacidade, a luz vermelha acende. Ir ao médico ou realizar um exame de rotina pode corresponder a um atestado de fragilidade pública, ligado à ideia do envelhecimento e da morte.

A explicação do fenômeno não se esgota por aí. Ao tentar justificar a seleção natural proposta por Charles Darwin, da qual homens nasceram para caçar e mulheres para cuidar da saúde da prole, esbarra-se numa lacuna. Quanto mais os homens precisavam trabalhar para sustentar a família, mais adoeciam e acabavam morrendo em razão de enfermidades provocadas por consumo de tabaco, álcool e drogas, obesidade, hipertensão, diabetes e outras epidemias do gênero. E os serviços continuavam ignorando-os e vice-versa.

O resultado é que, até hoje, pacientes continuam recorrendo a especialistas com a doença em estado mais avançado, muitas vezes arrastados por suas mães ou mulheres. Quando, na verdade, deveriam ter procurado muito antes um acompanhamento preventivo no posto de saúde mais próximo. Isso evitaria o chamado diagnóstico tardio, que sobrecarrega o sistema público e aumenta os custos do Sistema Único de Saúde (SUS). E acaba trazendo mais sofrimento para a vítima e sua família.

— O homem é muito “abandonadinho”. Ele nasce e ganha um médico, o pediatra, mas para por aí. Enquanto isso, a  menina sai do pediatra e logo que fica menstruada, cai direto no ginecologista. O homem só volta ao urologista quando faz 50 anos, para examinar a próstata e olhe lá — resume o urologista Henrique Sarmento Barata.

O médico, porém, acredita que o cenário  está melhorando: 
— Antigamente, eles não chegavam nem perto do consultório.

Enquanto dos 20 aos 39 anos, a maior causa de morte entre os homens se dá por fatores externos, como violência urbana associada ao uso de bebidas alcoólicas, dos 40 aos 59 anos eles padecem mais de doenças circulatórias, metabólicas e tumores.

— É importante lembrar que, no caso do câncer de próstata, deve-se fazer um exame precoce — afirma Barata.

Prevenção, também para eles, é essencial.

Explicações nas estatísticas
:: Pesquisas provam que quando os serviços de saúde oferecem horários flexíveis, especialistas na questão da sexualidade e pessoas treinadas para ouvi-los, o público masculino os procura. As maiores influências para o homem ir ao médico são a esposa ou a companheira (66%) dos entrevistados.

:: Uma outra pesquisa, realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia com 1.061 homens, de 10 capitais brasileiras, na faixa etária de 40 a 70 anos, mostrou que apenas 32% dos homens fizeram o exame de toque retal, apesar de 76% saber que o exame é usado para detectar o câncer de próstata.

:: A mesma pesquisa quis saber porque, então, eles não fazem o exame. A resposta pode estar no preconceito e machismo. O levantamento mostrou que 77% concordam que os homens não fazem exame de toque retal por preconceito e 54% percebem que os homens têm medo do exame. Mas, quando questionados sobre a não a realização do exame, apenas 8% admitem preconceito em relação ao toque, enquanto 13% afirmam descuido, preguiça, relaxo e falta de tempo.

:: Fazer com que o sexo masculino invista na prevenção é uma urgência para o Ministério da Saúde, por isso foi criada a Política Nacional de Saúde do Homem. O objetivo é facilitar e ampliar o acesso da população masculina aos serviços de saúde. A iniciativa é uma resposta à observação de que os agravos do sexo masculino são um problema de saúde pública.

:: A cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens. Eles vivem, em média, sete anos menos do que as mulheres e têm mais doenças do coração, câncer, diabetes, colesterol e pressão arterial mais elevadas. Por meio dessa iniciativa, o governo federal quer que, pelo menos, 2,5 milhões de homens na faixa etária de 20 a 59 anos procurem o serviço de saúde ao menos uma vez por ano.

:: O urologista Miguel Srougi, professor da Universidade de São Paulo (USP) aposta no sentimento de  invulnerabilidade para explicar a aversão masculina  aos médicos. Segundo ele, os homens crescem com o conceito da evolução de que só os fortes sobrevivem e que, para se impor, precisam ter saúde.

:: Um estudo feito pela empresa SulAmérica com 26 mil homens de 12 estados brasileiros constatou que 60% deles têm sobrepeso e 20% sofrem pressão arterial elevada — mas só 8% sabem que têm a hipertensão. Esses problemas estão relacionados a doenças cardiovasculares, como derrame cerebral e infarto do miocárdio, que têm alto índice de letalidade.

:: A influência das mulheres para convencer o homem a buscar tratamento também conta quando o problema está relacionado à vida sexual. Um levantamento feito em 2009 no Hospital das Clínicas de São Paulo mostrou que 30% dos que buscam o Ambulatório de Sexualidade da instituição o fazem a pedido da companheira. A disfunção erétil representa 55% dos atendimentos.

:: Os médicos alertam que os homens devem ir, a partir dos 30 anos, anualmente checar sua saúde num clínico geral e cardiologista, que pedirá exames para verificar o estado geral de saúde e, caso seja detectada alguma anormalidade, encaminhar a especialistas. A partir dos 45 anos, a visita ao urologista é obrigatória, mas caso tenha casos de câncer na família, aos 40.

Dados alarmantes
:: Do total de pessoas entre 20 e 59 anos que morre no Brasil, 66% são homens.

:: De acordo com o IBGE, os homens vivem sete anos a menos do que as mulheres.

:: Um em cada 18 homens têm câncer de próstata, doença que possui 80% de chance de cura se detectada no início.

:: O check-up anual deve ser obrigatório a partir dos 30 anos.

Fonte Zero Hora

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