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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Na era da informação, ainda há muitas dúvidas quando o assunto é sexo

Fator intimamente relacionado à qualidade de vida, o sexo, que deveria trazer prazer e benefícios à saúde, pode ser prejudicado por problemas que, na maior parte dos casos, têm fundo emocional.

Esses inconvenientes, denominados disfunções sexuais, são comuns tanto aos homens quanto às mulheres e afetam o desejo, interferindo nas respostas fisiológicas e psicológicas do indivíduo.

O ciclo de resposta sexual é formado por desejo, excitação e orgasmo. O primeiro caracteriza-se pelas fantasias e estímulos desencadeados pelos sentidos visuais, auditivos, olfativos, gustativos e táteis. Na segunda fase, ocorrem várias modificações no organismo, como a produção hormônios de secreções e, no caso do homem, a ereção. Já a última é o ápice: ejaculação e espasmos musculares involuntários. Quem sofre de disfunção sexual pode passar por alterações em qualquer uma dessas fases.

Segundo a terapeuta sexual Luciane Secco, esses problemas podem ser causados por histórico familiar, questões religiosas, falta de informação, tabus, preconceitos, educação sexual inadequada, experiência traumática e aspectos da personalidade, entre outros. Por estarem, na maioria das vezes, relacionados a aspectos psicológicos, são tratados com terapia sexual, na qual se utilizam técnicas comportamentais-cognitivas. “A terapia sexual tem o propósito de ser breve e focal. Pode estar ou não associada a outra linha psicoterapêutica. O processo terapêutico pode ocorrer individualmente ou com o casal. Mesmo sem parceria, é possível tratar qualquer disfunção”, salienta a especialista.

Desejo
Embora muito se fale da disfunção erétil como um problema sexual, o urologista Claudio Teloken cita outros males que impedem que o indivíduo sinta vontade de fazer sexo. O denominado desejo sexual hipoativo (DSH) é um exemplo. Comum aos dois gêneros, o DSH faz com que o interesse sexual seja mínimo ou quase nulo. “Há rejeição de trocas de carícias, jogos eróticos, os quais poderiam ensejar aumento de libido e estímulo sexual”, diz.

O médico destaca que uma das circunstâncias mais comuns que acompanham o DSH é a depressão: estudos científicos indicam que o problema é diagnosticado em 61% dos indivíduos deprimidos e somente em 27% dos não deprimidos. A prevalência é maior entre mulheres. De acordo com Teloken, pessoas que sofrem desse mal apresentam diminuição da frequência sexual, insatisfação geral, irritabilidade, menos chance de ter orgasmos e grande angústia. Teloken ressalta que a investigação primária visa identificar possíveis alterações hormonais. Além disso, se o paciente estiver deprimido, é indicada a terapia sexual acompanhada de medicamentos específicos. Outra alternativa é a mudança do estilo de vida, como perda de peso e prática de exercícios físicos.

Mais grave ainda é a aversão sexual (AS), distúrbio caracterizado por extrema ansiedade ou repulsa no envolvimento de trocas afetivas e eróticas, além da repugnância a qualquer atitude que sugira ou direcione-se à esfera sexual. A AS é consequência de inúmeros fatores, incluindo patologias psiquiátricas ou problemas circunstanciais. “Pode ser resquício de abuso sexual na infância, atividade sexual na adolescência não consentida, alternativas sexuais abominadas por uma das partes, presenciar na idade pré-puberal atividade sexual dos pais, ouvir palavras de baixo calão trocadas entre pai e mãe, entre outras situações que marcam indelevelmente a criança, produzindo aversão sexual”, descreve.

Excitação
O ginecologista Antônio Verlon explica que as disfunções podem estar relacionadas a questões conjugais mal resolvidas ou, ainda, pelo esgotamento físico. Ele conta que já percebeu essa ligação em casos atendidos no consultório. “Às vezes, o relacionamento não anda bem ou pessoa está estressada sem saber, e não consegue se excitar”, exemplifica.

Muitos fatores podem interferir na resposta sexual e é comum ouvir dizer que os métodos contraceptivos e também a reposição hormonal atuam negativamente nesse sentido. Para Verlon, ocorre o contrário. “Os anticoncepcionais, desde a revolução sexual, permitiram que as mulheres se sentissem mais seguras, por saberem que não iriam ficar grávidas. Com isso, a concentração na busca pela satisfação se valorizou”, explica. Já no caso da reposição hormonal, a relação melhora ainda mais. “Os hormônios previnem o ressecamento vaginal, aumentam o desejo e a qualidade da relação sexual”, conta.

Quando o problema é durante a relação, Verlon ressalta que a anorgasmia — dificuldade de atingir o orgasmo — é um dos mais prevalentes; principalmente entre as mulheres. A disfunção pode ocorrer por diversos fatores, como alcoolismo, uso de antidepressivos, mutilações sexuais e retirada da próstata. Mas o mais comum, novamente, são as questões psicológicas. Para o especialista, a ansiedade e a preocupação em satisfazer o parceiro figuram como causas prováveis. “O ideal é que os dois aproveitem igualmente”, recorda.

Mulheres com essa disfunção apresentam, geralmente, inibições socioculturais que interferem nas respostas sexuais. Além disso, podem ter passado por episódios de violência mal resolvidos, desconhecem a própria sexualidade ou podem sofrer de dispareunia. “Esta última é caracterizada pela dor na hora de relação, e é muito comum também quando a mulher não consegue atingir a excitação; ou seja, não atinge a lubrificação necessária”, salienta. A disfunção pode ser causada tanto por problemas orgânicos, como doenças e infecções nas genitálias, quanto psicológicos.

Emancipação
A emancipação feminina foi marcada, em meados de 1960, pelo surgimento da pílula anticoncepcional. A novidade influenciou o surgimento dos movimentos feministas e ocasionou desdobramentos libertários, igualitários e políticos.
Fonte Correio Braziliense

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