Quarenta brasileiras, em estágio avançado de câncer de mama
“emprestaram” seus quadros clínicos para que a indústria farmacêutica
elaborasse um novo medicamento contra a doença. Os resultados sobre a
eficácia do novo remédio acabam de ser apresentados no Congresso Anual
da Sociedade Americana de Oncologia (ASCO, sigla em inglês), que
aconteceu em Chicago, nos Estados Unidos.
As pacientes do Brasil estão entre as 991 mulheres do mundo todo que
foram submetidas aos testes da nova droga, elaborada com a participação
de 13 centros de atendimento brasileiros. O remédio é tido como um dos
primeiros representantes dos tratamentos anticâncer do futuro, segundo
avaliaram os experts envolvidos na produção do medicamento – ainda
considerado experimental pelas agências reguladoras.
De acordo com o estudo – visto pelos maiores especialistas do mundo
reunidos no congresso desde o último sábado – a droga funciona como um
GPS, mirando exclusivamente as células afetadas pelo câncer, fazendo com
que a medicação só ataque a região doente e preserve outras partes do
organismo.
Com esta ação direcionada do medicamento, os efeitos colaterais
– principalmente enjoo e queda de cabelo – são reduzidos e o controle
do câncer de mama é estendido por mais tempo, mesmo nas mulheres que,
até então, não haviam respondido às terapêuticas padronizadas para agir
nos estágios avançados do câncer – uma das condições para serem
selecionadas para os testes clínicos.
“O trastuzumabe emtansine (T-DM1) – nome do novo remédio – é o
representante mais importante e viável desta nova geração de
medicamentos oncológicos”, afirmou Carlos Bairros, oncologista do
Hospital Mãe de Deus,em Porto Alegre, uma das referências nacionais no
tratamento do câncer.
“Isso porque ele reúne dois mecanismos de ação. O primeiro é
que a proteína existente em sua composição funciona como uma espécie de
GPS mirando apenas as células cancerosas. O segundo é que o
quimioterápico acoplado a este proteína tem efeito ‘cavalo de tróia’, ou
seja só destrói a parte doente”, informa Bairros, que participou dos
testes clínicos.
Ainda não aprovado
De acordo com o oncologista – porta-voz do Brasil sobre a nova
droga – estas características tornam o T-DM1 menos tóxico, um dos
calcanhares de Aquiles dos tratamentos contra o câncer existentes hoje.
“Das pacientes submetidas à terapia com o T-DM1, 43,6% tiveram os
tumores reduzidos contra 30,8% das que receberam a terapia padrão”,
informa o trabalho científico com os resultados da pesquisa.
Os resultados do estudo sugerem ainda que no grupo de mulheres
tratadas com a nova droga 40,8% apresentaram efeitos colaterais graves,
frente a 57% das submetidas à terapêutica padronizada para estágios
avançados de câncer de mama.
Com base nos resultados deste estudo, a fabricante que patrocinou
a pesquisa planeja apresentar pedidos de aprovação do T-DM1, ainda
neste ano, para a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e Agência de
Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA), passos importantes para o
ingresso de autorização do produto no Brasil. São as agências
reguladoras que avaliam a consistência da análise, pedem mais
informações, e também ponderam os efeitos a longo prazo da nova
terapêutica. No entanto, ainda não há previsão para a droga entrar no
mercado, processo que pode levar anos.
Tendência
Tornar o tratamento anticâncer menos tóxico e mais seguro aos
pacientes é a mais recente tendência das farmacêuticas. A maioria das
novas drogas apresentadas no ASCO, para os mais variados tipos de
tumores malignos, tem como diferencial este mecanismo de ação.
Os médicos estão ansiosos por estas novas terapêuticas, não apenas para aumentar a qualidade de vida dos pacientes, mas para terem um arsenal mais amplo de tratamento para quem chega ao diagnóstico já em fase avançada do câncer – realidade de 40% das mulheres brasileiras, que morrem no primeiro ano após constatarem que tem o câncer de mama.
Fonte iG
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