
As conclusões são de um estudo no periódico científico francês "Prescrire" (que não aceita anúncio ou patrocínio da indústria farmacêutica) e foram apresentadas na semana passada em conferência na Universidade Georgetown, em Washington.
No levantamento, foram analisadas 998 drogas aprovadas pelas agências reguladoras americana e europeia entre 2002 e 2011.
Dessas, 514 (51%) não se mostraram melhores do que as mais antigas. E apenas uma parcela mínima (1,5%) foi considerada pelo periódico uma real inovação.
Segundo o estudo, 14,8% dos novos remédios trouxeram mais riscos do que benefícios aos pacientes.
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Entre eles, estão o Vioxx (anti-inflamatório) e o Avandia (para controle do diabetes), ambos retirados do mercado em 2004 e 2010, respectivamente, por aumentar os riscos cardiovasculares.
Os resultados devem servir de munição contra um projeto de lei em trâmite no Congresso americano que pretende acelerar a aprovação de drogas consideradas essenciais ("life saving").
Uma das propostas é encurtar a fase 3 da pesquisa clínica, a última antes de a droga ser aprovada no país.
Em geral, agências reguladoras de outros países, como o Brasil, seguem os mesmos critérios adotados pelos EUA.
"Os laboratórios são um dos principais financiadores das campanhas eleitorais. O políticos pressionam a FDA [agência que regula fármacos e alimentos no país] para que atenda às necessidades da indústria", afirma o médico Joel Lexchin, pesquisador da área farmacêutica e professor da Universidade York, em Toronto (Canadá).
Para Donald Light, professor na Universidade de Nova Jersey (EUA) e pesquisador do Safra Center for Ethics, caso a lei seja aprovada, haverá um prejuízo ainda maior para a segurança.
"Será temerário", resume. Segundo ele, 80% do orçamento com medicamentos nos EUA vai para os novos remédios. Também é para onde vai 90% do marketing da indústria farmacêutica.
"A falta de drogas novas e eficazes não afeta o lucro da indústria porque ela tem muito sucesso com o marketing de drogas que não têm vantagem sobre as mais antigas", afirma a médica Adriane Fugh-Berman, professora da Universidade Georgetown. Ela cita o lítio como exemplo de droga antiga e eficaz.
Outro lado
Mark Grayson, que responde pelo setor de relações públicas internacionais da Pharma (associação das indústrias farmacêuticas nos EUA), não quis comentar a pesquisa da "Prescrire".
Mark Grayson, que responde pelo setor de relações públicas internacionais da Pharma (associação das indústrias farmacêuticas nos EUA), não quis comentar a pesquisa da "Prescrire".
"Nessa última década, as mortes por doenças cardíacas e por câncer tiveram uma significativa queda. Muitos concordariam que esses ganhos foram obtidos por conta das novas drogas", disse.
Em nota, a FDA também não comentou o estudo e refutou que sofra pressão política na aprovação das drogas.
Fonte Folhaonline
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