Cercada por preconceito, doença afeta a qualidade de vida do portador
Os ataques súbitos de sono, em que a pessoa adormece sem querer enquanto dirige, conversa ou faz outras atividades normalmente entediantes, são a característica mais marcante da narcolepsia, uma doença que pode afetar gravemente a qualidade de vida do indivíduo. Como ainda há muito preconceito em torno desse distúrbio, o portador costuma ser taxado de preguiçoso, dorminhoco, desatento e distraído, seja no ambiente familiar, escolar ou profissional. "Já vi pessoas perderem o emprego ou se separarem por causa da narcolepsia", diz a médica do Instituto do Sono e professora do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Dalva Poyares.
A cataplexia, perda repentina de força muscular, é mais um sinal da doença e aparece em 60% a 90% dos casos. De acordo com Dalva, o problema pode ser parcial (em somente um grupo de músculos, como face, pescoço e coxa) ou total (no corpo todo, o que provoca quedas).
"A perda de tônus é normalmente desencadeada por emoções, sendo o riso uma das principais", explica a especialista. Euforia, tristeza, constrangimento e orgasmo também podem causar cataplexia.
Alucinações hipnagógicas (quando a pessoa está pegando no sono) e hipnopômpicas (quando está acordando) também são um indicador da narcolepsia, mas podem acontecer isoladamente, sem ter relação com a doença. As imagens que o indivíduo vê costumam parecer muito reais, o que assusta. "A pessoa não sabe se está dormindo ou não, mas tem a impressão de estar sonhando", descreve Dalva.
Outro sintoma é a paralisia do sono, que também pode surgir sem a narcolepsia. Cerca de 4% das pessoas têm uma vez ou outra sem que isso represente um problema de saúde. "Uma das fases do sono é a atonia muscular (na qual os músculos ficam paralisados). Quando o cérebro acorda nessa etapa, mas os músculos não, ocorre a chamada paralisia do sono", diz a professora da Unifesp. Durante essa defasagem, a pessoa pode ter sensação de morte iminente, já que não consegue se mexer.
"Se você vir alguém nessa situação, a primeira coisa é explicar que isso não é problema sério e dizer para ela continuar respirando que vai passar. Normalmente, passa em até um minuto e não precisa de remédio", recomenda. Outra orientação que pode ser dada é para a pessoa movimentar os olhos. "Há estudos que indicam que, fazendo isso, é possível sair do episódio mais rapidamente", afirma Dalva.
A narcolepsia é mais comum a partir dos 20 anos, mas também pode atingir crianças. "O estresse contribui para o desenvolvimento da doença. Mas, segundo pesquisas, a principal causa parece ser genética", diz a médica do Instituto do Sono. Em função dessa alteração genética, a produção de orexina (neurotransmissor estimulante) pelas células de um pequeno núcleo do hipotálamo é insuficiente.
A doença não tem cura, mas existem medicamentos que controlam o problema. "O objetivo é que pessoa permaneça acordada. Então, os remédios promovem um estado de vigília", explica Dalva.
Ao longo da vida, o paciente pode ter períodos em que não apresenta o distúrbio e, portanto, não precisa da medicação. Mas a médica alerta que, quando não estão medicados e ainda sentem os sintomas, os narcolépticos devem evitar operar máquinas e dirigir veículos para reduzir os riscos de acidentes.
Fonte Minha Vida
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