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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Apoio da família é fundamental para adolescente se submeter à bariátrica

As consultas com endocrinologista e nutricionista começaram cedo para Juliana Guimarães Rocha - aos 4 anos. Era uma criança fora dos padrões. E a situação se agravou. Na adolescência, repetiu o 1.º ano do ensino médio por não ir às aulas. Evitava sair de casa: tinha a impressão de que todos a olhavam. Na escola, era vítima de perseguição dos colegas. Passou, então, a se isolar. Nem os amigos a convidavam mais para sair. Ela tinha 16 anos e pesava 136 quilos "e meio", como faz questão de ressaltar.

Foi nessa época que começou a frequentar as reuniões do grupo de obesidade de uma clínica de cirurgia bariátrica. Ficou encantada com as fotografias de "antes e depois" dos pacientes e chamou o pai, também obeso, para os encontros. "O médico não queria me operar. Disse que meu pai faria a cirurgia primeiro porque queria que eu visse tudo o que podia me acontecer. Mas eu estava decidida", conta Juliana, que já estava sob acompanhamento psicológico havia um ano.
 
Juliana foi operada seis meses depois da primeira consulta, com autorização especial do Conselho Regional de Medicina (CRM), recomendação da psicóloga, e termo de responsabilidade assinado pelos pais. Emagreceu 50 quilos. "Passei a ter vida, porque antes eu não tinha vida", resume, aos 21 anos, a hoje estudante de Hotelaria.
 
Para operar na rede particular, um adolescente já não precisa de autorização especial - o Conselho Federal de Medicina (CFM) regulamentou a questão em 2010. O Ministério da Saúde abriu em setembro consulta pública para mudar a portaria que trata da cirurgia bariátrica nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) - entre as modificações está a redução da idade mínima para 16 anos. As novas regras devem entrar em vigor no ano que vem.
 
O ministério se baseou nos dados da Pesquisa de Orçamento Familiar de 2009. O levantamento feito pelo IBGE apontou que 27,6% das pessoas de 10 a 19 anos apresentavam excesso de peso ou obesidade. Em 1975, 3,7% estavam acima do peso e não havia registro de obesidade para essa faixa etária.
 
Apesar de regulamentada, a cirurgia bariátrica em adolescentes é a última opção dos médicos. "É preciso ser mais rigoroso e observar se o paciente está na idade fisiológica certa. A cirurgia diminui a nutrição e a absorção do cálcio, o que pode provocar problemas no desenvolvimento", alerta o cirurgião Cid Pitombo, coordenador do programa de cirurgia bariátrica do Hospital Estadual Carlos Chagas.
 
O serviço é apontado como modelo na rede pública pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Conta com cirurgiões, nutricionistas e psicólogos e opera dez pacientes por semana por videolaparoscopia, o que fez zerar a fila no Rio de Janeiro.
 
Imaturidade
Outro ponto que faz os médicos adiarem a cirurgia é a imaturidade - o pós-operatório e os anos seguintes exigem comprometimento do paciente. "O adolescente é pior de tratar porque ele já está vivendo uma crise pessoal, que é a do amadurecimento, além da questão da obesidade. Já vi acontecer uma espécie de comportamento vingativo e compensatório - a pessoa quer viver tudo o que nunca viveu", conta o cirurgião Fábio Viegas. "Tive uma paciente que passou a fazer sexo com vários parceiros, inclusive namorados de amigas, e acabou se tornando soropositiva."
 
Apesar de todo o acompanhamento psicológico no Carlos Chagas, o eletrotécnico Luiz Alberto Kron, de 18 anos, conta que chegou a pensar em abandonar os cuidados pós-operatórios. Na primeira consulta, tinha 17 anos e 136 quilos. Na época, usava uma roupa de manhã e lavava à tarde, para poder repeti-la à noite. "Nada cabia". Fez a cirurgia aos 18 e perdeu 60 quilos. Depois da cirurgia, ele quis desistir da dieta que restringia principalmente gordura e doces.
 
"Eu estava emagrecendo, mas não acreditava. Achei que nunca fosse me acostumar a comer pouquinho, os alimentos certos. Meu pai, que operou dois anos antes de mim, segurou minha onda", conta Luiz Alberto.
 
O apoio da família também foi fundamental para que o tratamento de Juliana desse certo. "Quando eu pude começar a fazer caminhadas, minha avó me acompanhava para me incentivar. Meu pai também pagou personal trainer por dois anos. Só depois disso me senti à vontade numa academia", conta a jovem, que ficou feliz quando o atual namorado não acreditou que ela tivesse sido obesa.
Os especialistas são unânimes em defender o envolvimento da família ao longo do processo. "Às vezes, a família se ressente. O adolescente que cuidava do irmão menor, que estava sempre disponível, passa a ter vida própria. Pode acontecer uma vigilância desagregadora: 'Vai comer isso?', 'Você vai beber?'. E o adolescente percebe como crítica, cobrança", afirma Viegas.
 
Fonte Estadão

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