Todos os medicamentos indicados como anticoncepcionais no país têm a descrição do risco de trombose na bula |
“Eu corri grande risco de morte e só por um milagre estou aqui hoje
contando”. Nos últimos meses de 2011, depois de um ano tomando o medicamento
Diane 35, recomendado por uma ginecologista, Thais começou a sentir falta de ar
e cansaço. Não demorou mais que um mês para que o quadro se agravasse.
“Tinha procurado médicos e feito exames, mas não apareceu nenhum problema.
Teve um dia em que desmaiei na rua, o médico que me atendeu identificou a
embolia e a primeira coisa que me perguntou foi se usava algum hormônio”,
conta.
No dia 7 de dezembro, Thais foi internada. Ela passou por três cateterismos e
a implantação de filtros nas veias, para evitar que a coagulação seguisse para
os pulmões, o cérebro e o coração. “Hoje, não posso tomar uma série de remédios
e continuo fazendo tratamento com anticoagulantes. Tenho várias restrições. Foi
tudo restrito. Voltei à minha ginecologista para contar e ela ficou assustada”,
disse.
A estudante garante que não fumava, não registrava sobrepeso ou histórico
familiar de trombose – principais fatores de propensão ao problema. Segundo ela,
o Diane 35 foi o único hormônio que tomou. Thaís também se submeteu a exames
para identificar qualquer predisposição do organismo a desenvolver trombose, mas
os médicos não conseguiram detectar qualquer problema.
Para o ginecologista Rogério Bonassi, a estudante pode ser um dos casos raros
de trombofilia que existem no mundo. O problema, também conhecido como
hipercoagulabilidade, indica uma propensão de a paciente desenvolver trombose
por ter alguma deficiência no sistema de coagulação.
Vice presidente da comissão de Anticoncepcionais da Federação Brasileira de
Ginecologia e Obstetrícia e da Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São
Paulo (Sogesp), Bonassi diz que o Diane 35 não apresenta mais riscos que
qualquer outro hormônio. Todos os medicamentos indicados como anticoncepcionais
no país têm a descrição do risco de trombose na bula.
“O uso de qualquer hormônio pode ter um risco. Mas, o risco de quem não usa
anticoncepcionais ou similares é de cinco em cada 10 mil mulheres. Se elas tomam
pílula, o risco passa a ser de 9 para 10 mil mulheres”, explicou.
Há poucos dias, dirigentes da agência francesa de segurança dos medicamentos
declararam que, até abril deste ano, a pílula anticoncepcional Diane 35 e todos
os genéricos do medicamento vão deixar de ser vendidos no país. A medida foi
adotada em resposta aos 125 casos de trombose venosa e quatro mortes de mulheres
usuárias da pílula relatados nos últimos 25 anos. As mulheres que apresentaram
graves problemas de saúde com a pílula Diane 35, com idades entre 18 e 42 anos,
sofreram acidentes vasculares variados, como embolia pulmonar ou derrame.
Para Bonassi, a decisão instiga mais temor do que informa. “O Diane 35 não
tem mais riscos que outros hormônios. Não sabemos o que motivou a decisão da
França porque o risco é muito pequeno e não se trata de um estudo clínico, mas
de relatos de casos”, avaliou.
De acordo com estatísticas da comunidade médica brasileira e internacional, a
incidência da trombose na população feminina em geral é de cinco casos para cada
10 mil mulheres. No caso de pessoas que tomam pílula, o risco passa a ser de
nove casos para cada 10 mil. Em mulheres grávidas, sem o uso de hormônios, as
estatísticas adotadas universalmente apontam que 30 mulheres, em cada 10 mil,
poderiam desenvolver a doença.
“A pílula é segura. Mas, o uso indiscriminado não deve ocorrer e sabemos que
muitas mulheres tomam pílulas indicadas por amigas ou vizinhas. Outro dia,
estava em uma farmácia e presenciei uma moça pedindo indicações de
anticoncepcionais para o farmacêutico que descrevia qual pílula [além de
contraceptiva] melhora a pele ou não retém líquido”, disse ele.
Fonte Agência Brasil
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