BBC
Lillian Boyd, de 86 anos, descreveu suas alucinações
como algo perturbador
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Lillian Boyd estava cega há mais de 20 anos quando de repente começou a ver as coisas. Foi uma surpresa quando, aparentemente, dois pequenos labradores pretos apareceram na casa dela, no Condado de Durham, no nordeste da Inglaterra.
A surpresa foi ainda maior quando ela começou a ver meninas com belos vestidos, e homens que ela não reconhecia. Aos 86 anos, sua primeira reação foi o medo de falar sobre suas visões e as pessoas acharem que ela estava enlouquecendo.
"Eu estava com medo de falar com o médico porque ele poderia achar que eu tenho demência, considerando a minha idade", disse ela.
O que ela tem no entanto, é Síndrome de Charles Bonnet, uma condição causada por uma doença nos olhos e não problemas psiquiátricos. As alucinações não emitem sons e você não pode senti-las, mas elas podem ser, mesmo assim, bem convincentes.
"Você não consegue descrevê-la muito bem. É uma coisa horrível", disse Lillian.
"Eu vi cavalos, uma vaca, homens. E quando você tenta se levantar e andar, mesmo sabendo que é apenas a sua visão, você não consegue se mover, porque você acha que vai esbarrar nessas pessoas."
"Elas parecem reais, mas quando você olha bem... eu simplesmente não sei. Eu não consigo definir o que eles são. Não é real, mas eles estão lá. Parecem de verdade."
Ela disse que os "hóspedes" não convidados, muitas vezes, "ficam o dia todo" e não são bem-vindos.
Imagens bizarras
A síndrome ocorre em pessoas cuja visão se deteriorou. Partes do cérebro associadas à visão começam a criar suas próprias imagens, tendo sido privadas de estímulo do nervo óptico.
Dominic Ffytche, professor do Instituto de Psiquiatria do King's College London e um especialista na síndrome, disse que foram registrados mais de 200 mil casos da doença no Reino Unido. No entanto, como as pessoas muitas vezes relutam em admitir ter alucinações, é impossível dizer exatamente quantas desenvolvem o mal.
Lillian Boyd demorou por volta de duas semanas para falar sobre o que estava acontecendo.
Felizmente, seu médico já conhecia essa condição e foi capaz de tranquilizá-la explicando que as alucinações não eram um problema psiquiátrico.
"Ele mencionou Charles Bonnet e disse que já tinha feito uma pesquisa sobre ele porque seu pai teve essa síndrome", disse Lillian.
Ffytche explicou que existem várias maneiras de distinguir a síndrome de alucinações causadas por problemas psiquiátricos.
"As alucinações causadas por doenças oculares são bastante detalhadas, com estampas e pessoas usando trajes elaborados. São imagens muito bizarras."
"As pessoas não confundem as imagens com a realidade e nao veem pessoas que elas reconhecem."
Ele ressaltou que a pesquisa sobre a síndrome ainda estão em andamento.
"O que ainda não sabemos é por que algumas pessoas nunca apresentam a síndrome", disse Ffytche.
"A última pesquisa sugere que a maneira como o cérebro está conectado – a forma como ele faz conexões – pode influenciar."
"Pode ser que o seu cérebro se adapte melhor à perda da visão se você tiver alucinações."
'Grande alívio'
Não há cura para a síndrome, mas medicamentos usados para outras condições, como epilepsia, demência e esquizofrenia, têm tido resultado para algumas pessoas. Ffytche acredita que hoje as pessoas têm muito mais consciência sobre a doença do que antes.
"Antes ninguém conhecia a doença, e agora é o inverso", disse Ffytche. "Alucinações estão sendo diagnosticadas como doença ocular, e outras causas estão sendo ignoradas."
Um estudo realizado pelo Ffytche e seus colegas descobriu que, em 20% dos casos, os portadores da síndrome acham as alucinações agradáveis e outros 30% acham as imagens desagradáveis. O restante, metade, tem uma opinião neutra sobre elas.
As alucinações que visitam Lillian Boyd há nove meses se encaixam no último grupo. Ela disse estar mais confortável agora que sabe que suas visões não são sinais de demência, mas ela ainda as descreve como algo "perturbador". Felizmente, ela teve um pouco de descanso recentemente.
"Eu não tenho nenhuma visão há dois dias, e eu agradeço a Deus por isso. É um grande alívio quando elas não estão lá", disse.
Fonte iG
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