Ao menos duas clínicas paulistanas já oferecem às gestantes uma forma de
tirar uma dúvida importante sobre o futuro bebê com uma simples coleta de
sangue: quem é o pai?
O exame usa o mesmo princípio dos testes que chegaram ao país no início deste
ano e analisam o material genético do feto circulante no sangue da mãe durante a
gestação.
Com eles, já é possível determinar com mais de 99% de precisão se o feto tem
síndrome de Down, Edwards, Patau, Turner, Klinefelter e triplo X a partir das
nove semanas de gestação. O sangue coletado como num exame de rotina é enviado
aos EUA para análise. Os preços ficam em torno de R$ 2.000 a R$ 4.000,
dependendo do laboratório.
Antes, o diagnóstico dessas síndromes dependia da análise do ultrassom
morfológico e de exames que medem alterações em uma proteína e em um hormônio ou
da realização de testes invasivos, como a retirada de líquido amniótico e a
biópsia de uma amostra da placenta.
Esses dois últimos também podem ser usados para determinar a paternidade
durante a gestação mas, como eles trazem um risco de cerca de 0,5% de causar um
aborto, há um sério problema ético em pedir um exame como esse só para saber
quem é o pai.
Segundo o geneticista Ciro Martinhago, que realizou o novo exame de sangue de
paternidade em duas mulheres, os exames invasivos são pedidos só para gestantes
que tenham um risco maior do que 0,5% de ter um bebê com anomalias
cromossômicas, como mulheres com mais de 35 anos. "Mas sabemos que algumas
pessoas faziam esse exame para saber a paternidade. Agora, tendo o exame não
invasivo, não se corre mais esse risco."
Como funciona
O teste procura "trocas" de letras no DNA (A, C, T, G) do feto conhecidas
como SNPs. Esses marcadores são passados de pai para filho e servem como
indicador de paternidade. O novo teste avalia mais de 200 mil dessas "trocas" e
compara o DNA da mãe, do feto e do suposto pai.
"O teste não tem validade na Justiça. Uma cliente queria saber com qual de
dois homens deveria se casar. Outra porque abortaria se o bebê não fosse do
marido", diz Martinhago. O aborto só é permitido no Brasil em caso de estupro,
risco de vida para a mãe e anencefalia.
"Com o exame mais precoce, você abrevia a angústia de uma mulher numa
situação grave, que precisa confirmar quem é o pai do bebê", afirma o
ginecologista Arnaldo Cambiaghi, diretor do Instituto Paulista de Ginecologia e
Obstetrícia.
Uma paciente atendida no instituto fez o teste de paternidade por meio do
exame de sangue da mãe há cerca de três meses.
A geneticista do Instituto Ideia Fertil Denise Christofolini, responsável
pelo exame, conta que a mulher, com nove semanas de gestação, enviou o material
genético --que pode ser amostra de sangue ou de saliva-- de um suspeito de ser o
pai, confirmado depois.
"Acho que esse teste pode ser mais usado quando o homem não tem certeza se é
o pai daquele bebê e pede o exame à gestante", diz.
Mas o exame também pode ser usado em caso de relação extraconjugal da mulher.
Para a geneticista da USP Mayana Zatz, se isso envolver coleta às escondidas
de material dos envolvidos, a história fica "muito complicada" do ponto de vista
ético.
"O relacionamento já começa baseado em mentiras. Mas, para a mulher que está
tendo um caso, a coleta de forma antiética é o menor dos problemas", acredita.
Outra questão de cunho ético envolve a possibilidade de aborto com o
resultado de um exame feito com poucas semanas de gestação.
"Sempre haverá essa brecha, mas é um direito da mãe ter essa e outras
informações, como se o filho terá uma alteração cromossômica. O exame pode
também evitar um aborto quando o pai resolve assumir ou quando ela confirma que
o filho é do marido", afirma Cambiaghi.
Para especialistas, o teste abre um caminho para o diagnóstico e o tratamento
de problemas genéticos ainda dentro do útero.
"Quem sabe não teremos no futuro uma espécie de teste do pezinho
intrauterino", diz o médico Edson Borges, da clínica Fertility.
Folhaonline
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