Ryan Collerd/"The New York Times" O pediatra Paul Offit, autor de "Do You Believe in Magic" |
Conhecidos por culparem as imunizações por transtornos como o autismo, eles
já foram alvo de dois livros anteriores de Offit, que agora volta seu foco aos
praticantes da medicina alternativa e à indústria por trás dela.
Em "Do You Believe in Magic", lançado recentemente nos EUA, Offit dispara
contra o mercado das vitaminas vendidas em altas doses, dos suplementos
alimentares que prometem ações semelhantes à de remédios e dos profissionais que
oferecem "curas" com preço alto mas sem base nenhuma em pesquisas para doentes
terminais.
O problema, diz ele, é o sistema de saúde atual, que faz os médicos darem pouca atenção aos pacientes. "A medicina moderna é fria, distante. A medicina alternativa não é nada disso." Ele falou com a Folha por telefone.
Folha - Você critica a medicina alternativa pela falta de testes clínicos
que atestem sua eficácia, mas sabemos eles também têm suas falhas. Ainda assim
os alternativos precisam seguir as regras da medicina convencional?
Paul Offit - Sim. Outro dia entrei numa loja de produtos naturais e
perguntei ao balconista se havia algo para baixar colesterol. Ele me deu um
extrato de alho concentrado.
Uma pessoa com colesterol alto e histórico de doença cardíaca vai se
beneficiar de uma estatina [droga para baixar colesterol]. Só que ela pode
entrar nessa loja e receber um mau conselho.
As pessoas que vendem esses produtos ganham dinheiro e podem bancar um teste
clínico. Estudos já mostraram que você não tem mais chance de baixar o
colesterol com o extrato de alho do que com o placebo. O consumidor merece
testes. E extrato concentrado de alho pode causar efeitos colaterais.
É desconcertante que as pessoas tenham a ideia de que algo é seguro e
funciona quando pode não funcionar e não ser seguro. Essa indústria é colocada
como intocável. Nos EUA, a indústria de megavitaminas e suplementos movimentou
US$ 34 bilhões em 2012. O que surpreende é que as pessoas acham que essas
fabricantes são empresas familiares, que os produtos são feitos por elfos em
montanhas.
Gostaria que tivéssemos o mesmo ceticismo com a medicina alternativa que
temos com a medicina moderna. Se acupuntura é bom, vamos descobrir como! Apontar
para as estrelas não dá.
Boa parte do seu livro é dedicada às vitaminas e a como se vendem
tratamentos com altas doses delas. Não devemos tomar vitamina nenhuma a não ser
em caso de deficiência ou o problema mesmo é o consumo em doses altas?
A maioria das pessoas consome vitamina suficiente e algumas acham que, por
comerem mal, precisam de um multivitamínico com as doses diárias recomendadas.
Não faz mal, mas a maioria não precisa. Mas as megadoses podem causar mal.
Comprei um vidro de vitamina E "natural" cujo rótulo dizia que o comprimido
continha 3.333% da dose diária recomendada, o equivalente a comer 1.650
amêndoas. Isso não é natural. Sabemos que excesso de vitamina E aumenta o risco
de câncer de próstata. Em lugar nenhum no rótulo está escrito que, se você tomar
isso todo dia por meses, você aumenta seu risco de câncer.
Você destaca o caso de Steve Jobs (1955-2011), criador da Apple, que adiou
a cirurgia para remover um câncer e partiu para tratamentos alternativos. Você
acha que, como ele, muita gente tem essa vontade de tomar a dianteira do
tratamento e por isso abandona a medicina convencional?
Sim, a medicina moderna é fria, distante, sem espiritualidade. A medicina
alternativa não é nada disso. Ela é praticada por pessoas que parecem mais
sensíveis, que passam mais tempo com o paciente, que trazem espiritualidade ao
tratamento.
Quando eu era pequeno, meu pediatra ia em casa. Isso fazia dele um médico
melhor para mim, mas isso não existe mais, nem pagando médico particular.
Ter uma doença terminal é um dos grandes motivos para procurar médicos
alternativos. Por que os médicos tradicionais têm dificuldade em lidar com a
morte?
Nosso negócio é preservar a vida e não sabemos o que fazer quando a pessoa
tem uma doença terminal. Por um lado, falsas esperanças não são uma coisa ruim,
sabemos que a nossa atitude frente à doença pode ajudar. O charlatanismo entra
quando se cobra muito dinheiro por falsas esperanças.
Queremos acreditar em algo mágico. Em "Jornada nas Estrelas", o médico tinha
aquele aparelho ["tricoder"] e sabia o que a pessoa tinha. Mas só sabemos uma
fração do que precisamos para curar os pacientes, o que é assustador. Se você
tem uma doença grave, quer crer que a medicina já sabe o que fazer, quando na
verdade não sabemos.
Muito do sucesso das terapias alternativas é atribuído ao efeito placebo.
Qual é o mal de usar o placebo, se funciona?
Usamos isso tempo todo. Damos remédios aos pacientes e dizemos que vão
funcionar. Isso os influencia. Temos jalecos brancos, máquinas que fazem
barulhos interessantes, isso é placebo. Se as pessoas querem prescrever pílulas
de açúcar, tudo bem.
Até defendo a homeopatia no fim do livro, em certas circunstâncias. Se você
trata seus filhos com homeopatia, ao menos eles não estão tomando remédios
contra tosse e resfriado, com ingredientes como pseudoefedrina, que podem causar
mal a crianças, como alucinações e até mortes. O problema é quando você usa
placebo em vez de um remédio que funcionaria.
DO YOU BELIEVE IN MAGIC
AUTOR Paul Offit
EDITORA Harper
PREÇO US$ 12,74 (R$ 30) em e-book na Amazon
AUTOR Paul Offit
EDITORA Harper
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Folhaonline
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