Aplicativos, carreira, concursos, downloads, enfermagem, farmácia hospitalar, farmácia pública, história, humor, legislação, logística, medicina, novos medicamentos, novas tecnologias na área da saúde e muito mais!



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Hospitais e clínicas investem em capacitação para lidar com a dor

Sintoma que mais leva pacientes a procurar atendimento, a dor impulsiona instituições a investirem em áreas e profissionais especializados para lidar com o problema
 
Os números são impressionantes. Estima-se que mundialmente 1,5 bilhão de pessoas sofram diariamente com dor crônica. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que 30% da população do planeta padeça deste mal. Os Estados Unidos contabilizam um prejuízo anual de 550 milhões de dias de trabalhos perdidos provocados pela dor. As autoridades de saúde do país já consideram essa a década da dor.
 
No Brasil, o cenário não é diferente. Em algumas capitais brasileiras, pesquisas indicam que o percentual de pacientes com dor crônica é mais alto que o índice mundial. Em São Luís, capital maranhense (MA), por exemplo, ele chega a 47%, e em Salvador, na Bahia, a 41%. Entretanto, para os profissionais de saúde a grande dificuldade em lidar com a dor é que se está diante de uma queixa totalmente subjetiva, pois dificilmente há um exame complementar que demonstre a existência ou mesmo a intensidade dela. “Uma das definições mundialmente aceitas é de que dor é o que o paciente diz sentir”, afirma o neurocirurgião especialista em terapia da dor da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Alexandre Walter de Campos.
 
Nos Estados Unidos, desde 1998 já existe uma especialidade médica dedicada ao chamado intervencionismo da dor, com mais de 5 mil profissionais atuantes no país. Aqui, a dor ainda é considerada uma área de atuação, mas não uma especialidade. Apesar disso, cresce o número de instituições de saúde investindo na capacitação de profissionais para o setor. Em cada unidade da rede, a São Camilo tem profissionais especializados – os chamados Grupos de Controle da Dor. “As equipes contam com médicos que fazem visitas diárias aos pacientes em seguimento com o grupo, uma enfermeira responsável, uma psicóloga e uma fisioterapeuta”, explica Campos. “Temos ainda um relacionamento próximo com a equipe de psiquiatria e assistência social”.
 
Também em São Paulo, no Hospital A.C.Camargo, referência nacional e internacional na prevenção, pesquisa e tratamento de pacientes com câncer, desde 1991 há uma Central da Dor. “Em alguma fase da doença oncológica, o paciente terá queixa de dor. Nas fases mais avançadas, isso acontece em quase 90% dos casos”, revela o responsável pela central, José Oswaldo de Oliveira Júnior. A equipe do A.C.Camargo envolve cerca de dez profissionais das mais diversas especialidades: neurocirurgiões, psicólogos, psiquiatras, neuropediatras, pediatras e fisiatras. Para o médico, a Central da Dor é vital para oferecer um melhor atendimento aos pacientes. “Dor é o sintoma que mais limita e deteriora a qualidade de vida. Muitos doentes têm um medo tão grande da finitude da vida quanto da possibilidade de sofrer de dor e a dificuldade em controlá-la”.
 
Outro tipo de dor que tem um impacto enorme na vida da população é a crônica. (entenda mais na próxima página). “A dor aguda mal tratada pode se tornar crônica”, explica o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos para a Dor (SBED), Durval Campos Kraychete. E o maior problema, ainda segundo ele, é que a média de tempo que um paciente com dor leva até procurar um ambulatório ou serviço especializado é de oito anos. “A prevalência da dor crônica aumentou muito no mundo todo”, diz. Para Kraychete, o problema acarreta um prejuízo enorme para o Estado, mesmo assim ele acredita que a política de saúde voltada para o tratamento da dor ainda é incipiente no Brasil. “O olhar do governo ainda é restrito. O sistema público de saúde não comporta a demanda”.
 
Para alguns especialistas, o que existe é uma subvalorização da dor. “Há uma ideia pré-concebida de que é normal sentir dor. Isso é um preconceito”, diz Oliveira Júnior, do A.C.Camargo.
 
Especialização
Fundada recentemente, em outubro do ano passado, a Sociedade Brasileira de Medicina Intervencionista da Dor (Sobramid) defende a utilização mais ampla das técnicas intervencionistas para minimizar o sofrimento de pacientes. No Brasil, ainda é pequeno o número de profissionais que atuam nessa área, principalmente por essa ser ainda uma especialização não reconhecida no País, somente uma área de atuação. Alguns médicos têm a certificação obtida nos Estados Unidos, país onde a especialidade é válida. Em geral, a grande maioria dos médicos intervencionistas são anestesiologistas. “A população envelhece cada vez mais e por isso mesmo precisa de uma melhor qualidade de vida”, analisa o anestesiologista e presidente da Sobramid, Fabrício Dias Assis.
 
Para fazer o diagnóstico e o tratamento dos distúrbios relacionados à dor, os médicos intervencionistas utilizam agulhas, em procedimentos minimamente invasivos. Entre as técnicas mais aplicadas estão bloqueios guiados por imagens com anestésicos e corticoides, bloqueios por radiofrequência, utilização de toxina butolínica para tratamento de dores musculares e a descompressão percutânea do disco intervertebral.
 
Os intervencionistas também trabalham com técnicas de sistemas implantáveis, como o implante de bombas de infusão de fármacos no organismo do paciente. Em casos de câncer, por exemplo, a bomba de morfina deixa o paciente mais confortável. “São procedimentos um pouco mais caros, mas parte deles tem o custo coberto pelos planos de saúde”, afirma o presidente da Sobramid. Assis diz também que esses procedimentos são mais vantajosos no tratamento do que as terapias medicamentosas, pois estas, depois de algum tempo, vão perdendo o efeito e as doses precisam ser aumentadas. “Nos Estados Unidos, de 1998 a 2005, houve um crescimento das técnicas intervencionistas em mais de 400%”, revela.
 
Para o médico Oliveira Júnior, alguns analgésicos ou anti-inflamatórios podem ter efeitos colaterais para certos pacientes, comprometendo funções hepáticas ou renais. Entra aí a importância do trabalho dos profissionais da Central da Dor no hospital. “Conseguimos racionalizar o tratamento com analgésicos graças ao acompanhamento e análise da equipe da dor”, afirma. Além disso, o profissional salienta que o controle da dor reduz o sofrimento dos pacientes, garante a alta hospitalar precoce e ainda um restabelecimento mais rápidos nos processos pós-operatórios. “As Centrais de Dor começam a ser incorporadas em vários hospitais, não só os oncológicos, mas outros também, já que melhoram a qualidade do atendimento”.
 
Assim como em outras áreas da medicina, os profissionais que trabalham com a dor precisam de atualização constante para acompanhar as novas descobertas e avanços no setor. A Rede de Hospitais São Camilo oferece cursos específicos sobre o tema. “O tratamento do problema deve ser feito por uma equipe multiprofissional, que trabalhe de maneira inderdisciplinar e discuta em conjunto qual a melhor maneira de tratá-la de cada paciente”, avalia Alexandre de Campos. “O médico que não valoriza a queixa de dor está neglicenciando a atenção ao paciente”.
 
Frequência

 Entre as dores crônicas mais comuns que afetam a população estão:
• Musculoesqueléticas – fibromialgia, artrose, hérnia de disco, lesões por esforço repetitivo (LER), tendinite, bursite e a dor lombar (dor nas costas);

• Neuropáticas – associadas com doenças como diabetes, lúpus, esclerose múltipla, artrite reumatoide ou a acidentes vasculares cerebrais (AVC);

• Cefaleias – enxaquecas.
 
Dor em números
• 1,5 bilhões de pessoas sofrem diariamente com dor crônica, segundo a OMS

• 550 milhões é o número de dias de trabalhos perdidos provocados pela dor nos EUA

• 47% percentual de pacientes com dor crônica, em São Luís

• 41% percentual de pacientes com dor crônica, em Salvador, na Bahia
 
SaudeWeb

Nenhum comentário:

Postar um comentário