Foto: Maicon Damasceno / Agencia RBS Entusiastas podem passar até uma semana somente bebendo água |
A proximidade das festas de fim de ano e do verão faz com que algumas pessoas busquem métodos radicais na última hora para evitar aqueles quilinhos a mais. Na Europa, a prática do jejum se transformou em um dos temas mais populares nos fóruns da internet.
"Assim como em todos os anos, vou me curar com um jejum de 15 dias", relata com orgulho uma internauta francesa. "Fiz jejum na minha casa durante uma semana e ficou tudo bem", conta outro internauta que alega ter perdido 8 quilos.
Nesse tipo de jejum, a alimentação fica muitas vezes restrita apenas a alimentos líquidos, como sopas e sucos. Enquanto alguns praticam a rígida dieta em casa, outros preferem a adotar em spas e locais especializados.
O "turismo do jejum" custa centenas de euros por semana e inclui estadias no campo ou nas montanhas, inclusive com algumas excursões. Também existem elegantes clínicas privadas que oferecem o serviço. Um site chega a disponibilizar um pacote chamado "Jejum desintoxicante no deserto marroquino".
Raphael Pérez, doutor em Farmácia, realiza consultas em Lyon e organiza estadias para o jejum "em um lugar tranquilo". Segundo ele, o atendimento é destinado apenas a pessoas com boa saúde.
— Se a pessoa quer fazer o melhor jejum possível, então beberá somente água. Geralmente isso é feito por uma semana. Quando jejuamos, o corpo acelera seu ritmo de eliminação de toxinas pelo fígado, rins e pele. Como não recebemos alimentação, o corpo é obrigado a utilizar suas reservas. Mas, se depois do jejum começamos a comer desordenadamente, os problemas voltarão. O jejum não é uma solução mágica — explica Pérez.
Os médicos concordam apenas com a última parte do discurso de Pérez.
Moda do jejum é uma aberração, alertam os especialistas
— Não existe nenhum médico hoje em dia que diga que jejuar faça bem à saúde, a não ser que se trate de um guru. É uma aberração. Foi tão banalizado que se transformou em uma moda — critica o nutricionista Pierre Azam.
Para Jean Michel Cohen, também nutricionista, o jejum "não tem nenhum sentido".
— Jejuar durante 24 horas depois de ter bebido e comido é algo que pode ser feito, mas interromper a alimentação para se desintoxicar não serve para nada — explica.
Cohen lamenta que o jejum tenha recebido um "aval médico" depois que um pesquisador traçou uma relação entre a prática e a cura do câncer. Azam também alerta que a repetição do jejum durante dias e semanas debilita o organismo.
— Quando jejuamos, usamos nossas reservas, às vezes aquelas que não desejamos, como a gordura corporal, mas às vezes também a massa muscular, proteica, que é essencial para o organismo.
Imaginemos uma pessoa cardíaca. Se jejua, não obtém as quantidades necessárias de cálcio e potássio, e se expõe seriamente ao risco de sofrer um infarto. O jejum é muito perigoso — explica Jean Michel Cohen.
Ainda de acordo com o especialista, é dito para as pessoas com sobrepeso que as dietas não funcionam. Então, o jejum, uma solução rápida e radical, é visto como a resposta mágica para o problema.
A dieta por intermitência 5:2, em voga há cerca de dois meses, se transformou em uma alternativa ao jejum que também está fazendo sucesso na França. Nela, a pessoa faz uma dieta radical somente durante dois dias por semana, consumindo não mais que 500 calorias diárias, no caso das mulheres, e 600, no caso dos homens.
AFP/Zero Hora
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