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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Nos EUA, gays resistem a tomar pílula para evitar HIV

Michael Rubio, 28, lembra-se de como quatro amigos se tornaram soropositivos por fazerem sexo sem proteção no espaço de um ano. Essas notícias o levaram a experimentar uma nova forma de evitar o HIV: uma pílula diária que previne a infecção.
 
"Com meu círculo de amigos tão afetado no último ano, foi fácil optar por isso."
 
Especialistas esperavam que o remédio, o Truvada (combinação de dois antirretrovirais usados para tratar pessoas com HIV desde 2004), fosse adotado com entusiasmo por homens gays saudáveis. Em vez disso, a droga está demorando para "pegar" nesses 18 últimos meses desde que foi aprovado como terapia profilática pela FDA (agência reguladora de remédios nos EUA).
 
No Brasil, o tratamento está passando por testes ainda.
 
Por 30 anos, a camisinha foi anunciada como única forma eficaz, além da abstinência, de evitar a transmissão do HIV. Mesmo assim, 50 mil novas infecções ocorrem a cada ano nos EUA. A transmissão entre homens representa metade desse total.
 
Médicos saudaram o Truvada como oportunidade de reduzir novas infecções entre jovens gays, pessoas cujos parceiros estão infectados e prostitutas. A FDA pediu que as receitas do Truvada fossem acompanhadas de aconselhamento, testes de HIV e promoção do sexo seguro.
 
Mas menos pessoas vêm usando a profilaxia pré-exposição do que se esperava. Segundo a Gilead Sciences, que fabrica a droga, 1.774 pessoas compraram Truvada nos EUA para prevenção contra o HIV entre janeiro de 2011, quando esse uso ainda era off-label (fora das recomendações da bula), e março de 2013.
 
Surpreendentemente, quase metade das receitas era de mulheres. Deborah Cohan, obstetra e ginecologista da Universidade da Califórnia, já receitou o Truvada para muitas mulheres cujos parceiros têm HIV, inclusive uma que quer ficar grávida.
 
Então por que mais homens não adotaram o tratamento? Alguns relataram ter recebido reações negativas dos médicos quando falaram sobre o assunto. O uso da droga como prevenção também carrega um estigma entre os gays. O termo "Truvada whore" (prostituta de Truvada) já apareceu em redes sociais. Efeitos colaterais como perda de densidade óssea, apesar de raros, preocupam.
 
Outra questão é que, com os avanços no tratamento, muitos jovens não viveram os piores anos da epidemia e têm menos medo da doença. E as drogas atuais baixam tanto os níveis virais nos infectados que o risco de transmissão se reduz muito, diminuindo a percepção de que a profilaxia seja necessária.
 
Sem camisinha
Damon Jacobs, um psicoterapeuta de Nova York, começou a tomar o Truvada depois de terminar um relacionamento. "Percebi que não usava mais a camisinha com tanta frequência e isso me assustou", afirmou Jacobs, 42, que mantém uma página no Facebook promovendo a profilaxia pré-exposição.
 
Ele disse que nunca se esqueceu de tomar uma só dose do remédio nos últimos dois anos, mas reconhece que agora ele usa camisinha ainda menos.
 
Esse comportamento preocupa os médicos. A parcela dos gays que dizem ter feito sexo anal sem proteção nos últimos 12 meses cresceu de 48% em 2005 para 57% em 2011, segundo pesquisa do governo americano.
 
A adesão ao tratamento é outro problema. Um estudo mostrou que muitos homens não tomavam a pílula todo dia, o que os deixava mais vulneráveis à infecção.
 
Para Kenneth Mayer, professor de medicina em Harvard, é cedo para pessimismo. "Vai levar tempo [para que mais gente use o remédio]. Estamos só no início."

Folhaonline

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