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quinta-feira, 17 de julho de 2014

Por falta de educação em ciências, brasileiro dispensa bula e corre risco

www.gestaodelogisticahospitalar.blogspot.com
Foto: Reprodução
Atire a primeira pedra quem nunca se desfez rapidamente da bula de um novo medicamente antes de armazená-lo

A prática de ignorar a bula dos remédios é velha conhecida da cultura brasileira. O que especialistas dizem é que o problema está relacionado com a nossa educação.

Como o ensino de ciências no Brasil é muito ruim, classificado no final da lista de países avaliados pelo exame internacional Pisa, ninguém entende as bulas e, por isso, não se interessam por elas.

Quer ver? 

Vamos pegar a bula da aspirina, um remédio consumido internacionalmente.

Ácido Acetilsalicílico
Sua bula informa que cada comprimido tem 500 mg de ácido acetilsalicílico e que os componentes inertes são amido e celulose.

Digo com segurança que a maioria dos brasileiros nunca ouviu as palavras entre aspas, mas consome aspirina (sem ter ideia do que está ingerindo).

O problema é que a bula da aspirina informa também que a sua ingestão aumenta o risco de sangramento. Isso pode ser fatal para pacientes, por exemplo, com dengue reincidente, que costuma causar hemorragias.

A bula da aspirina também alerta que os comprimidos devem ser armazenados na sua embalagem original, em temperatura ambiente, entre 15 a 30°C e protegidos da umidade.

Opa! Mas não tem um monte de gente que armazena medicamentos justamente no local mais úmido da casa, ou seja, o banheiro? Pois é. O medicamento pode, por exemplo, perder o efeito.

Sem bula
Esse problema do descarte das bulas é conhecido pelas indústrias farmacêuticas.

Em visita recente a uma das fábricas da Pfizer no Brasil, que produz medicamentos como o Advil, o coordenador da logística, Reinaldo Oliveira, contou que a maioria dos medicamentos que retorna à fábrica por problemas chega sem bula.

Sabemos que a bula é a primeira coisa que o usuário joga fora ao abrir o remédio, diz Oliveira.

A taxa de retorno à fábrica de medicamentos Pfizer é de 0,2%. Podem voltar à fábrica comprimidos que, por exemplo, mudaram de cor ou de consistência o que pode acontecer quando se armazena um medicamento como a aspirina no banheiro.

A pergunta que fica é: o que fazer para que as pessoas leiam mais as bulas e corram menos riscos?

Interesse
Bom, as pessoas precisam se interessar pelas bulas. E sabe-se que o interesse pela ciência e a educação científica caminham juntos.

Em um trabalho publicado em 2010 por um grupo de pesquisa do qual faço parte na Unicamp, vimos que a leitura de bulas de remédios e de rótulos de alimentos aumenta quando o interesse declarado pela ciência é maior.

A pesquisa foi feita no estado de São Paulo para uma publicação da Fapesp com base em um questionário (veja aqui os resultados da pesquisa).

Vejam que bacana: 69,3% dos que declaram que se interessam muito por ciência também informaram que leem bulas de medicamentos. A rotina de ler bulas cai conforme o interesse por ciência diminui.

E, adivinhem: Daqueles que frequentaram ou frequentam ensino superior e ou outros níveis superior de ensino, 71,7% declaram que leem bulas de remédios.

A relação entre escolaridade, interesse por ciência e leitura de bulas de remédios, evidenciada nesta pesquisa, mostra o quanto educação e saúde caminham juntos.

Uma sociedade com melhores níveis de educação está mais preparada para entender e lidar com sua própria saúde.

Folha de São Paulo

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