Por muito tempo os idosos foram considerados sinônimos de invalidez,
como se fossem velhinhos que não entende muito bem o que falamos ou que
não consegue fazer nada sozinho - mas isso está longe de ser verdade.
Hoje vemos muitos homens e mulheres com mais de 60 anos que estão
ativos, levando suas vidas com saúde e um sorriso no rosto. No entanto, é
importante entender que mesmo com essa mudança de paradigma, o envelhecimento chega
acompanhado de certas mudanças que na maioria das vezes são deixadas de
lado.
"Muitas pessoas se preocupam com o declínio cognitivo e ossos
mais fracos, mas há outras preocupações menos conhecidas que merecem
atenção", explica o geriatra Roberto Dischinger, responsável pelo
residencial para a terceira idade Lar Sant'ana, em São Paulo.
É
importante estarmos cientes dessas mudanças para poder encontrar as
melhores formas de contorná-las ou preveni-las, incentivando o
envelhecimento saudável.
"Cuidados com a alimentação, prática de
exercícios, controle de estresse e doenças, assim como consultas médicas
periódicas, têm relação direta com a manutenção da qualidade de vida e a
prevenção de doenças desde a juventude", afirma o geriatra.
Confira
quais são as mudanças desconhecidas da terceira idade e entenda melhor
esse processo:
Dificuldades no paladar
A partir dos 60 anos, é comum ocorrer no idoso
uma diminuição na capacidade de perceber gostos doces e salgados dos
alimentos, enquanto os sabores ácidos e amargos se mantêm inalterados.
"Isso acontece devido à atrofia das papilas gustativas que são
responsáveis pelo paladar", diz o geriatra Roberto Dischinger,
responsável pelo residencial para a terceira idade Lar Sant'ana. Outro
fator que também pode alterar o paladar é o uso de certos medicamentos. O
especialista afirma que é esse é o motivo porque os idosos tendem a
acrescentar mais sal ou açúcar aos alimentos. "Uma alternativa é
acrescentar temperos naturais aos pratos, tais como alho, cebola, cheiro
verde, orégano e manjericão, que realçam o sabor dos alimentos e
eliminam essa dificuldade", afirma a nutricionista Flavia Medeiros
Leite, coordenadora do Programa Crescer e parte da equipe
multidisciplinar do Lar Sant'ana. "É importante também que o momento da
refeição seja atrativo, com pratos variados e balanceados, pois com a
diminuição do paladar o idoso tende a diminuir a ingestão de alimentos,
podendo ficar com um quadro de desnutrição."
Alterações no olfato
Considerando que no processo de envelhecimento
existem diversas alterações sensoriais, o olfato também pode ser
afetado. Alterações como o aumento de tecidos moles e atrofia das
glândulas mucosas - muitas vezes ocasionando o ressecamento do muco
nasal e consequentemente a obstrução nasal - podem explicar as
dificuldades de identificar odores. "Isso também pode ocorrer
principalmente após os 80 anos, quando as dificuldades para
identificação de odores ocorrem devido à degeneração das células do
sistema nervoso central", explica o geriatra Roberto. "Esse pode ser
considerado um sintoma inicial de doenças como Parkinson e Alzheimer,
levando em conta que a percepção que o idoso tem sobre seu olfato
depende também dos sistemas nervoso central e periférico, que são os
maiores afetados por essas doenças".
Um dos sinais que indicam a perda olfativa é a diminuição do peso em consequência da perda de apetite. O tratamento depende da causa, mas é recomendado que o acompanhamento seja feito por uma equipe multidisciplinar. "Para facilitar a ingestão dos alimentos, pode-se melhorar a apresentação dos pratos e a forma de preparo dos alimentos", ressalta a nutricionista Flavia.
Dificuldades em fazer várias tarefas ao mesmo tempo
Um dos sinais que indicam a perda olfativa é a diminuição do peso em consequência da perda de apetite. O tratamento depende da causa, mas é recomendado que o acompanhamento seja feito por uma equipe multidisciplinar. "Para facilitar a ingestão dos alimentos, pode-se melhorar a apresentação dos pratos e a forma de preparo dos alimentos", ressalta a nutricionista Flavia.
Dificuldades em fazer várias tarefas ao mesmo tempo
Existe uma área do cérebro responsável pelo que
os especialistas chamam de atenção dividida - que é ativada quando
precisamos prestar atenção em duas ou mais tarefas ao mesmo tempo. "A
partir da meia-idade ou após os 70 anos, ocorre um declínio normal das
funções cognitivas, podendo repercutir na memória e nesse tipo de
atenção", explica a psicóloga especialista em terceira idade Roberta
Seriacopi, de São Paulo. De acordo com a especialista, durante o
processo de envelhecimento, é comum as pessoas apresentarem falhas no
controle do excesso de informações e na manutenção de informações
irrelevantes durante execução de uma tarefa. Isso torna mais lenta a
nossa capacidade de alternar de uma tarefa para outra, prejudicando o
desempenho. Outro sinal comum de que a atenção dividida do idoso está
comprometida é o fato de ele não conseguir se lembrar de assuntos que
foram comentados durante uma refeição ou enquanto ele estava assistindo
televisão, por exemplo. "Isso acontece porque ele estava concentrado em
apenas uma das tarefas, e seu cérebro não conseguiu captar e processar a
nova informação que você estava fornecendo", explica Roberta. Uma forma
de lidar com isso é a estimulação cognitiva por meio de atividades que
envolvam duas ou mais tarefas simultâneas.
Pele ressecada
Pele ressecada
A pele é o órgão que mais evidentemente demonstra
os sinais de envelhecimento. "Muitas alterações decorrentes da idade,
como perda de tecido de sustentação de gordura subcutânea, diminuição
dos pelos, alteração na distribuição de pigmentação de pele e pelos e
diminuição de glândulas sudoríparas e sebáceas, ocasionam uma pele mais
ressecada, frágil e sem a preservação de elasticidade", afirma o
geriatra Roberto. O especialista diz que pele dos idosos também tende a
ficar mais ressecada devido à redução da quantidade de água corporal
nessa fase da vida. "Todos esses fatores tornam a pele do idoso mais
propensa a machucados e infecções." Entre os cuidados para esse problema
estão a ingestão de água, banhos com sabonete neutro e água morna e aplicação de um hidratante corporal após.
Distúrbios da visão
Distúrbios da visão
Problemas relacionados à visão podem impedir ou
dificultar a independência dos idosos na realização das atividades
diárias. Com o envelhecimento, ocorre uma redução na acuidade visual e
na acomodação à luminosidade, bem como na clareza da visão noturna e do
campo de visão periférico. "Consequentemente, ler, assistir TV e
realizar atividades manuais podem ser mais cansativo e dificultoso",
ressalta o geriatra Roberto. "Para evitar pequenos desconfortos, o ideal
é manter a iluminação permanente, uma vez que a adaptação dos idosos a
mudanças de luz torna-se mais lenta." Entre as alterações visuais mais
frequentes, os especialistas citam presbiopia, catarata, glaucoma, degeneração macular e retinopatia diabética.
É importante a prevenção por meio da investigação e acompanhamento
médico precoce dessas alterações, uma vez que elas são comuns na faixa
etária.
Qual era a palavra mesmo?
Qual era a palavra mesmo?
Sentir dificuldade para encontrar o termo certo
durante uma conversa é muito comum em idosos. "Isso acontece porque a
capacidade de processar as informações fica mais lenta e a atenção
também pode estar alterada, prejudicando assim a memória de trabalho
(quando ele precisa memorizar algo para usar em seguida, como quando
decoramos um número de telefone na agenda para digitá-lo logo após) e
memória episódica (memória de histórias e eventos do próprio passado)",
diz a psicóloga Roberta. Quando há falta da atenção, a manutenção de
informações pela memória fica prejudicada, dificultando a lembrança de
palavras durante uma conversa. De acordo com a psicóloga o melhor a
fazer nesses casos não é completar as palavras pelo idoso ou então
repreendê-lo. Tente dar pistas que possam ajudá-lo a lembrar da palavra
por si, de forma que ele exercite sua memória. "Devemos ressaltar que
nem toda a falta de atenção ou perda de memória é sinal de doenças, mas
que qualquer problema que gere dificuldades em suas atividades diárias
deve ser comunicado ao médico."
Manter o equilíbrio
Manter o equilíbrio
Com o passa da idade, o corpo sofre alterações no
controle da postura e do andar, que desempenham um papel importante no
equilíbrio dos idosos. "Eles apresentam dificuldades na regulação das
respostas relacionadas a velocidade e precisão dos movimentos, causando
assim um desequilíbrio", explica o geriatra Roberto. Outro fator que
pode gerar desequilíbrio nos idosos são alterações no sistema
vestibular, como a labirintite. De acordo com o geriatra, a atividade
física contribui para ganho de força muscular, amplitude de movimento,
percepção corporal e melhora os reflexos, podendo auxiliar na prevenção
de quedas e alterações do equilíbrio.
Reflexos e raciocínio rápido
Reflexos e raciocínio rápido
As funções cognitivas como memória, raciocínio,
velocidade de processamento e reflexos tendem a diminuir conforme os
neurônios vão envelhecendo. "Por isso o ideal é sempre estimular o
cérebro, para que esse prejuízo seja o mínimo possível", afirma a
psicóloga Roberta Seriacopi. A melhor maneira de prevenir essa
degeneração é adotando hábitos saudáveis, como dieta balanceada, prática
de exercícios e controle de estresse e doenças, assim como consultas
médicas periódicas. "Mais uma vez, é importante ressaltar que simples
alterações no raciocínio e reflexos nem sempre indicam doenças graves,
entretanto, qualquer mudança deve ser investigada através de avaliações e
exames."
Músculos e ossos mais fracos
Músculos e ossos mais fracos
Para entender porque os músculos e ossos ficam
mais fracos com o passar da idade, é importante saber que nossos ossos
crescem somente até os 20 anos e sua densidade aumenta até os 35 anos,
começando a perder-se progressivamente a partir disso. O mesmo acontece
com os músculos: a partir dos 65 anos de idade, nossa massa muscular vai
sendo perdida, cerca de 1% a cada ano. Pessoas que praticaram
exercícios durante a juventude e mantiveram hábitos que contribuíram
para o fortalecimento desses órgãos possuem um "pico" de massa óssea e
muscular maior do que as pessoas que não mantiveram bons hábitos, e por
isso demoram mais a apresentar problemas nesses sistemas. "No entanto,
pessoas que não possuíam altos picos de massa muscular e óssea tendem a
sofrer de problemas como osteoporose e sarcopenia mais rapidamente",
explica Roberto Dischinger. O especialista afirma que praticar
exercícios já na idade avançada ajuda a impedir a perda, prevenindo
essas doenças, mas a pessoa não conquistará mais massa óssea ou muscular
do que já tem.
Minha Vida
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