Por Dr. Eduardo Finger
Diferente de nossos
antepassados, hoje em dia qualquer um encontra na farmácia alívios
químicos para grande parte dos males que sempre afligiram a humanidade.
Temos compostos eficazes para aliviar dor, coceira, tonturas, infecções e até tumores - e o livre acesso a alguns destes compostos muitas vezes passa a impressão de que eles são seguros. Mas se há alguma verdade na farmacologia, ela pode ser resumida pela frase: a diferença entre o remédio e o veneno é a dose.
Temos compostos eficazes para aliviar dor, coceira, tonturas, infecções e até tumores - e o livre acesso a alguns destes compostos muitas vezes passa a impressão de que eles são seguros. Mas se há alguma verdade na farmacologia, ela pode ser resumida pela frase: a diferença entre o remédio e o veneno é a dose.
Tome-se como
exemplo o paracetamol, um anti-inflamatório comercializado livremente
desde 1955 como a alternativa "segura" ao ácido acetilsalicílico.
Nos EUA, registram-se mais de 100 mil overdoses/ano com esta droga, sendo que 56 mil demandam atendimento médico e 500 pessoas morrem. E isto vem piorando tanto que o FDA (Food and Drug Administration) tomou a iniciativa de limitar a dose máxima por pílula como forma de conter esta epidemia. No Brasil, o dado mais amplamente citado é uma estimativa feita pela ABIFARMA (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica) de que ocorreriam 20.000 mortes/ano em consequência da automedicação.
Nos EUA, registram-se mais de 100 mil overdoses/ano com esta droga, sendo que 56 mil demandam atendimento médico e 500 pessoas morrem. E isto vem piorando tanto que o FDA (Food and Drug Administration) tomou a iniciativa de limitar a dose máxima por pílula como forma de conter esta epidemia. No Brasil, o dado mais amplamente citado é uma estimativa feita pela ABIFARMA (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica) de que ocorreriam 20.000 mortes/ano em consequência da automedicação.
Mas como as
pessoas se intoxicam? De vários modos, a maior parte deles acidental,
por desconhecimento dos riscos de cada composto. O consumidor comum não
tem preparo ou hábito de ler bula, então, uma pessoa gripada pode tomar
um comprimido de paracetamol para dor e outro para congestão nasal, sem
saber que o segundo contém uma dose plena da mesma droga. Isto é
frequente no consultório.
Outro modo de se
machucar adviria do desconhecimento das vias metabólicas que nosso corpo
usa para controlar a quantidade de droga circulante e seus efeitos. O
maior exemplo disto é o anticoagulante warfarina, cujo nível sanguíneo é
muito facilmente afetado por qualquer medicação ou mudança na dieta,
causando sangramentos às vezes muito importantes.
Há diversos casos graves e fatais de intoxicação involuntária decorrente
da ingestão simultânea de uma droga e suco de toranja
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Mas isso é apenas a
ponta do iceberg. Mesmo lendo bulas, pessoas podem involuntariamente se
colocar numa situação de risco misturando drogas com "produtos
naturais". O público em geral tem a falsa noção de que natural significa
inócuo. Cabe lembrar que grande parte da farmacopéia ocidental
originou-se de produtos naturais.
O ácido acetilsalicílico vem da casca
do salgueiro, a digoxina, de uma flor, a penicilina, de um fungo, o
captopril, do veneno da jararaca e assim por diante. Não bastasse isso,
até frutas e legumes podem interferir com drogas e provocar intoxicações
involuntárias.
Um dos casos mais notáveis é o da toranja, fruta muito
apreciada no hemisfério norte e que interfere na metabolização de pelo
menos 85 medicamentos, que variam de remédios para o coração como o
verapamil a antibióticos
como a eritromicina ou imunossupressores como o micofenolato.
Há
diversos casos graves e fatais de intoxicação involuntária decorrente da
ingestão simultânea de uma droga e este suco. E não vamos nem falar
sobre consumir álcool
com medicações, pois além de um capítulo a parte, isto é quase que
pedir para tomar na cabeça. Álcool e remédios essencialmente não
combinam em nenhuma situação.
Que situação não? Você busca um
remédio para melhorar e sem saber, pode estar se submetendo a um risco
de vida involuntário. Como evitar isso? A peça chave para sua segurança é
a compreensão de que não há remédio seguro, o que há são limites
seguros para o consumo destes compostos. Estes limites envolvem doses,
horários, combinações, estado de saúde, controles sanguíneos e vários
outros quesitos, todos relevantes e potencialmente perigosos.
Portanto, jamais
se automedique ou combine drogas sem uma orientação específica para
fazê-lo. Medicar alguém corretamente já é muito difícil para pessoas que
passam a vida estudando o assunto, imagine para quem nem sabe que o
assunto existe.
Minha Vida
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