Dar à luz pode custar muito caro, mesmo para quem tem plano de saúde.
Não importa o tipo de parto, boa parte dos obstetras “cobra por fora” o
procedimento por considerarem irrisórios os valores propostos pelas
operadoras. O cenário piora no caso de parto normal, já que o
especialista precisa ficar à disposição da mãe por muitas horas,
constatou a gerente de vendas, Maria Cecília Vasconcelos, 33 anos, mãe
de Joaquim, seis meses.
— A maioria dos médicos de convênios não quer fazer parto normal por
não ter hora marcada e por poder demorar mais de 24h. Como optei pelo
parto humanizado, desde o início da gravidez sabia que teria de procurar
um médico particular.
Além dos R$ 400 mensais pelas consultas médicas para acompanhar a
gestação, Maria Cecília desembolsou R$ 12.000 (sendo metade do obstetra e
o restante dividido para a equipe) e R$ 1.500 pela doula (assistente de
parto sem formação médica).
Segundo ela, a parte hospitalar do Albert
Einstein foi coberta pelo convênio.
Grávida de seis meses da segunda filha, a supervisora de marketing,
Carolina Zuppone Munhoz, 35 anos, paga R$ 160,00 pelas consultas mensais
— valor já com desconto de 50% por ser paciente antiga —, mas está
inconformada com o reembolso do convênio para a realização do parto com o
médico que acompanha o pré-natal.
— Optei pela mesma equipe médica da primeira gravidez há quatro anos,
que na época fez tudo pelo plano de saúde. Agora, o obstetra cobrou R$
7.000 a parte dele e R$ 5.000 para o restante da equipe. Dos R$ 12.000
que tenho que pagar, o convênio vai me reembolsar R$ 861,00. Acho muita
sacanagem!
Devido a situação, Carolina entrou em um grupo de mamães na rede social
Facebook e descobriu que este é o valor médio cobrado pelo procedimento
em São Paulo e a maioria dos planos arca com menos da metade. No caso
dela, menos de 10%.
— Ainda bem que posso pagar e não vou precisar procurar outro
especialista, mas não estou contente com isso. Ainda vou tentar negociar
com o médico.
Por causa do convênio, a mamãe de "segunda viagem" escolheu a Pró Matre
para dar à luz Bruna, que deve nascer em novembro, mas se fosse pagar
tudo do próprio bolso gastaria mais de R$ 20.000, com hospital e
honorários médicos.
O que dizem os médicos?
Para a professora Libânia Paes, coordenadora do CEAHS — Pós Graduação
em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde da Faculdade Getúlio
Vargas, a discussão entre convênio, hospital e médico é antiga.
— Os planos realmente não remuneram o que o serviço vale, em geral
cobrem apenas o custo do procedimento. Por isso, os profissionais
precisam ter uma visão racional da administração do negócio para
conseguir argumentar melhor com os planos, mostrando números reais.
Na explicação do médico Desiré Carlos Callegari, conselheiro federal do
CFM (Conselho Federal de Medicina) pelo Estado de São Paulo, na maioria
dos casos, os planos que cobrem os custos do parto “costumam oferecer o
serviço com a equipe de plantonistas do hospital credenciado”. Dessa
forma, cabe ao obstetra que acompanhou o pré-natal decidir se aceita
fazer o procedimento pelo convênio ou não.
— É uma prática legal, até porque se o profissional ficar à disposição
de todas as pacientes do plano não consegue nem tirar férias. Os bebês
podem nascer a qualquer momento. Por conta disso, o CFM orienta que
médico e gestante conversem antecipadamente e negociem. Só não adequado
cobrar do convênio e da paciente ao mesmo tempo.
A baixa remuneração também desestimula os profissionais a trabalharem
nesta área, aponta o obstetra César Eduardo Fernandes, diretor
científico da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado
de São Paulo).
— A crise nesse setor não se encerra com o fechamento das maternidades.
Os médicos recém-formados também não querem entrar na obstetrícia, já
que não vêm essa área como um ambiente amigável. Para aqueles que
atendem convênios, o pagamento pelo parto varia de R$ 300 a R$ 400.
Embora não seja possível estimar o valor médio cobrado pelo mesmo
procedimento por especialistas particulares (cada um tem o seu preço),
Fernandes acredita que o parto realizado por um médico que acabou de
sair da faculdade pode variar de R$ 2.000 a R$ 4.000, ou seja, 10 vezes
mais que o plano de saúde reembolsa. No entanto, ele lembra que além do
obstetra, são necessários mais quatro profissionais: auxiliar do médico,
anestesista, enfermeira obstetra e neonatalogista (pediatra).
— Caso nada mude neste setor, em curto e médio prazo a situação pode ficar bem pior do que está.
Em nota, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) informou que "o
valor do reembolso dos planos no caso de parto varia de acordo com o que
for definido pelo contrato. A ANS não tem atuação direta junto aos
prestadores de serviço”.
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