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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Dar à luz em São Paulo pode custar mais de R$ 20.000

Foto: Reprodução
Médicos não querem realizar parto pelo convênio pela baixa remuneração

Dar à luz pode custar muito caro, mesmo para quem tem plano de saúde. Não importa o tipo de parto, boa parte dos obstetras “cobra por fora” o procedimento por considerarem irrisórios os valores propostos pelas operadoras. O cenário piora no caso de parto normal, já que o especialista precisa ficar à disposição da mãe por muitas horas, constatou a gerente de vendas, Maria Cecília Vasconcelos, 33 anos, mãe de Joaquim, seis meses.

— A maioria dos médicos de convênios não quer fazer parto normal por não ter hora marcada e por poder demorar mais de 24h. Como optei pelo parto humanizado, desde o início da gravidez sabia que teria de procurar um médico particular.

Além dos R$ 400 mensais pelas consultas médicas para acompanhar a gestação, Maria Cecília desembolsou R$ 12.000 (sendo metade do obstetra e o restante dividido para a equipe) e R$ 1.500 pela doula (assistente de parto sem formação médica). 

Segundo ela, a parte hospitalar do Albert Einstein foi coberta pelo convênio.

Grávida de seis meses da segunda filha, a supervisora de marketing, Carolina Zuppone Munhoz, 35 anos, paga R$ 160,00 pelas consultas mensais — valor já com desconto de 50% por ser paciente antiga —, mas está inconformada com o reembolso do convênio para a realização do parto com o médico que acompanha o pré-natal.

— Optei pela mesma equipe médica da primeira gravidez há quatro anos, que na época fez tudo pelo plano de saúde. Agora, o obstetra cobrou R$ 7.000 a parte dele e R$ 5.000 para o restante da equipe. Dos R$ 12.000 que tenho que pagar, o convênio vai me reembolsar R$ 861,00. Acho muita sacanagem!

Devido a situação, Carolina entrou em um grupo de mamães na rede social Facebook e descobriu que este é o valor médio cobrado pelo procedimento em São Paulo e a maioria dos planos arca com menos da metade. No caso dela, menos de 10%.

— Ainda bem que posso pagar e não vou precisar procurar outro especialista, mas não estou contente com isso. Ainda vou tentar negociar com o médico.

Por causa do convênio, a mamãe de "segunda viagem" escolheu a Pró Matre para dar à luz Bruna, que deve nascer em novembro, mas se fosse pagar tudo do próprio bolso gastaria mais de R$ 20.000, com hospital e honorários médicos.

O que dizem os médicos?
Para a professora Libânia Paes, coordenadora do CEAHS — Pós Graduação em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde da Faculdade Getúlio Vargas, a discussão entre convênio, hospital e médico é antiga.

— Os planos realmente não remuneram o que o serviço vale, em geral cobrem apenas o custo do procedimento. Por isso, os profissionais precisam ter uma visão racional da administração do negócio para conseguir argumentar melhor com os planos, mostrando números reais.

Na explicação do médico Desiré Carlos Callegari, conselheiro federal do CFM (Conselho Federal de Medicina) pelo Estado de São Paulo, na maioria dos casos, os planos que cobrem os custos do parto “costumam oferecer o serviço com a equipe de plantonistas do hospital credenciado”. Dessa forma, cabe ao obstetra que acompanhou o pré-natal decidir se aceita fazer o procedimento pelo convênio ou não.

— É uma prática legal, até porque se o profissional ficar à disposição de todas as pacientes do plano não consegue nem tirar férias. Os bebês podem nascer a qualquer momento. Por conta disso, o CFM orienta que médico e gestante conversem antecipadamente e negociem. Só não adequado cobrar do convênio e da paciente ao mesmo tempo.

A baixa remuneração também desestimula os profissionais a trabalharem nesta área, aponta o obstetra César Eduardo Fernandes, diretor científico da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo).

— A crise nesse setor não se encerra com o fechamento das maternidades. Os médicos recém-formados também não querem entrar na obstetrícia, já que não vêm essa área como um ambiente amigável. Para aqueles que atendem convênios, o pagamento pelo parto varia de R$ 300 a R$ 400.

Embora não seja possível estimar o valor médio cobrado pelo mesmo procedimento por especialistas particulares (cada um tem o seu preço), Fernandes acredita que o parto realizado por um médico que acabou de sair da faculdade pode variar de R$ 2.000 a R$ 4.000, ou seja, 10 vezes mais que o plano de saúde reembolsa. No entanto, ele lembra que além do obstetra, são necessários mais quatro profissionais: auxiliar do médico, anestesista, enfermeira obstetra e neonatalogista (pediatra).  

— Caso nada mude neste setor, em curto e médio prazo a situação pode ficar bem pior do que está. 

Em nota, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) informou que "o valor do reembolso dos planos no caso de parto varia de acordo com o que for definido pelo contrato. A ANS não tem atuação direta junto aos prestadores de serviço”.

R7

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