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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Pesquisa sintetiza composto que pode retardar sintomas do Alzheimer

Terceiro / Agência O Globo: Sinais da doença ocorrem,
em parte, pois metais fisiológicos, aparecem, em grande quantidade,
ligados a proteínas situadas no cérebro
Estudo da PUC-Rio em parceria com instituto argentino promete gerar mais qualidade de vida aos pacientes da doença
 
Rio - Pesquisa realizada pelo Departamento de Química do Centro Técnico Científico da PUC-Rio conseguiu comprovar que uma substância interfere na interação de biometais com a proteína beta-amiloide, a grande vilã do Alzheimer, o que pode retardar os sintomas e gerar mais qualidade de vida aos pacientes da doença.
 
A perda de memória recente, a dificuldade em realizar tarefas complexas previamente aprendidas e as alterações de humor e de personalidade acontecem, em parte, por que alguns metais fisiológicos (cobre, zinco e ferro), que circulam naturalmente pelo nosso corpo, aparecem, em grande quantidade, ligados a certas proteínas situadas no cérebro. Sem o acúmulo desses metais, é possível que a progressão seja retardada.
 
O professor Nicolás A. Rey, coordenador do LABSO-BIO/PUC-Rio, e o aluno de doutorado em Química, Leonardo Viana de Freitas estão à frente das pesquisas, feitas em colaboração com pesquisadores do Instituto de Biologia Molecular e Celular de Rosario, na Argentina. De acordo com Rey, na primeira parte do estudo, realizada no país vizinho, uma proteína de pacientes de Alzheimer, a beta-amiloide, foi testada in vitro em uma técnica chamada ressonância magnética nuclear.
 
Inicialmente, explica Rey, o composto sintetizado não interagiu diretamente com a proteína. No entanto, quando o colocaram em contato com metais como cobre e zinco, ele se ligou à beta-amiloide. Assim, conseguiram retirar da proteína esses metais que são perigosos por vários fatores - como favorecer a agregação da beta amiloide, que formam as placas senis, em um dos processos-chave do Alzheimer.
 
- O objetivo é diminuir a quantidade desses metais na placa da proteína. Se não for possível dissolver a placa, o fato de retirar os metais com certeza vai diminuir os sintomas. Já é um bom começo - afirmou.
 
Em seguida, os pesquisadores realizaram estudos farmacológicos comparando o composto com outros que estão sendo desenvolvidos pelo mundo, e ele se mostrou extremamente promissor. Uma vantagem da pesquisa, segundo o professor, é que, por enquanto, ninguém havia usado a hidrazona (classe química do composto) para essa função. Esses testes mostraram, ainda, que a absorção do composto, “pelo menos na teoria”, deve ser “muito boa”, como aponta Rey.
 
- Ele tem a capacidade de ultrapassar a barreira hematoencefálica. Nem tudo que você bota no cérebro chega ao cérebro. Mas os nossos cálculos indicam que ele chega - disse, complementando que compararam o composto com mais de 3.300 fármacos e 500 outros compostos químicos cuja toxicidade já está bem estabelecida, e concluíram que o composto não é tóxico.
 
O próximo passo, após ter comprovado que o composto conseguia tirar metais da placa e que conseguia ser bem tolerado, foram os ensaios em animais, aprovados pelo Conselho de Ética da PUC-Rio. Os pesquisadores injetaram na barriga de ratos sem a doença neurodegenerativa uma quantidade extremamente elevada da substância, para saber o que aconteceria se o ser humano tomasse doses muito altas. Após a injeção, eles acompanharam os animais ao longo de 72 horas, procurando qualquer tipo de mudança, com o auxílio do departamento de Psicologia. Não foi observada nenhuma mudança no comportamento do grupo de controle, segundo o professor. Os animais continuaram se alimentando, bebendo água, nenhum morreu ou ficou doente.
 
- Observamos principalmente o cérebro, que é onde a doença age; o fígado, para ver se o composto era metabolizado lá; os rins, já que são os órgãos de excreção; e o coração, para ver a cardiotoxicidade. Realizamos estudos bioquímicos com esses órgãos - esclareceu Rey. - Dosamos o peptídeo glutationa, aminoácidos que servem como uma proteção de estresse oxidativo. Não houve mudança estatiscamente entre os animais tratados com o composto.
 
Ele ressalta, ainda, que a terapia não propõe a eliminação dos metais, mas a redistribuição, já que no Alzheimer o que se tem, basicamente, é que o cobre, o zinco e o ferro são mal distribuídos.
 
Traias atuais são "pobres"
Para o professor, atualmente as terapias para o Alzheimer são extremamente pobres, com inibidores e drogas antidepressivas - “basicamente um tratamento paliativo”.
 
- Se for virar um fármaco, até do ponto de vista econômico seria muito bom. A síntese é muito rápida, muito eficiente, não se joga fora muita coisa. É ambientalmente correto, o subprotudo é a água - afirma.
 
Apesar de os resultados serem animadores, o professor ressalta que ainda há um caminho a percorrer. Não há como seguir com os testes na universidade, já que em algum momento será necessário usar mamíferos superiores.
 
O artigo descrevendo a síntese desse composto foi publicado na revista “Spectrochimica Acta Part A – Molecular and Biomolecular Spectroscopy” e está sendo apresentado nesta quarta-feira no 1º Encontro PUC-Rio Sobre Envelhecimento e Doenças Neurodegenerativas, o “NeuroEnv 2014”.
 
Além disso, a pesquisa já gerou o pedido de patentes nacional e internacional, através da Agência de Inovação da PUC-Rio.
 
A próxima etapa será injetar a substância em ratos modelos da doença para observar se os resultados obtidos in vitro irão se repetir no cérebro do animal doente. Testes cognitivos e bioquímicos serão, então, realizados. A doutora Rachel Ann Hauser-Davis, pesquisadora colaboradora do LABSO-BIO, será a responsável pelo estudo.
 
- Teremos uma série de dados bioquímicos e cognitivos sobre o que está acontecendo no cérebro da cobaia. Se a remoção e redistribuição desses biometais forem confirmadas, o impacto será grande - explica a bióloga.
 
Os testes devem durar de seis meses a um ano e, tendo sucesso, a pesquisa poderá avançar para a fase de testes clínicos.
 
No mundo, há mais de 35,6 milhões de pacientes com mais de 60 anos que sofrem do Mal de Alzheimer e outras demências similares. Só no Brasil, estima-se 1,2 milhões de pessoas diagnosticadas com esta doença incurável.

O Globo

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