Rio — O calor praticamente o ano todo e os batidos hinos carnavalescos não nos deixam esquecer: moramos num país tropical. Mesmo assim, é principalmente no verão, época em que as temperaturas se elevam com força, que a população se lembra particularmente dele. Com a expectativa de 188.020 novos casos de câncer de pele no Brasil só este ano, segundo projeção do Instituto Nacional de Câncer (Inca), dermatologistas cogitam um boom de produtos destinados a minorar os efeitos daninhos do sol. De comprimidos a adesivos, não são poucos os novos métodos para tentar nos ajudar a aproveitar só o melhor dos raios.
A enfermeira Fernanda Pelegrini Torres, de 34 anos, é o que se pode chamar de paciente exemplar. Usa protetor com fator alto, evita exposição sem chapéu de abas largas e não expõe o corpo diretamente ao sol.
— Desde a adolescência eu me preocupava com câncer de pele e me acostumei a usar filtro solar. Depois vieram os casos da doença na família: minha avó, minha mãe e uma tia materna. E aí passei a tomar mais cuidado ainda — conta Fernanda, que foi incentivada por sua médica a adicionar à rotina comprimidos probióticos pela manhã, durante o ano todo.
Esses comprimidos, diz a dermatologista Karla Assed, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), protegem a pele durante a exposição. A fórmula de polypodium leucotomos, um extrato de samambaia tropical, protege o DNA da célula contra a radiação solar, além de ser um antioxidante que poupa a célula da ação inflamatória causada pelo sol — aquela vermelhidão pós-exposição. Segundo a profissional, não existe faixa etária específica para usar esse produto, que deve sempre ser associado ao filtro solar, em todas as estações.
— É claro que aquelas pessoas que se expõem muito mais ao sol têm mais indicação de usar esse produto do que aquelas que se expõem ao sol de forma correta e eventual — Karla explica.
Depois das manchinhas, o cuidado
Por volta das três da tarde do horário de verão, a administradora Carolina Dias aproveita a praia de óculos e viseira. A baiana, cujo sotaque já quase sumiu após dez anos em solo carioca, ocupa com assiduidade a faixa de areia no Posto 10, em Ipanema, e também toma o probiótico nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Ela admite nem sempre ter se preocupado tanto com proteção:
— Acabei ficando com algumas manchinhas. Hoje tomo vários cuidados para não aparecerem outras.
Na sua bolsa, outra inovação aparece: o protetor solar com fator 100. Segundo a dermatologista Marcela Studart Frota, a indústria farmacêutica está vendo a necessidade do mercado de que os filtros venham com fator de proteção solar (o famoso FPS) mais alto, cosmética mais seca e proteção para radiação UVA.
— Para pacientes com melasma e outras patologias relacionadas ao sol, sempre indico fotoprotetores altos. Um protetor FPS 99, por exemplo, acaba protegendo cerca de 5% a mais que um FPS 30.
Parece pouca coisa, mas, em um paciente que tenha essas manchas escuras ou teve câncer de pele, faz muita diferença — diz.
Outra opção para quem quer aproveitar a esperada estação sem correr riscos são as roupas com proteção UV. Segundo Marcela, são “superseguras" e já existem há muito tempo, alcançando aprovação internacional. Ao Brasil, no entanto, chegaram há menos de cinco anos e são recomendadas para inclusão no receituário como um complemento.
Dispositivos que acompanham a proteção, como o adesivo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) que avisa a hora de sair do sol, também ganham espaço.
O produto, que varia da cor vermelha para a verde quando a exposição chegou ao ponto limite de segurança, deve chegar ao mercado nos próximos meses. Enquanto isso não ocorre, a pulseira descartável UV Sun Sense é uma boa escolha para minimizar os riscos dos raios prejudiciais indicando, também pela mudança de cor, o momento de reaplicar o protetor solar, ou sair do sol.
Segundo as profissionais, os que devem estar duplamente atentos a essas novidades são aqueles com menor fototipo da pele, ou seja, pessoas mais claras. De acordo com o Atlas de Mortalidade por Câncer lançado semana passada pelo Inca, os estados mais ao Sul do país têm mais registros de óbito por melanoma maligno e outras neoplasias malignas da pele, principalmente devido ao tom da pele da maioria da população.
— Nunca é demais lembrar: independentemente da região, deve-se evitar a exposição ao sol entre as 10h e as 16h. E, mesmo passando longe da praia, protetor todo dia — recomenda Andreia Cristina de Melo, oncologista da clínica Oncologistas Associados, que ratifica a importância de acompanhar o surgimento de pintas na pele, o que propiciaria um diagnóstico precoce de neoplasias.
Os perigos que podem estragar a diversão na praia
A beleza das nossas praias esconde perigos invisíveis à saúde. Diferentes contaminações podem propiciar as mais variadas doenças — algumas até que nem os especialistas podem prever.
Areia: parasitas, larvas e bactérias
— Atualmente, é proibido levar animais para a praia, mas isso não impede que os abandonados frequentem e acabem infectando a areia com parasitas e larvas oriundos de fezes. Já na areia molhada existem regiões na praia em que há esgoto sem tratamento, e o contato com as bactérias presentes pode causar náuseas e diarreias — afirma o infectologista Ricardo Barbosa.
A indicação é consultar as pesquisas que mostram os níveis de contaminação das areias das praias e, claro, não se expor naquelas com índices elevados.
Chuveirinho: doenças transmissíveis
— A bomba do chuveirinho puxa água do subsolo. A urina (dos próprios usuários do chuveiro) pode chegar até o local de onde a água é bombardeada. Se ingerida, há riscos de variadas doenças transmissíveis — afirma o químico José Markus Godoy, da PUC-Rio.
A melhor alternativa é tomar banho em um dos postos do Corpo de Bombeiros ou em um chuveirinho onde a bomba esteja distante do local de banho.
Bebidas e comidas: intoxicação
— Não sabemos como foi feita a maionese do sanduíche natural ou como foi conservado o queijo de coalho, tampouco a procedência do camarão. Já no mate de galão, é difícil atestar a limpeza do recipiente e a origem da água — afirma Ricardo Barbosa.
O Globo
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