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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Pesquisa revela que 88% dos cariocas fariam sexo sem camisinha no carnaval

Levantamento exclusivo da UniCarioca mostra ainda que 53% não se protegeram no último ano
 
Rio - “Ter sempre uma camisinha no bolso é um ato de amor próprio”. A frase do universitário carioca Guilherme Silviano, de 23 anos, é o que todo pai ou médico querem ouvir. Ciente de que usar preservativo nas relações sexuais é a melhor forma de se prevenir contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e uma gravidez indesejada, o estudante de Comunicação não dispensa a borracha e ainda dá bronca nos amigos que, como descreve, insistem em “brincar de roleta russa” com a Aids, principalmente durante o carnaval, quando cresce o número de relações.
 
— Fico abismado. Vejo que a maior preocupação de algumas amigas é com a gravidez, então só tomam anticoncepcional e se esquecem das DSTs — comenta o estudante, que faz estágio na Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual do Rio (CEDS). — Digo para elas que é importante estar com a camisinha no bolso, para não deixar a decisão para a hora H, quando é mais difícil controlar os impulsos. E não dá para esperar que o outro tome a iniciativa. A responsabilidade é sua.
 
O comportamento perigoso, infelizmente, não é só dos amigos de Guilherme. Uma pesquisa encomendada pelo GLOBO ao Laboratório de Pesquisa da UniCarioca revelou que 53% fizeram sexo sem camisinha sempre ou diversas vezes no último ano — se contados os que deslizaram pelo menos uma vez, o percentual sobe para 75%. Também 88% dos cariocas aceitariam ter um relacionamento com um parceiro que não queira usar a camisinha, sendo que 38% confessaram que fazem isso sempre ou com certa frequência. O estudo entrevistou 1.074 pessoas, no fim do mês de janeiro, em diferentes regiões do Rio — 73% delas eram jovens de 18 a 29 anos.
 
A diretora do Programa de Aids das Nações Unidas (Unaids) no Brasil, Georgiana Braga-Orillard, chama a atenção para o fato de que o grupo de jovens infectados, especialmente o dos homens que fazem sexo com homens, é o que mais cresce.
 
— Esses jovens são conectados, então o problema não é o acesso à informação. Precisamos tentar entender como atingir essas pessoas e fazê-las transformar esse conhecimento em atitude prática — raciocina Georgiana. — Essa geração, que não viu seus ídolos morrerem de Aids, acha que, hoje, essa é uma doença fácil de ser contornada. Isso não é verdade.
 
Segundo a pesquisa, os principais motivos que levam os cariocas a transar sem a camisinha são: se o preservativo interferir no prazer (26%), se o parceiro resistir ou não gostar de usar (24%), ou se diminuir a ereção (10%). Para o sexólogo Amaury Mendes Junior, a vaidade e a afobação poderiam ser acrescentadas à lista.
 
— No consultório, vejo que tanto os homens como as mulheres andam muito preocupados com o desempenho sexual. Parece que cama virou palco, e, nesse espetáculo, a camisinha está sendo deixada de lado — comenta Mendes Junior, professor do Ambulatório de Sexologia da UFRJ. — A menina apaixonada quer que tudo seja natural e acha que a camisinha estraga o clima. Ela também se preocupa com a concorrência: “Se eu não topar, ele vai procurar outra”. Já o garoto não quer perder a oportunidade de se exibir para a gata.
 
As DSTs parecem realmente não ser um problema na cabeça dos cariocas. Quando indagados sobre as razões que os fazem usar a camisinha, 67% responderam que a têm como obrigação só quando não conhecem o parceiro ou no início de uma relação. O medo da gravidez veio logo atrás (21%), mas só 12% dos cariocas usam camisinha por medo de contrair doenças. Mais: 44% concordam que no carnaval as pessoas transam mais sem camisinha, motivo de alarme entre as autoridades.
 
Nova direção da campanha: # Partiuteste
Dados nacionais, de fato, revelam um certo apreço do brasileiro pelo risco. Uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde no fim do mês passado mostrou que 45% da população sexualmente ativa do país não usaram preservativos nas relações sexuais casuais nos 12 meses anteriores, apesar de a maior parte (94%) saber que a camisinha é melhor forma de prevenção contra a Aids e outras DSTs.
 
Amanhã, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, apresentará o recorte regional do Rio. O evento será às 10h30m, no Palácio do Samba, na quadra da escola de samba Estação Primeira de Mangueira.
 
Lá, será lançada a nova campanha do Ministério da Saúde de combate às DSTs. As ações de carnaval serão focadas não só na prevenção, mas também na testagem e no tratamento. É a campanha “#PartiuTeste”, que pretende informar o jovem sobre a importância da camisinha, incentivá-lo a fazer o teste e, se der positivo, começar logo o tratamento.
 
— O combate à Aids ficou muito “camisinhocêntrico”, como se essa fosse a única solução para a epidemia. Mas não podemos ignorar que boa parte da população quer correr o risco, apesar de saber dos males. Hoje, a ciência mostra que existem outras formas de prevenção — afirma o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita.
 
Epidemiologista que trabalha com o HIV desde 1987, ele explica que a maioria dos soropositivos em tratamento apresenta nível muito baixo de vírus circulando no corpo. Portanto, a probabilidade de transmitirem a doença a um parceiro durante o ato sexual sem camisinha é bem menor. É o tratamento como prevenção.
 
12,7 jovens contaminados por HIV a cada 100 mil 
O publicitário X., de 24 anos, é um dos alvos da nova campanha, já que a taxa de detecção de HIV entre jovens aumentou consideravelmente nos últimos anos — de 9,6 por 100 mil habitantes, em 2004, para 12,7 por 100 mil habitantes, em 2013. Ele nunca usou camisinha com a namorada e, mesmo solteiro, quando costumava se encontrar com meninas que conhecia pelo aplicativo de encontros Tinder, não usava preservativo.
 
— Eu não gosto de usar, mas sempre explico isso antes que aconteça qualquer coisa. Se a pessoa for contra, eu uso — conta o carioca, que está ciente dos riscos que corre: — Medo todo mundo tem, mas eu esqueço disso mais fácil do que os outros.
 
A administradora Ana Luiza Mello, que é casada, não usa camisinha porque não vê necessidade. Ela também só realizou o exame de HIV uma vez, quando engravidou.
 
— Tenho preguiça e acho que corta o clima. Além disso, como somos casados, confio nele — afirma Ana Luiza, de 27 anos, confessando que já teve medo de contrair alguma doença: — Se dissesse que não, estaria mentindo. Mesmo assim, o medo não foi tão grande a ponto de mudar minha opinião.
 
O Globo

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