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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Pirataria atinge o mercado de próteses dentárias

Indústria estima falsificação em 30% de uma peça usada em dentes artificiais, o que compromete a saúde dos usuários
 
Brasília Estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratório (Abimo) apontam que 30% de um dos componentes usados em dentes artificiais no Brasil sejam falsificados. Mais barato, o produto pirata é menos seguro e leva à necessidade de manutenção mais frequente, ao risco maior de inflamação e até à possibilidade de perda do implante.
 
A peça falsificada é o componente protético, que fica escondido dentro do dente artificial, fazendo com que o paciente dificilmente perceba algum problema de imediato. De acordo com a Abimo, os componentes piratas são feitos com dimensões de encaixe mais folgadas e se adaptam a vários tipos de implante, que é a parte que fica em contato com o osso e costuma ser feito de titânio ou liga de titânio. Isso faz com que acabem se afrouxando com mais facilidade e, no espaço gerado pelo afrouxamento, há risco de proliferação de bactérias e perda do implante.
 
Quem enfrentou de problema foi o agrimensor aposentado Américo Campaneri Filho, de 72 anos. Morador de São Carlos, interior de São Paulo, ele perdeu os dentes inferiores e resolveu fazer um implante. O primeiro procedimento, feito há três anos, não foi bem-sucedido. Depois de um ano de sofrimento e gastos de R$ 7 mil, ele foi orientado por um parente a buscar um novo tratamento, com um dentista de Araraquara, a 40 km de São Carlos.
 
— No primeiro procedimento eu tive bastante inflamação. Doía, eu tomava comprimido uma vez por semana, para aliviar. E a prótese não encaixava, ficava dançando na boca, e machucando a gengiva — contou o aposentado.
 
Fraude é mistério até para dentistas
Mesmo entre os dentistas é difícil saber se o problema na prótese de um paciente é provocado por componente pirata. A dentista Raquel Saraiva diz que o uso de componentes falsificados é comum, mas outros motivos também levam a complicações na prótese.
 
— A gente não consegue perceber a falsificação. O componente de empresas idôneas vêm dentro de caixinhas seladas. Mas tirando da caixinha, a princípio não dá para saber (se é falsificado ou não) — afirma Raquel.
 
Uma das pacientes que a dentista já atendeu após ter problemas na prótese foi sua funcionária, a babá Edilma Pereira, de 39 anos. Edilma gastou entre R$ 4 mil e R$ 5 mil para colocar três próteses, mas uma não deu certo e ela acabou fazendo novo tratamento, dessa vez com a patroa, em Brasília.
 
— Tive incômodo, e como a comida fica acumulada por baixo da prótese, mau cheiro — relatou Edilma.
 
Segundo Fábio Embacher, coordenador do subgrupo de implantes da Abimo, a estimativa de 30% de produtos falsos foi calculada a partir das vendas de implantes e componentes. Segundo ele, para cada implante deve haver um componente. Mas, atualmente, de cada dez implantes vendidos, apenas sete componentes são comercializados.
 
O implante é o tratamento que mais gera ações no Conselho Federal de Odontologia (CFO), segundo ele, mas a entidade informou nunca ter recebido denúncia em relação ao uso de componentes piratas. Entre as recomendações ao consumidor está a de solicitar que o dentista coloque na nota fiscal dados como o fornecedor do produto, o número de registro na Anvisa e o nome do laboratório responsável. E aconselha a sempre confirmar a veracidade dessas informações no site da Anvisa.
 
— Hoje é muito comum o paciente perder o contato com o dentista e não saber que implante tem na boca, e nem todos os modelos são compatíveis entre si — explica. — A rastreabilidade, além de garantir a idoneidade do produto, vai dar informação do que ele tem na boca, como acontece com os portadores de marca-passo — exemplifica.
 
Entre os fabricantes do setor, o pedido é para que que haja uma reclassificação dos componentes dentários da parte da Anvisa. Essa reivindicação foi apresentada no último dia 25 de janeiro, durante evento sobre pirataria na odontologia realizado em São Paulo, do qual participou inclusive um técnico da Anvisa. Mas a agência não deu uma resposta às demandas do setor, alegando que a é preciso fazer uma profunda avaliação dos impactos regulatórios. Na parte repressiva, a ação da Anvisa tem tido eficácia limitada. A agência localizou apenas um caso de produto odontológico falsificado: uma pasta para cimentação de próteses odontológicas.
 
Atualmente, uma estratégia adotada pelas empresas para evitar a pirataria é dar garantia vitalícia ao dentes artificiais implantados, desde que os componentes protéticos usados sejam produzidos por elas mesmas.
 
— Acho que isso vai fazer o dentista se preocupar um pouco mais para não perder a garantia do produto — afirmou Geninho Thomé, dono da Neodent, maior empresa do setor.
 
O Código Penal estabelece reclusão de 10 a 15 anos, além de multa, para o crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.
 
 Globo

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