A cabeleireira Lara K., 26, diz que não consegue abandonar o cigarro mentolado por uma razão meio infantil """o frescorzinho" que ele provoca na boca. "Já ouvi que cigarro mentolado é mais nocivo, mas não consigo parar. Fazer o quê?"
desconforto de Lara com a dependência do aroma não é uma exceção. Pesquisa Datafolha feita para a Aliança de Controle do Tabagismo mostra que 75% dos brasileiros aprovam a proibição de aditivos como menta e chocolate em cigarros.
A pesquisa foi feita para aferir quais são as melhores medidas para reduzir o consumo de cigarro entre jovens e adolescentes.
O aumento de imposto para cigarros teve apoio de 76% dos entrevistados, e o fim da publicidade em bares e outros pontos de venda, de 78%.
Os aromas de menta, chocolate e morango são adicionados ao cigarro com um único objetivo, segundo Agenor Álvares, diretor da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária): "Como o tabaco tem um gosto ruim, esses aromas facilitam a iniciação ao cigarro. O aditivo é um truque sujo para conquistar os jovens".
A Souza Cruz nega que o alvo sejam os jovens.
A Anvisa faz uma consulta pública sobre o tema, com vistas a proibir os aditivos.
O mentol, o mais comum deles, diminui o desconforto da nicotina ao reduzir a irritação na garganta, por conta de seu efeito anestésico.
Nos cigarros com teores mais baixos, ele tem uma função adicional: aumenta a potência da nicotina, segundo pesquisas da FDA, agência do governo do EUA que cuida de drogas e tabaco.
JOVENS
Estatísticas no Brasil e nos EUA comprovam que os jovens são os maiores consumidores desse tipo de fumo.
Entre 2002 e 2005, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) e pesquisadores da Universidade John Hopkins ouviram 13 mil estudantes em dez capitais brasileiras e descobriram que 44% deles usam cigarros com aroma. O índice é o dobro dos fumantes na população em geral (22%), segundo a pesquisa.
Nos EUA, os levantamentos mostram que, enquanto o percentual de fumantes está em queda, o índice dos que consomem cigarros mentolados só cresce.
Entre os jovens de 18 a 24 anos, os fumantes de cigarro mentolado representam 40%. Na população acima de 26 anos, esse índice cai para 32%, segundo a FDA.
O órgão recomendou a proibição do mentol em fevereiro, mas o Congresso não aprovou a sugestão.
A facilidade na iniciação não é o único problema com os aromatizantes, de acordo com a FDA. É mais difícil largar um cigarro com menta ou tuti-frutti do que um sem.
No Brasil, não há pesquisas sobre a dificuldade de abandonar os mentolados ou congêneres, mas a médica Stella Martins, diretora do Programa de Atenção ao Tabagista do Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas), órgão do governo paulista, diz que a percepção do usuário desse tipo de fumo é diferente.
"O problema dos que fumam cigarro com sabor é que eles acham que esse tipo de cigarro não é um problema".
Um levantamento feito pela entidade sobre o uso de derivados do tabaco nos cinco primeiros meses deste ano mostra que o cigarro com sabores ocupa a segunda posição na preferência. Segundo a consulta, 22% dizem ter fumado cigarro com sabor nos últimos 12 meses. O uso de narguilé foi relatado por 28%.
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