Homens jovens são os mais negligentes. Entre homens e mulheres, 20% continuam fumando, revela pesquisa
Mauro Carvalho, 67, tem 116 quilos, cinco stents no coração e três infartos acumulados. O acesso direto à informação não foi suficiente para que o jornalista, hoje aposentado, mudasse o estilo de vida e o comportamento em relação à própria saúde depois de sofrer o primeiro infarto, há 11 anos.
"A única coisa errada que eu não fazia era o cigarro. Se eu fumasse, certamente estaria morto, pois somaria todos os fatores de risco.”
Foi somente após o terceiro ataque cardíaco, em junho de 2010, que Mauro reavaliou a alimentação e incluiu caminhas da rotina, agora menos estressante. O processo de recuparação o internou na Unidade de Tratamento Intensiva por mais de um mês e o fez perder 10 quilos.
Depois de sobreviver a três entupimentos de artérias, eliminou das refeições gorduras e frituras, segue uma dieta recomendada pela vizinha – ela é nutricionista –, reconhece que está perdendo peso paulatinamente e percebe as limitações de um coração combalido quando o neto de dois anos exige um pique muito além do que o coração permite.
“Os dois primeiros foram leves. Somente nesse último, em que passei um mês na UTI, achei que não teria volta. Depois que o susto passa, a gente não pensa que vai acontecer novamente.
Milhões em um
O comportamento de Mauro não é isolado. Segundo pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Cardiolgia ao Instituto Datafolha e apresentada hoje (14), boa parte dos infartados, além de desconhecer a própria doença, permanece negligente em relação à própria saúde mesmo após um incidente cardíaco.
Foram entrevistadas 610 pessoas que já infartaram anteriormente, a partir dos 30 anos, de todas as classes econômicas, em seis capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belém, Salvador e Goiânia. Desse grupo, 66% eram homens e 34% mulheres, com idade média de 63 anos.
Mais de 20% dos participantes não abandonaram o cigarro após o incidente cardíaco. Após o ataque cardíaco, apenas 28% incluíram alguma atividade física na rotina diária, 67% mudaram o comportamento alimentar e 53% passaram a tomar os medicamentos preventivos conforme indicado pelos médicos.
Segundo Jorge Ilha, presidente da Sociedade Brasileira de Cardioligia, os dados devem ser ainda mais alarmantes. O comportamento dos infartados tende a mudar nos primeiros seis meses após o problema. Depois desse período, a negligência volta a ser preponderante na maioria dos casos.
Na visão do médico, os dados traduzem a espiral de um problema crônico: o pífio investimento em saúde publica e má qualidade do atendimento médico no País.
“Os médicos pouco informam e orientam os pacientes sobre como proceder para evitar que o incidente se repita. No sistema público de saúde, as consultam são rápidas e não há muito espaço para dúvidas.“
De fato, a pesquisa mostra que o acesso à informação sobre o tema está bem longe dos consultórios: 50% dos entrevistados afirmaram usar a televisão como canal para obter conhecimento sobre saúde em geral e sobre saúde do coração.
“A realidade no SUS é cruel por que o foco é atendimento e não qualidade. Mas não é um problema distante dos grandes centros hospitalares. Muitas vezes, o paciente tem o melhor atendimento, rápido e eficaz, mas deixa o hospital sem saber o que é preciso fazer para evitar a recorrêmcia do problema e até mesmo a morte”, revela Otávio Rizzo, Chefe da Unidade de Cardiologia da Unicamp.
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