Uma pequena e única incisão no umbigo, de cerca de um centímetro de largura, é o suficiente para operar e dar mais qualidade de vida ao doente: reduzir a dor, as infecções e o tempo de recuperação, associados a qualquer acto cirúrgico.
Chama-se laparoscopia de incisão única, clinicamente denominada de Single Incision Laparoscopic Surgery – SILS. Trata--se de uma técnica minimamente invasiva, realizada com o auxílio de uma microcâmara de vídeo – o laparoscópio, através do qual se pode visualizar o interior da zona abdominal – e de dois ou três instrumentos cirúrgicos (pinças), especialmente desenhados para esta cirurgia. Estes vão ser os "olhos" e as "mãos" do cirurgião, que acompanha todo o procedimento através de um televisor. Para criar espaço suficiente para a realização da cirurgia, é introduzido um gás (dióxido de carbono) no interior do abdómen, de modo a que este dilate e seja possível a visualização dos órgãos internos. A novidade: todos estes instrumentos são introduzidos através de um único orifício – o umbigo. Aproveita-se assim uma cicatriz natural do corpo, não estando o doente sujeito a novas cicatrizes. É um procedimento que dura sensivelmente uma hora.
Não há limite de idade para se ser submetido a esta técnica. Porém, nem todos os doentes podem ser submetidos a este novo método cirúrgico. Trata-se de pacientes com infecções no umbigo ou que, devido ao facto de já terem sido submetidos a outras cirurgias, apresentem algumas cicatrizes abdominais internas. Problemas de coagulação ou a existência de risco anestésico são também entraves à realização da SILS.
Disponível em Portugal desde 2009, já foram realizadas mais de mil operações com recurso a esta técnica. As aplicações são várias: operações à vesícula ou apêndice, remoção de baço, rins ou quistos nos ovários, correcções da bexiga, laqueação de trompas, tratamento de hérnias e, inclusivamente, colocação de bandas gástricas ou reduções do estômago. Os resultados têm sido positivos, tendo a laparoscopia de incisão única potencial para funcionar como alternativa à cirurgia em procedimentos mais complexos.
BASTA UMA ÚNICA INCISÃO
A laparoscopia convencional e a laparoscopia de incisão única diferem quanto ao número de incisões. Enquanto no método tradicional são necessários três ou mais orifícios diferentes no abdómen para realizar a cirurgia, com esta nova técnica basta apenas um corte no umbigo. Trata-se do avanço mais recente dos últimos 20 anos.
DISCURSO DIRECTO
"TEMPO DE RECUPERAÇÃO DIMINUI": Rui Ribeiro, Cirurgião no Hospital de S. José, Lisboa
CM – Quais as vantagens para o doente?
Rui Ribeiro – Esta técnica reduz as dores e complicações do pós-operatório: infecções, hemorragias, ou danos em órgãos. Há um menor consumo de analgésicos, o tempo de internamento e recuperação diminui. Há igualmente uma vantagem estética, pois a cicatriz fica "escondida" no umbigo.
– E desvantagens?
– A laparoscopia de incisão única tem uma maior dificuldade técnica, exigindo muita adaptação e treino da parte do médico.
– Que cuidados deve ter o doente?
– Repouso e cuidados com a ferida operatória. Pode regressar à vida normal em 3 a 4 semanas, no caso de uma profissão de esforço, ou numa semana, no caso das profissões intelectuais.
O MEU CASO: CIDÁLIA CORREIA
"QUANTOS MENOS FURINHOS MELHOR"
Cidália Correia estava calma e serena antes de entrar para a sala de operações. Ia ser operada a um quisto nos ovários e estava confiante em relação à técnica a que ia ser submetida na próxima hora – a laparoscopia de incisão única.
"Quanto menos furinhos, melhor, é menos doloroso", disse ao CM a escritora, pintora e designer de jóias, de 43 anos. Esperou dez anos para ser operada, mas foi recompensada ao encontrar uma técnica cirúrgica que satisfaz os desejos de todos os doentes: menor dor, menos complicações pós-operatórias e tempo de internamento reduzido. Até porque Cidália não tem tempo para perder na recuperação. "Tenho dois livros para terminar, a minha colecção de jóias para desenhar e, sobretudo, tenho de estar com as pessoas de quem gosto", enumera, reconhecendo que as pessoas, de um modo geral, dão pouca importância ao corpo e à saúde. "Quando se entra numa sala de operações, pensamos que tudo pode correr mal ou bem", confidencia a doente, natural de Torres Vedras, confiante na recuperação.
Três meses após a cirurgia, Cidália está totalmente recuperada. "O processo foi excelente e muito fácil, quinze dias após a operação já estava de volta à minha rotina normal, voltei a conduzir, e ao fim de quatro dias consegui ir ao café", recorda.
Fonte Correio da Manhã
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