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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Paulistanos criam suas leis sanitárias

Corantes sintéticos suspeitos de provocar alergias não são proibidos nas guloseimas do Brasil, mas na geladeira da blogueira Talita Ribeiro, de 24 anos, eles não entram. Agrotóxicos considerados severamente perigosos por 75 países, como o endossulfam, só vão deixar as plantações de café do País definitivamente em 2013, mas o empresário Nardi Davidsohn, de 45 anos, baniu há tempos de seu prato alimentos cultivados com pesticidas. E Fernanda Medeiros, de 39 anos, expulsou o bisfenol de casa bem antes de o País vetar a presença da substância em mamadeiras de plástico, na semana passada.

À espera de medidas mais rígidas para substâncias usadas em alimentos e cosméticos do País, paulistanos têm criado suas próprias regras sanitárias. A estratégia é uma forma de evitar compostos relacionados a problemas de saúde e vetados há décadas em outros países. “É incrível como aceitamos ser tratados como terceiro mundo, é a síndrome de ‘patinho feio’”, critica o procurador do Ministério Público Jefferson Dias, envolvido no caso do bisfenol.

Apesar do veto às mamadeiras com bisfenol, a substância continua permitida em outros artigos de plástico. Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), especialista em saúde pública e doutora em ciências médicas, Lia Giraldo Augusto acredita que o Brasil tem “um Estado extremamente permissivo, inclusive em relação aos interesses privados”. Mas diz que, muitas vezes, falta também mais organização pública, ou seja, do próprio consumidor. “As pessoas estão desprotegidas e o pior é que na maioria das vezes desconhecem os riscos porque eles são camuflados.”

Em relação ao bisfenol, Fernanda reconhece que pouco sabia sobre ele até se tornar mãe. “Quando colocam um bebê na sua mão tudo muda. Você quer dar o melhor, só pensa na saúde daquele ser”, conta ela, que só usa recipientes de vidro, cerâmica e inox desde que as filhas, de 3 e 6 anos, nasceram. Junto com outras mães, encabeçou uma campanha na web contra a substância que ganhou apoio da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e ajudou a cobrar do País uma resposta: por que o composto, proibido na Europa, na China e em vários Estados norte-americanos, tinha passe livre no País?

É também em blogs que muitas mulheres interessadas em cosméticos se encontram para compartilhar mais que tendências de beleza: há dezenas de fóruns questionando a presença de substâncias limitadas no exterior em alguns esmaltes brasileiros. O dibutilftalato, por exemplo, foi vetado na Europa na década de 1970 e ainda hoje aparece por aqui, para conferir brilho.

Para o empresário Nardi Davidsohn, de 45 anos, a ameaça maior vem dos pesticidas. “Se matam bichinhos, matam a gente também”, diz ele, que só consome orgânicos. Em junho, representantes de 75 países determinaram a restrição ao comércio de três agrotóxicos considerados “severamente perigosos” à saúde – e ainda usados no Brasil.

Coordenadora executiva do Instituto de Defesa do Consumidor, Lisa Gunn tem uma resposta para a flexibilidade brasileira. “Vai além da saúde pública, é uma questão de interesses econômicos, financeiros, políticos, governamentais”, diz. “Alguns países são bem mais atenciosos com o princípio da precaução, além de serem mais ágeis na regulamentação”, completa.

Fonte Estadão

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