A ilha de excelência chamada São Paulo tem seus locais de tristeza profunda e desolação. Abandonados à própria sorte, jovens médicos plantonistas, meia dúzia de enfermeiros dedicados e dezenas de pacientes em estado de carência absoluta de atendimento e carinho habitam nestes dias o Pronto Socorro do Hospital São Paulo, na Vila Clementino, Zona Sul da Capital.
Espalhados em uma saleta lotada de pronto atendimento num corredor do SUS, passam horas, dias, à mercê de um serviço público capenga, desumano, doente. Que só não é pior por conta de um punhado de abnegados que insistem em medicar e socorrer no peito e na raça.
“E olha que neste final de semana até que está tranquilo”, resumiu, na noite de sábado, um funcionário ao sair da sala de sutura no meio de um corredor atulhado de gente à espera de um curativo, de um diagnóstico ou até de uma cirurgia de urgência.
Macas pelo corredor, ocupadas há dias, já têm números fixados na parede: viraram leito. Na noite de sexta-feira, um homem de idade avançada, deitado sobre uma maca bem na frente da sala de baleados, fraturados e cortados, chamava por ajuda. Com um colete imobilizando seu pescoço, estava com a bexiga cheia e não conseguia levantar-se sozinho para urinar. Era a imagem do desconforto.
No canto do corredor que dá acesso à ala do atendimento particular e convênios – onde a situação é de tranquilidade (uma internação sai por R$ 5 mil, uma cirurgia exige depósito de R$ 10 mil) -, uma mulher parece morar na maca. Atrás dela, contra a parede, uma sacola com roupas e objetos pessoais. Quieta, não reclama. Ao lado dela está o setor de atendimento de saúde mental. Mais macas, pessoas agitadas. Todo mundo no soro.
Nas paredes do PS, cartazes informam: greve no hospital. A estrutura da entidade, ligada ao Ministério da Educação, funciona precariamente na ala do SUS. Os servidores estão parados. Há dias pressionam por melhores condições de vida.
Tristes momentos da república na maior metrópole do País. Estão todos em sofrimento. Servidores irritados, jovens médicos em começo de carreira aos lamentos, e seus desamparados pacientes, que precisam do Estado brasileiro, abandonados. O Estado cobrador de impostos, mais uma vez, os deixa a todos na mão.
Fonte Estadão
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