CASA - Centro Avançado de Sexualidades e Afetos acusou hoje o Hospital de S. João de violar uma resolução da Assembleia da República que recomenda medidas de combate à discriminação dos homossexuais nos serviços de recolha de sangue.
O hospital do Porto rejeita as acusações, justificando que o questionário que inclui a pergunta “Teve relações sexuais com pessoas do mesmo sexo?” não elimina a hipótese de efetuar dádiva de sangue.
“O questionário, per si, não elimina a hipótese de efetuar uma dádiva de sangue. O dador é observado por um médico que, de acordo com o seu julgamento clínico, toma a decisão que entende clinicamente adequada, sempre na perspetiva de defender a parte mais fraca desta ‘cadeia: o doente que irá receber os componentes daquela dádiva”, observa Luís Manuel Cunha Ribeiro, diretor do serviço de Imunohemoterapia do “S. João”, numa resposta escrita enviada à agência Lusa.
O responsável sustenta que os médicos daquele serviço “procuram atuar de acordo com o estado da arte, seguindo as boas práticas internacionais, por serem aquelas que melhor protegem o doente”.
No entanto, avisa, “a decisão de poder dar sangue é uma decisão clínica tomada por cada médico, de acordo com o seu entendimento clínico e do estado do conhecimento científico”.
O diretor do serviço admite que o questionário confidencial que é preciso preencher inclui a questão “Teve relações sexuais com pessoas do mesmo sexo?”, mas sublinha que “engloba 28 perguntas”, entre as quais se encontram as questões “Teve novo parceiro sexual nos últimos 6 meses?” e “Teve contactos sexuais a troco de drogas ou dinheiro?”.
Em comunicado enviado à Lusa, a CASA diz que o seu vice-presidente da direção “foi informado de que não poderia ser dador de sangue especificamente por ter respondido afirmativamente à questão”.
Por isso, a associação “exige a reformulação imediata do questionário, cumprindo a recomendação aprovada em Assembleia da República" no sentido de serem “alterados os critérios de seleção dos dadores de sangue", escreve-se na nota de imprensa assinada pelo presidente da direção, Manuel Damas.
“Sendo a doação de sangue um ato de generosidade e cidadania, tal atitude não pode nem deve ser manchada, jamais, por atitudes discriminatórias e homofóbicas, especificamente proibidas em termos legislativos”, reclama.
Esta resolução do Parlamento em causa é de 2010 e “recomenda a adoção de medidas que visem combater a discriminação dos homossexuais nos serviços de recolha de sangue”, apontando a “reformulação de todos os questionários que contenham enunciados homofóbicos”, explica a associação.
A CASA considera que a pergunta incluída no questionário do Hospital de S. João “discrimina, de forma grosseira, os potenciais dadores de sangue com base na orientação sexual, não tendo qualquer fundamentação clínica ou científica, tal como já o manifestaram os mais altos responsáveis de diversas instâncias de saúde nacionais e estrangeiras, inclusive da União Europeia”.
Fonte Destak
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