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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Pesquisa comprova que motoristas de táxi têm a estrutura cerebral alterada

Segundo o estudo, nesses profissionais a parte posterior do hipocampo ''ligada à orientação espacial e à memória'' é mais desenvolvida do que a das demais pessoas

Levar passageiros por toda parte e com a preocupação de fugir de engarrafamentos e encontrar endereços pouco conhecidos. A vida de taxista exige, além de uma boa dose de paciência, muito conhecimento sobre a cidade. A necessidade de memorizar mapas inteiros é tão grande para esses profissionais que a estrutura de seus cérebros acabam sofrendo alterações, aponta uma pesquisa da Universidade College London, do Reino Unido.

No estudo, publicado na revista científica Current Biology, uma equipe de pesquisadoras lideradas por Eleanor Maguire acompanhou 110 pessoas durante quatro anos. Dessas, 79 treinavam para ser taxistas em Londres enquanto as demais apenas costumavam dirigir pela cidade, que tem cerca de 25 mil ruas. Ao longo da análise, apenas 39 dos candidatos a taxistas passaram nos exames exigidos para o exercício da profissão na capital inglesa. As cientistas fizeram imagens do cérebro de todos os voluntários no começo e no fim da análise.

Os resultados revelaram que as pessoas que se tornaram taxistas apresentavam, depois de quatro anos, mais massa cinzenta na região posterior do hipocampo — ligada à orientação espacial e à memória — do que os demais participantes. Esse mesmo grupo, porém, teve uma queda no volume de massa cinzenta na parte da frente dessa área cerebral. “Provavelmente, a redução foi a maneira que o órgão encontrou para se adaptar e dar espaço às novas informações adquiridas”, estima Eleanor, que é especialista em neuroimagem do Instituto de Neurologia da universidade. Além disso, notou-se que os candidatos a taxistas, independentemente de terem sido aprovados ou não, se saíram melhor em testes de memória do que os outros motoristas.

Para Eleanor, a principal descoberta de sua pesquisa é a comprovação de que o aprendizado intensivo em adultos causa mudanças estruturais no cérebro. “Com essa pesquisa, nós mostramos que a plasticidade é possível a partir da realização de estudos de alto nível. Isso pode ter implicações na educação ao longo da vida, bem como para a reabilitação de pacientes que têm a memória debilitada”, afirma.

Para a vice-coordenadora do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Sonia Brucki, o estudo reforça a teoria da plasticidade neuronal, segundo a qual o número de células e sinapses aumenta no cérebro à medida que a pessoa o exercita. “Cada vez mais tem se buscado métodos para fazer com que o envelhecimento seja melhor e para descobrir como o cérebro pode lidar com eventuais lesões. E o estudo mostra que existe essa plasticidade do órgão, que pode aumentar determinadas áreas e que algumas regiões podem se tornar mais ativas que outras, ajudando o corpo humano a executar suas funções”, destaca Sonia.

Cláudio Carneiro, neurologista e neurofisiologista do Hospital Santa Lúcia, também ressalta a importância do estudo para a compreensão de diversos males. “Um fator protetor para o Mal de Alzheimer, por exemplo, é a maior escolaridade. Um maior número de anos de estudo gera um maior número de conexões (sinapses).”

A brasileira fica intrigada, no entanto, com algumas das conclusões da pesquisa. “É curioso que o aumento de massa cinzenta tenha sido só na parte posterior do hipocampo, já que a anterior também está relacionada à memória e às funções espaciais. Esse crescimento pode ser porque o funcionamento da região em si foi mais exigido”, esmiúça.

GPS
Se o treinamento para se tornar taxista fez com que uma área específica do cérebro se desenvolvesse, o uso de aparelhos como o GPS, que fornece mapas e indicações para que as pessoas cheguem ao endereço desejado, poderia causar um efeito inverso? Sonia Brucki esclarece que não. “Talvez o indivíduo não vá desenvolver a área, mas manterá a estrutura que sempre teve. Não acredito que usar aparelhos desse tipo reduza a massa cinzenta no hipocampo”, explica.

Já Cláudio Carneiro adverte que o GPS, por servir de substituto da memória espacial, pode tornar o cérebro mais preguiçoso. “O treinamento contínuo e diário da memória geraria melhora constante dessa qualidade”, afirma. Com o dispositivo, o neurofisiologista comenta que essa boa memória não é mais necessária, por ter sido substituída pela tecnologia.

Paulo Gilvan, 36 anos, é motorista de táxi desde os 26 e trabalha sem o equipamento que ajuda na localização. “Algumas pessoas dizem que a maior vantagem dele é alertar onde tem radar, mas, para a segurança do meu passageiro, eu não vou acima da velocidade da via. Então, para mim, nem adianta”, afirma. Mineiro, Gilvan mudou-se para Brasília em 1992. “Fiquei no Exército por 9 anos, mas, como o emprego era temporário, juntei um dinheiro nesse período e comprei meu táxi em 2001. Como andava muito na viatura do exército, conheci todo o Distrito Federal”, descreve. Ele acha que a experiência é o que o torna um profissional de qualidade. “Aprendemos todos os dias, porque sempre surgem ruas novas”, acrescenta Paulo.

Seu colega de profissão Romero César, 40 anos, é outro que dispensa o GPS e prefere confiar na própria memória. “Às vezes, o equipamento indica um caminho que faz a corrida ser mais longa do que se você fosse pelo trajeto que conhece. Já usei e não gostei. Prefiro pegar um mapa, estudar o local e aprender”, diz. César ressalta que os endereços de Brasília são “branco no preto” e que a cidade “é a mais fácil do Brasil para dirigir”.

Estímulo
A plasticidade neuronal não ocorre apenas com relação à memória. Quando uma pessoa sofre um acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, há lesão em alguma parte do cérebro, com consequente sequela. A reabilitação com fisioterapia e fonoaudiologia serve para estimular essa capacidade do cérebro de estabelecer
conexões novas.

'' A parte mais complexa do nosso trabalho foi manter contato com todos os avaliados ao longo de todo o estudo. Tivemos a sorte de eles continuarem com a gente, o que nos deixou muito agradecidas''
Eleanor Maguire, principal autora do estudo

Fonte Correio braziliense

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