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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Especialistas explicam que o fetiche por determinadas situações é normal

Algumas pessoas acham natural, válido, saudável. Outras consideram doença ou desvio. O fato é que as parafilias, termo que define desejo sexual condicionado a atos, determinados tipos pessoas ou de situações, estão, a cada dia, conquistando mais espaço nas rodas de discussão.

Muitas vezes citadas como uma forma de “apimentar” a relação, em determinados casos, porém, as brincadeiras entre quatro paredes podem causar sofrimento tanto para quem é adepto quanto para o parceiro.
De acordo com o terapeuta sexual João Luiz Azevedo Borzino, a parafilia é um desvio de objeto, no qual o foco do desejo deixa de ser uma pessoa específica. Em vez do indivíduo, o que se torna atraente são vestimentas, situações inusitadas ou determinados tipos físicos. Aí, incluem-se fetiches como roupas de couro, algemas e práticas sadomasoquistas, entre outros. “Sem isso, o parafílico não tem tesão”, salienta.
Henrique Viviani, psicólogo e pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas do Instituto Paulista de Sexualidade (Gepips), lembra que variar o cardápio das preferências sexuais na busca pelo prazer não é algo novo. “Estamos falando da possibilidade de ter prazer sexual com outros objetivos que não a reprodução, ou diferentes daquelas mencionadas como ideologicamente corretas”, diz. Hoje, com maior liberdade sexual e mais meios para debater o assunto, como os fóruns na internet, o especialista acredita que o preconceito diminuiu, mas ressalta que a parafilia ainda é compreendida de diferentes modos.
“Socialmente, pode-se considerar alguns casos como problema, pois o fetiche foge das normas sociais”, diz. “Em outros casos, há os prejuízos morais e legais, como a pedofilia (sexo com crianças) ou a necrofilia (sexo com mortos). Contudo, pensando na possibilidade de variação de prazer, é possível entender que a parafilia só se tornará patológica quando isso causar sofrimento ou dano”, afirma.

O pesquisador ressalta, ainda, que, como qualquer obsessão, a prática torna-se uma psicopatologia quando é compulsiva, fazendo com que o indivíduo perca horas de trabalho, por exemplo, para se dedicar às manias sexuais. “Nos casos de obsessão, a parafilia pode ser considerada uma psicopatologia”, afirma. Nesses casos, ele recomenda ajuda especializada. O terapeuta sexual João Luiz Azevedo Borzino concorda. “É um mecanismo parecido ao do vício”, explica. Por isso, o tratamento indicado é semelhante aos prescritos nos casos de dependência química ou de jogo, por exemplo.

Segundo ele, o paciente vai ter que aprender a encontrar satisfação com outras formas mais comuns de atividade sexual. “Geralmente, ele só entende isso quando percebe que o prejuízo social é maior”, diz. Em casos como a pedofilia, Borzino explica que o tratamento consiste em fazer o paciente entender exatamente que seu comportamento é muito prejudicial a ele e à sociedade. “A partir disso, podemos ajudá-lo a aprender a ter prazer com situações sexuais normais”, conta. No entanto, não há cura para um problema sobre o qual também não se sabem as causas. “É como o alcoolismo. Depois de tratado, o indivíduo não deixa de ter parafilia, mas vai ser sempre um parafílico controlado”, diz.

ÉticaMas variar na hora do sexo, desde que sem caráter fixo e exclusivo, nem com prejuízo social, é absolutamente aceitável, pondera Henrique Viviani. “Para que isso seja possível, é necessário que o indivíduo seja sincero consigo e se adapte à condição”, explica. Ele lembra, ainda, que muitos praticantes estão incluindo em clubes e fóruns específicos questões sobre ética em suas discussões.

Carlos*, 32 anos, conta que as práticas sadomasoquistas surgiram em sua vida por meio da experiência com outros parceiros e, com o tempo, foram sendo incluídas nas relações sexuais. Mesmo gostando e se excitando com as brincadeiras, ele explica que não faz disso uma regra. “A vontade varia de acordo com o momento. O sadomasoquismo é só uma pimentinha para o sexo, algo que não se faz todo dia”, afirma. Para ele, esse tipo de prazer está relacionado a uma relação de entrega e cumplicidade, porque o casal precisa entender e respeitar os limites um do outro. “Muitas vezes, é uma válvula de escape. Geralmente, a pessoa que tem posição de comando na vida profissional ou familiar é a que precisa deixar o comando na mão do outro. No meu caso, acho que tem um pouco disso, porque gosto de ter o controle das situações no cotidiano. Então, na cama, prefiro um parceiro que mantenha o controle, que dê ordens, que seja meu mestre me diga como devo me comportar”, descreve.

Já Pedro, 20 anos, precisou passar por uma situação desagradável para conhecer os próprios limites. Ele conta que, desde os 12, quando iniciou a vida sexual, tem curiosidade sobre o sexo aliado à dor e à dominação ou submissão. “Parece mais uma coisa instintiva, natural; às vezes, até fora do controle”, revela. Pedro explica que, no caso dele, o prazer vem da mão pesada e da dor. Apesar de não ver a preferência sexual como uma doença, ele confessa que ficou traumatizado na última experiência, por ter fugido ao seu controle. “Na hora, não senti, mas fiquei com manchas roxas no rosto e no corpo, marcas de mordida e dores musculares. Foi um trabalhão esconder isso da minha mãe e inventar desculpas para os amigos. Isso me fez repensar os limites.”

(*) Nomes fictícios a pedido dos entrevistados

Grego
Parafilia é um termo de origem grega. A raiz para quer dizer “fora de”, e o sufixo filia significa “amor”. Ou seja, ao pé da letra, é uma forma de amar fora dos padrões considerados comuns.

Crime
A pedofilia é considerada crime, de acordo com a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, com penas que podem variar de reclusão de três até oito anos e multa. Inclui-se no conceito desde a utilização de imagens de crianças até o sexo com menores.

Fonte Correio Braziliense

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