Compramos a ideia de que somos como máquinas, infalíveis realizadores de tarefas. Mas esquecemos que até máquinas precisam recarregar as baterias. Fundamental como praticar exercícios físicos e ter uma alimentação balanceada, respeitar os limites do corpo é sinônimo de viver bem, e, sobretudo, evitar que o software acabe travando.
Para se ter uma ideia dos malefícios do excesso de trabalho, basta checar números como o do International Stress Management Association (Isma): no Brasil, 70% da população economicamente ativa sofre os males causados pelo excesso de estresse. E mais: destes, 30% são vítimas do burnout, termo em inglês usado para designar um nível devastador de estresse que leva à exaustão física e mental. Dores de cabeça ou musculares, gastrite, insônia, mudanças no apetite, tristeza e ansiedade excessivas, alterações nos batimentos cardíacos e na pressão arterial são alguns dos danos mais comuns.
Além do esgotamento físico, hoje sabe-se que privar do descanso também danifica a rede neuronal. Por meio de ressonância magnética funcional, pesquisadores da Universidade de Nova York observaram o cérebro de voluntários e perceberam que um período curto de ócio aumentou a capacidade de recordar imagens que haviam sido apresentadas anteriormente numa tarefa de memorização. O teste revelou que, enquanto os participantes descansavam, houve grande interação entre o hipocampo e o córtex cerebral, responsáveis pela consolidação de memórias.
— Normalmente, as pessoas esperam chegar num estado muito avançado de estresse para se dar conta que perderam o controle, por isso depende de cada um reconhecer que está sofrendo. Mas não é difícil chegar nesse ponto — alerta Grassi.
Quando se fala em descansar, uma das imagens que vem à mente é a do sono. Apesar de não ser sinônimo de relaxar (podemos aliviar a mente fazendo uma atividade prazerosa, praticando esportes, entre outros), não há dúvidas que dormir bem tem uma ação importante no equilíbrio químico do corpo, ajudando na recomposição das células. Para o médico especialista em sono, Denis Martinez, cerca de 80% da população sofre com algum tipo de distúrbio do sono.
— O descanso da noite repõe adenosina trifosfato (ATP), molécula que leva energia ao cérebro. Dormir 6h30min, chegando a no máximo 7h30min, é o ideal — afirma Martinez.
No escritório de engenharia Efenge, no bairro São João, Capital, funcionário estressado é coisa rara. Acostumado a surpreender a todos que lá põem os pés, o diretor Edson Luis Ghisleni Fontana criou um ambiente versátil, que valoriza tanto os momentos de fluxo de trabalho intenso quanto os de descanso.
Para criar um clima leve, o empresário não poupa esforços: proporciona ginástica laboral, ioga, mesa de sinuca e lanches coletivos para os mais de 20 funcionários administrativos. E mesmo com tantas oportunidades para desviar atenção, ele revela que é raro alguém abusar.
— Temos horários e metas a cumprir. Mas a equipe é tão integrada que se autorregula. Ou seja: quando alguém se excede, os outros chamam a atenção — orgulha-se.
Uma pausa para criar
Se imaginarmos o trabalho como um fardo, fazer o que apenas gostamos seria impossível. Mas e se o trabalho, o lazer e o estudo começassem a se misturar em nossas vidas de tal forma que não desse mais para diferenciar uma coisa da outra? Esta é a proposta de Domenico de Masi (foto), sociólogo italiano da Universidade La Sapienza, de Roma, e presidente da Escola de Especialização em Ciências Organizativas, a S3 Studium. Ele defende a ideia que é chegado o momento de cultivarmos o ócio criativo para uma nova era. Pode parecer uma utopia, mas, cada vez mais, as pessoas e empresas aderem aos seus conceitos e passam a ter vidas mais felizes e produtivas.
Segundo ele, o ócio criativo é uma arte que se aprende e se aperfeiçoa com o tempo e com o exercício. É necessário aprender que o trabalho não é tudo na vida e que existem outros grandes valores: o estudo para produzir saber; a diversão para produzir alegria, o sexo para produzir prazer e a família para produzir solidariedade.
De Masi defende que, no caso de trabalhadores intelectuais — aqueles que usam mais o cérebro do que o corpo, e que são maioria na sociedade pós-industrial —, as melhores sacadas podem brotar na hora em que não têm absolutamente nada a fazer, a não ser deixar a mente viajar. Mas não é preciso forçar esse estado de letargia. Ele vem naturalmente, quando a pessoa consegue relaxar, algo difícil na era do consumismo e da informação.
— Podemos gastar nosso tempo livre com atividades que não nos cansam ou alienam, mas que nos excitam. Os despertadores e burocratas são os maiores inimigos do ócio criativo — diz o autor, no seu best-seller O Ócio Criativo, afirmando que "só que as pessoas, consumidas pelo trabalho, não percebem como aproveitam mal seu tempo livre. Não lembram sequer que têm direito a ele."
— O cérebro funciona a partir de demandas, como uma máquina que precisa de combustível (que neste caso é oxigênio e glicose). Quando a máquina fica funcionando muito tempo, começa a consumir mais e mais combustível. O resultado é que o cérebro começará a roubar energia de outras partes do corpo — aponta o psiquiatra Rodrigo Grassi, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (Nepte), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Síndrome de Burnout
O segredo é manter a "máquina" sempre regulada e a química cerebral em dia, fugindo de sintomas indesejáveis que chegam junto o estresse e liberação de cortisol, como insônia, dores de cabeça, tonturas, irritabilidade, mudança de comportamento, entre outros. De acordo com Grassi, o sujeito que entra no estágio de estresse crônico, que geralmente vem depois de um longo período de cansaço, pode chegar a um colapso físico e mental, ao ponto de queimar neurônios e causando prejuízos cognitivos. É a chamada Síndrome de Burnout ou do esgotamento profissional.
— Normalmente, as pessoas esperam chegar num estado muito avançado de estresse para se dar conta que perderam o controle, por isso depende de cada um reconhecer que está sofrendo. Mas não é difícil chegar nesse ponto — alerta Grassi.
Quando se fala em descansar, uma das imagens que vem à mente é a do sono. Apesar de não ser sinônimo de relaxar (podemos aliviar a mente fazendo uma atividade prazerosa, praticando esportes, entre outros), não há dúvidas que dormir bem tem uma ação importante no equilíbrio químico do corpo, ajudando na recomposição das células. Para o médico especialista em sono, Denis Martinez, cerca de 80% da população sofre com algum tipo de distúrbio do sono.
— O descanso da noite repõe adenosina trifosfato (ATP), molécula que leva energia ao cérebro. Dormir 6h30min, chegando a no máximo 7h30min, é o ideal — afirma Martinez.
No escritório de engenharia Efenge, no bairro São João, Capital, funcionário estressado é coisa rara. Acostumado a surpreender a todos que lá põem os pés, o diretor Edson Luis Ghisleni Fontana criou um ambiente versátil, que valoriza tanto os momentos de fluxo de trabalho intenso quanto os de descanso.
Para criar um clima leve, o empresário não poupa esforços: proporciona ginástica laboral, ioga, mesa de sinuca e lanches coletivos para os mais de 20 funcionários administrativos. E mesmo com tantas oportunidades para desviar atenção, ele revela que é raro alguém abusar.
— Temos horários e metas a cumprir. Mas a equipe é tão integrada que se autorregula. Ou seja: quando alguém se excede, os outros chamam a atenção — orgulha-se.
Uma pausa para criar
Se imaginarmos o trabalho como um fardo, fazer o que apenas gostamos seria impossível. Mas e se o trabalho, o lazer e o estudo começassem a se misturar em nossas vidas de tal forma que não desse mais para diferenciar uma coisa da outra? Esta é a proposta de Domenico de Masi (foto), sociólogo italiano da Universidade La Sapienza, de Roma, e presidente da Escola de Especialização em Ciências Organizativas, a S3 Studium. Ele defende a ideia que é chegado o momento de cultivarmos o ócio criativo para uma nova era. Pode parecer uma utopia, mas, cada vez mais, as pessoas e empresas aderem aos seus conceitos e passam a ter vidas mais felizes e produtivas.
Segundo ele, o ócio criativo é uma arte que se aprende e se aperfeiçoa com o tempo e com o exercício. É necessário aprender que o trabalho não é tudo na vida e que existem outros grandes valores: o estudo para produzir saber; a diversão para produzir alegria, o sexo para produzir prazer e a família para produzir solidariedade.
De Masi defende que, no caso de trabalhadores intelectuais — aqueles que usam mais o cérebro do que o corpo, e que são maioria na sociedade pós-industrial —, as melhores sacadas podem brotar na hora em que não têm absolutamente nada a fazer, a não ser deixar a mente viajar. Mas não é preciso forçar esse estado de letargia. Ele vem naturalmente, quando a pessoa consegue relaxar, algo difícil na era do consumismo e da informação.
— Podemos gastar nosso tempo livre com atividades que não nos cansam ou alienam, mas que nos excitam. Os despertadores e burocratas são os maiores inimigos do ócio criativo — diz o autor, no seu best-seller O Ócio Criativo, afirmando que "só que as pessoas, consumidas pelo trabalho, não percebem como aproveitam mal seu tempo livre. Não lembram sequer que têm direito a ele."
Fonte Zero Hora
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