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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Pílula de manga é a nova promessa para emagrecimento rápido

Emagrecer chupando manga parece ser a promessa mais bizarra do ano que se inicia. Mas tem tudo para se tornar a nova moda em dieta - inclusive, certo aval científico.

A manga em questão não é aquela que, nessa época do ano, você encontra em qualquer esquina. Conhecida como manga africana (nome científico: Irvingia gabonensis), a fruta nativa da África ainda não está sendo plantada em outros continentes.

O que não é problema para a indústria do emagrecimento, sempre pronta a oferecer um novo produto para dieta na forma mais prática de consumo, as pílulas.

São elas que estão sendo anunciadas na internet. Na rede, as pílulas são oferecidas por farmácias de manipulação ou revendedores de produtos estrangeiros feitos com o extrato da semente da manga africana. Na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), não há registro de produto composto pela Irvingia gabonensis.

ESTUDOS
Os sites que vendem o suplemento anunciam emagrecimento fácil, rápido e seguro. As promessas são baseadas em estudos feitos em universidades africanas, alguns deles publicados em jornais científicos internacionais.

Uma das pesquisas mais recentes, publicada no jornal "Lipids in Health and Disease", é um estudo com 102 pessoas, com grupo de controle (metade dos participantes tomaram placebo, para comparar os resultados com o grupo que tomou o extrato da manga) e duplo-cego (nem os participantes nem os pesquisadores sabiam quem estava tomando a pílula "de verdade").

Segundo os pesquisadores, após dez semanas, o grupo que tomou 150 mg diárias de extrato de manga africana finalizou o estudo mais leve, com a cintura mais fina e com melhores índices de colesterol e glicose no sangue.

Os coordenadores do trabalho, professores das universidades de Iaundé (capital da República de Camarões), escrevem no artigo que os dois grupos de participantes iniciaram a pesquisa com as mesmas medidas corporais.

Ao final do estudo, a média de peso dos que tomaram o suplemento caiu para 85 kg, contra 95 kg do grupo controle; eles também saíram com 13 cm a menos de cintura, em média.

Também foi observada queda nos níveis de colesterol e glicose no sangue: enquanto o grupo que tomou placebo diminuiu em 1,9% os níveis de colesterol e em 5,3% os de glicose, os que tomaram a pílula com princípio ativo tiveram redução de 26% no colesterol total e de 22% na glicose.

Muito bom para ser verdade? Pode ser. Um estudo com cem pessoas é pequeno e, embora existam mais uns 20 trabalhos semelhantes publicados, todos foram feitos com poucos participantes. E como também são de curta duração, é difícil prever os efeitos colaterais a longo prazo.

No estudo da República de Camarões (país que produz a tal manga em abundância), as reações adversas observadas foram dor de cabeça, dificuldade para dormir e flatulência.

MILAGRE?
Para a nutricionista Daniela Jobst, de São Paulo, uma das explicações possíveis para a ação do suplemento é o fato de ele fornecer uma grande quantidade de fibras.

"Fibras aumentam a sensação de saciedade, o que ajuda a comer menos, e reduzem a absorção de gorduras e açúcar. Mas isso acontece com qualquer fibra alimentar, é só adicionar os ingredientes certos no dia a dia, não é preciso suplemento."

O problema, para Jobst, é a promessa de milagre. Apostar todas as fichas em uma pílula não ajuda na reeducação alimentar de ninguém e, para emagrecer de forma consistente e duradoura, ainda não inventaram nada melhor do que mudar hábitos alimentares.

A nutricionista afirma que ainda não há comprovação científica suficiente para afirmar que o extrato de manga africana é tudo isso. E lembra que, nessa seara de suplementos para emagrecer vendidos pela internet, o controle de qualidade não é muito eficaz.

SEM REGISTRO
Segundo a área técnica da Anvisa, não há produto registrado na categoria de alimentos que seja composto pela espécie vegetal Irvingia gabonensis (manga africana).

A agência esclarece que, como não há histórico de consumo dessa espécie no Brasil, nada garante que seja seguro. "É necessário que esse produto seja avaliado quanto à sua segurança de consumo previamente a sua comercialização, conforme dispõe as Resoluções 16 e 17/999", informa a Anvisa.

Fonte Folhaonline

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