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segunda-feira, 26 de março de 2012

Essa planta é boa para quê?

Medicamentos fitoterápicos e plantas medicinais podem ser uma opção mais natural para cuidar da saúde, mas também exigem cuidados

Gengibre é bom para diminuir o enjoo, maracujá ou valeriana para acalmar os nervos e guaco para aliviar a tosse. Esses conselhos poderiam muito bem vir de qualquer avó ou tia que se preze com um bom conhecimento de plantas e muita sabedoria popular.

Mas as mesmas recomendações hoje também podem ser feitas por médicos ou outros profissionais de saúde que, sabendo das propriedades curativas já comprovadas dessas plantas, fazem questão de sugerir aos pacientes tratamentos utilizando medicamentos mais naturais.

A médica Carolina Schmidt regularmente prescreve fitoterápicos para seus pacientes em Curitiba e Videira, sejam eles de convênios, particulares ou do SUS.

“Acho importante dar essa alternativa para o paciente. Em vez de um remédio alopático mais forte, às vezes prefiro tentar um fitoterápico, que é um pouco mais suave e pode trazer o benefício que ele está procurando”, diz.

O fitoterápico que ela mais receita é a passiflora, recomendada em casos de ansiedade, um recurso que ela vê como boa alternativa a medicações mais fortes, do tipo tarja preta.

Desde os tempos mais remotos, a humanidade faz uso de plantas no tratamento das enfermidades. Esse conhecimento, quase tão antigo quanto a espécie humana, é de domínio público e passado de geração a geração. Se uma planta reunir a tradição de muitos anos de uso como remédio, provando-se capaz de prevenir, aliviar ou curar doenças em uma população, ela é considerada medicinal.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% da população de países em desenvolvimento utiliza práticas de medicina tradicional (alternativa ou complementar) na atenção primária à saúde e, desse total, 85% faz uso de plantas medicinais. No Brasil, pelo tamanho e pela diversidade biológica do País, há diferenças regionais no uso das plantas.

“As plantas do cerrado são mais usadas no Centro-Oeste, as amazônicas na região Norte, as europeias ainda são mais empregadas nas cidades, pela facilidade de serem encontradas em farmácias e supermercados. Já as plantas nativas são mais conhecidas em zonas rurais”, diz Marcelo Rigotti, professor da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul – ele trabalha com plantas medicinais há 18 anos.

Apesar dos benefícios, é preciso ficar alerta: o fato de plantas ou fitoterápicos serem produtos naturais, não quer dizer que não possam fazer mal à saúde. Para usar as plantas com segurança, é preciso ter as informações necessárias sobre o uso, a origem e como prepará-las corretamente.

Rigotti afirma que os principais problemas são a forma incorreta de preparo – isso pode causar a perda do princípio ativo – e a dificuldade de identificação da planta. Ele cita o exemplo da erva-cidreira, cujo nome popular muda de região para região, e que pode ser usado para plantas diferentes, como o capim-cidreira (Cymbopogon citratus), a erva-cidreira (Lippia alba) ou a melissa (Melissa officinalis).

Com dois livros publicados sobre o assunto, o professor Edvaldo Rodrigues de Almeida, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) é bastante crítico quanto ao uso de plantas com fins medicinais. Ele enfatiza que é perigoso usá-las de forma indiscriminada e chama a atenção para o problema da dosagem.

“Ninguém sabe a dose terapêutica. Quem determinou que são cinco folhas da erva-cidreira e não duas, ou dez? Para se determinar a dose terapêutica há que se fazer estudos”, defende o pesquisador.

Do quintal para o laboratório
As plantas medicinais, de acordo com a legislação brasileira, podem ser comercializadas em farmácias e herbanários. Quando a planta é processada de forma industrial para se obter um medicamento, ela se torna um fitoterápico. O processo de industrialização evita contaminações por microorganismos, agrotóxicos e substâncias estranhas, além de padronizar a quantidade e a forma de utilização, permitindo maior segurança no uso.

Os fitoterápicos têm seu princípio ativo derivado de uma droga vegetal, seja ela extrato, tintura, óleo, cera ou suco, originado exclusivamente de matérias-primas vegetais.

Apenas laboratórios farmacêuticos podem produzir fitoterápicos, e todos devem ser registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de serem vendidos à população.

No Brasil, os fitoterápicos são regulamentados como medicamentos convencionais e passam por um processo de avaliação similar, sendo registrados apenas quando cumprem as exigências dos quesitos de controle de qualidade, segurança e eficácia comprovada.

Segundo a Anvisa, as farmácias de manipulação também podem preparar fitoterápicos, mas apenas se eles estiverem prescritos em uma receita médica ou se a fórmula constar na Farmacopeia Brasileira ou no Formulário Nacional. Hoje no Brasil, há mais de 400 fitoterápicos registrados, derivados de mais de 60 plantas medicinais diferentes, sendo 10 delas, nativas daqui.

O que diz a lei
Seguindo a estratégia global da OMS de estimular a inserção da medicina tradicional e complementar em políticas públicas, desde 2007 o SUS fornece alguns medicamentos fitoterápicos, considerados seguros e eficazes, aprovados pela ANVISA. Em 2008 uma portaria assinada pelo Ministério da Saúde e outros nove ministérios instituiu o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), ampliando a lista de fitoterápicos oferecidos pelo SUS, com produtos definidos por um comitê específico.

Apesar dos incentivos e dos cuidados, a opinião dos especialistas na área não é unânime. Crítico, Almeida diz que existem apenas estudos experimentais de fitoterápicos e não há nenhum que contemple as quatro fases exigidas nos estudos clínicos de medicamentos alopáticos. Almeida salienta que os componentes terapêuticos dos extratos das plantas vêm acompanhados de várias outras substâncias que não se sabe o que podem causar. E mais: o uso prolongado, a dose incorreta, ou as duas coisas juntas podem fazer mal aos pacientes.

Já o professor Rigotti considera que a própria legislação brasileira é muito burocrática, dificultando a pesquisa dos efeitos das plantas nos seres humanos, que é a parte final dos trabalhos de pesquisa.

“A utilização das plantas medicinais sempre foi e sempre será uma forma de cura na nossa sociedade. O mais correto seria incentivar a comunidade a utilizar um determinado grupo de plantas por meio da educação e da capacitação para o cultivo, além da implantação de projetos como as Farmácias Verdes que têm sido adotadas por vários municípios", sugere o especialista.

A própria OMS admite as dificuldades para avaliar segurança, eficácia e qualidade dos produtos derivados das plantas medicinais, já que isso depende da qualidade da matéria-prima, que pode incluir centenas de substâncias naturais, e também de como o material é tratado durante os processos de produção.

Nada impede alguém de buscar folhas que tem no quintal e fazer um chá para aliviar um sintoma, mas com a fantástica diversidade vegetal e cultural do Brasil, a regulamentação e os incentivos à pesquisa podem abrir muitos caminhos neste vasto território para que a população faça uso desses recursos naturais sempre com mais eficácia e segurança.

Fonte iG

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