As edições de ZH trouxeram artigos sobre a saúde de Porto Alegre, primeiro da candidata Manoela, depois do atual Secretário da Saúde, do Governo Fortunati.
Representando as duas principais candidaturas, ao menos nas pesquisas recentes, apresentaram-se os artigos sob a forma de ataque e contra-ataque, de maneira educada e republicana, discutindo, aqui e ali, algumas questões importantes, mas, tangenciando, de forma lamentável, o essencial.
Ambas as candidaturas — uma delas governando desde a última eleição — recusaram-se a abordar o principal, que até crianças pequenas conhecem. Ou seja, o drama maior da saúde porto-alegrense é a falta de leitos, que coloca mais do que o triplo — recorde recente do Hospital de Clínicas — de pessoas em relação aos leitos existentes nas unidades de emergência.
Em se tratando de propostas de governo, em plataformas de candidatos, essa ausência é profundamente chocante, mostrando que essas autoridades, empossadas ou pretendendo sê-lo, ignoram, não reconhecem, isolam essa necessidade maior do povo desta Cidade.
Choca ainda mais essa absoluta insensibilidade, quando se vê o fato estampado na mesma ZH, os grandes projetos em andamento nesta Capital, metrô, avenidas, novas opções de transporte coletivo e etc. Algum hospital público? Zero.
Pus-me a pensar que o diagnóstico dos candidatos difere do meu, e do de quase todas as entidades de saúde, dos professores das universidades, dos profissionais de saúde em geral, em especial os das linhas de frente, e também da opinião pública, que, também em pesquisa recente colocou a saúde como a sua maior preocupação. Isso, bem entendido, está centrado na situação das emergências e na extrema dificuldade pela obtenção de vagas em hospitais do SUS.
Mas, apesar da repetição, vamos lembrar que os leitos cadastrados pelo SUS-RS em hospitais gerais de Porto Alegre eram 4155 em 2005, e são 3329 em 2012, de 2,96 para 2,36 leitos por mil habitantes, nesse curto período, em que todas as medidas de "gestão" foram prometidas, e em que nenhum hospital foi sequer projetado ou prometido.
Pois bem, eleitores, devemos perguntar de novo aos candidatos: não são necessários novos leitos nesta Cidade? Vão continuar as protelações, com vinte leitos previstos aqui, mais trinta e cinco ali - e nem estes saem do palavrório das promessas? Existe, então, uma firme decisão política de não investir nada em leitos, com a promessa de medidas que, se bem sucedidas, trariam resultados daqui a dez, quinze anos?
Ninguém, entre os que vão governar, acredita, por suas análises, na necessidade de um investimento sério, um hospital geral em Porto Alegre, público, com cerca de quinhentos leitos, centrado no atendimento de média complexidade (a verdadeira causa da superlotação dos grandes hospitais da Capital), desafogando os estabelecimentos terciários e permitindo que esses se reorganizem para as suas verdadeiras vocações, os casos de alta complexidade.
Uma construção assim custaria bem menos que os investimentos da Copa, e muitas vezes menos do que determinadas isenções tributárias, mas quem é que se preocupa com isso? Os candidatos, já se vê, não. Um deles será o Prefeito, porque nossos votos não enxergam essas terríveis omissões, e porque continuamos a ser enganados, como quando trocávamos por espelhinhos o poderoso pau-brasil.
Fonte Zero Hora
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